segunda-feira, 7 de maio de 2012

Exposição Fernando Pessoa - Plural como o Universo

Dedicada a Fernando Pessoa e aos seus heterónimos, esta exposição foi uma colaboração entre a Fundação Roberto Marinho e o Museu da Língua Portuguesa de São Paulo (Brasil), com o apoio da Fundação Gulbenkian.

Esteve aberta ao público de 10 de fevereiro a 6 de maio em Lisboa, na Fundação Calouste Gulbenkian.






Agora, seguindo a exposição:


A primeira sala “ EU SOU MUITOS” é dedicada a Fernando Pessoa e aos seus heterónimos. “Tive sempre, desde criança, a necessidade de aumentar o mundo com personalidades fictícias, sonhos meus rigorosamente construídos, visionados com clareza fotográfica, compreendidos por dentro das suas almas".
FERNANDO PESSOA em 1935, descreveu-se como segue…

Nome Completo : Fernando António Nogueira Pessoa.

Idade e naturalidade: nasceu em Lisboa, freguesia dos Mártires, no prédio 4 do largo de S. Carlos (hoje do Diretório) em 13 de junho de 1888.

Filiação: filho legítimo de Joaquim de Seabra Pessoa e D. Maria Madalena Pinheiro Nogueira. […]

Profissão: a designação mais própria será “tradutor”, a mais exata a de “correspondente estrangeiro em casas comerciais”. O ser poeta e escritor não constitui profissão mas vocação. […]

Educação: em virtude de, falecido seu pai em 1893, sua mãe ter casado, em 1895, em segundas núpcias, com o comandante João Miguel Rosa, cônsul de Portugal em Durban […], foi ali educado.

Dizem que finjo ou minto

Tudo que escrevo. Não.

Eu simplesmente sinto

Com a imaginação.

Não uso o coração.



Tudo que sonho ou passo,

O que me falha ou finda,

É como que um terraço

Sobre outra cousa ainda.

Essa cousa é que é linda.




Por isso escrevo em meio

Do que não está ao pé,

Livre do meu enleio,

Sério do que não é.

Sentir? Sinta quem lê.



( “Isto”, 28-2-1929)



ÁLVARO DE CAMPOS nasceu em 15 de outubro de 1890, em Tavira, no Algarve, terra da família do pai de Pessoa. Segundo conta o poeta este heterónimo teve “uma educação vulgar de Liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias fez a viagem ao Oriente, de onde resultou o “Opiário”. Agora está em Lisboa em inatividade."

Pode ser que para outro mundo eu possa levar o que sonhei

Mas poderei eu levar para outro mundo o que me esqueci de sonhar?

1928


A minha pátria é onde não estou

“Opiário”, 1914


RICARDO REIS , nascido no Porto, em 19 de setembro de 1887, estudou num colégio de jesuítas, onde aprendeu latim, e formou-se em medicina. Estudou grego por conta própria. Em carta a um amigo, Pessoa informa que Reis “vive no Brasil desde 1919, pois se expatriou espontaneamente por ser monárquico, na sequência da derrota da rebelião monárquica do Porto contra o regime republicano”

Segue o teu destino,

Rega as tuas plantas,

Ama as tuas rosas,

O resto é sombra

De árvores alheias.



A realidade

Sempre é mais ou menos

Do que nós queremos.

Só nós somos sempre

Iguais a nós próprios.



BERNARDO SOARES, na definição de Fernando Pessoa, era um “semi-heterónimo”. Comparando-se a ele, o autor afirma: “não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e a afetividade.

Se imagino, vejo. Que mais faço se eu viajo?

Só a fraqueza extrema da imaginação justifica que se tenha que deslocar para sentir.



ALBERTO CAEIRO foi venerado como mestre pelos outros heterónimos e até pelo seu criador, Fernando Pessoa. Nasceu em Lisboa, em 16 de abril de 1889, mas passou a vida no campo, como “guardador de rebanhos”. O seu rebanho, esclareceu num poema, eram os seus pensamentos, e seus pensamentos eram sensações. Pouco instruído queria ver as coisas como as coisas são, sem filosofia.

Quando vier a primavera,

Se eu já estiver morto,

As flores florirão da mesma maneira

E as árvores não serão menos verdes

Que na primavera passada.

A realidade não precisa de mim.


Além dos heterónimos, Fernando Pessoa criou ao longo da vida dezenas de personalidades literárias. Entre elas:

Charles Robert Anon, poeta e prosador de língua inglesa.

Alexander Search, poeta, contista e ensaísta de língua inglesa.

Joaquim Moura Costa, poeta satírico e militante republicano.

Vicente Guedes, poeta, contista e jornalista.

António Mora, filósofo, sociólogo e teórico do neopaganismo.

Raphael Baldaya, astrólogo e filósofo.

Barão de Teive, prosador suicida.

Maria José, autora de uma carta apaixonada.

Gaudêncio Nabos, jornalista e humorista.



Na entrada para a sala seguinte o retrato mais famoso de Fernando Pessoa de Almada Negreiros (1893-1970), que faz parte da coleção da Fundação Calouste Gulbenkian e um painel cronológico de Pessoa.


Podíamos ainda admirar pintura de Amadeo de Sousa- Cardoso (1887-1918) e Eduardo Viana (1881-1967) numa zona dedicada aos modernistas portugueses.
Amadeo de Sousa-Cardoso

Eduardo Viana


Motivo de grande interesse constituía a mostra de originais manuscritos, blocos de notas, o fac-simile da obra Mensagem digitalizada e ainda a própria arca onde Fernando Pessoa guardava os seus trabalhos.





Lisboa, 7 de maio de 2012


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