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sexta-feira, 4 de julho de 2014

Recordar Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)



Decorridos 10 anos da morte da escritora Sophia de Mello Breyner Andresen os seus restos mortais foram transladados para o Panteâo Nacional. Não vi a cerimónia. Não gosto de comemorações fúnebres e penso que os discursos circunstanciais políticos não combinam bem com a poesia. 



A obra de Sophia pode não estar no programa escolar. Porém, os seus livros são dos mais requisitados, pelo menos enquanto trabalhei numa das bibliotecas do agrupamento, onde sou professora. Lembro ainda o autógrafo que a minha amiga Violeta Figueiredo deixou aos alunos, quando visitou a escola a meu convite:






De todos os textos de prosa, aquele que mais me fascinou desde criança foi a Noite de Natal. Não é por acaso que a minha filha se chama Joana…










A Joana de Noite de Natal de Maria Keil  




















A minha filha Joana (Ankara, 1991)






É com especial orgulho que possuo a primeira edição do livro, agora encadernado. Todos os anos pelo Natal sai da prateleira e vem para junto das decorações para ser lido ou folheado, juntamente com outros, que merecem a sua companhia (como o Cavaleiro da Dinamarca).



Quem escreve assim:

A Forma Justa

Sei que seria possível construir o mundo justo
As cidades poderiam ser claras e lavadas
Pelo canto dos espaços e das fontes
O céu o mar e a terra estão prontos
A saciar a nossa fome do terrestre
A terra onde estamos – se ninguém atraiçoasse – proporia
Cada dia a cada um a liberdade e o reino
Na concha na flor no homem e no fruto
Se nada adoecer a própria forma é justa
E no todo se integra como palavra em verso
Sei que seria possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo

Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo


Trata-se de certeza absoluta de uma grande poetisa.
Li toda a prosa poética de Sophia aos meus filhos, que gostaram muito. Não é difícil perceber a Sophia. Evidência, agora muito realçada. A beleza única das suas obras está na forma como utiliza palavras simples para transmitir ideias complexas, como se nota no belo poema Forma Justa. Gostaria de fazer o mesmo aos meus netos para ficarem a conhecer a grande escritora SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN. Todavia, não lhes vou mostrar o Panteão. Quero uma Sophia viva. 



Quadrado

Deixai-me com a sombra
Pensada na parede
Deixai-me com a luz
Medida no meu ombro
Em frente do quadrado
Nocturno da janela



Poemas:
Sophia de Mello Breyner Andresen. Obra Poética. Caminho, 1996.


As Casas

As Flores



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