quarta-feira, 26 de maio de 2021

Da Poesia de Barco Negro a uma Tragédia...

Uma amiga disse-me que estava a preparar para a escola um trabalho, que consistia em escolher um texto de qualquer tipo e com essa informação construir outro completamente diferente. Achei engraçado e também fiz esse exercício....do poema Barco Negro de David Mourão Ferreira, cantado por Amália Rodrigues, criei uma notícia de jornal...


Barco negro 

De manhã, que medo, que me achasses feia

Acordei, tremendo, deitada na areia

Mas logo os teus olhos disseram que não

E o sol penetrou no meu coração

 

Vi depois, numa rocha, uma cruz

E o teu barco negro dançava na luz

Vi teu braço acenando, entre as velas já soltas

Dizem as velhas da praia, que não voltas

 

São loucas

São loucas

 

Eu sei, meu amor

Que nem chegaste a partir

Pois tudo, em meu redor

Me diz que estás sempre comigo

 

No vento que lança areia nos vidros

Na água que canta, no fogo mortiço

No calor do leito, nos bancos vazios

Dentro do meu peito, estás sempre comigo.

               

David Mourão-Ferreira

 

Pescadores resgatados na Madeira

 

Foi localizada pela polícia marítima a embarcação com os cinco pescadores do “Barco Negro”, que saíra de Câmara de Lobos na passada 3ª feira e que tinha desaparecido no mar.

Depois do alerta de que a embarcação não estabelecia qualquer comunicação com o armador, há três dias, foi desencadeada sexta-feira uma operação de busca e salvamento, envolvendo meios da Marinha de Guerra. As buscas foram coordenadas pelo capitão David Ferreira, o qual, reconhecendo que a situação estivera bastante feia, afirmou que os pescadores já desembarcaram e encontram-se bem, descansando um pouco ao sol, já aliviados da aflição que passaram.

Mestre Mourão, o responsável pela embarcação, que “anda há 35 anos no mar” contou que faziam a pesca do espada preto a 12 milhas do Porto Moniz, na zona norte da ilha da Madeira, quando foram surpreendidos por uma grande trovoada, que fazia com que o barco dançasse à luz dos relâmpagos e “ondas de 5 metros que batiam como loucas" e numa delas o barco "foi ao fundo". Sobreviveram numa velha balsa, até serem resgatados este sábado.

O “Barco Negro” era uma homenagem ao fado de Amália Rodrigues, que um dos pescadores afirmou estar sempre “no meu peito, no meu coração”. Mencionou ainda que "não deu tempo para nada", nem para utilizar os meios de socorro, apenas para "lançar a balsa", que até caiu "ao contrário" no mar, mas o “poeta”, nome como é conhecido um dos pescadores, saltou valente para o mar e conseguiu voltá-la.

A importância socioeconómica da pesca do peixe espado preto é muito grande, representando mais de 50% das capturas piscatórias da Região. Os pescadores estão preocupados com os meios de sobrevivência. Além do “Barco Negro” perderam o palangre, um instrumento essencial para este tipo de arte de pesca à linha de grande profundidade.

O mestre da embarcação criticou ainda o facto da balsa não estar devidamente apetrechada com água, mantimentos e elementos de localização suficientes, mas elogiou a equipa de salvamento.

Na vila de Câmara de Lobos a população veio à praia receber os pescadores como heróis e vibraram, quando viram os seus braços acenando.  Gerou-se uma onda de solidariedade para ajudar os pescadores, enquanto não voltam ao mar.

 

 Nota: Para visualizar o vídeo, no seu telemóvel, tem de usar a opção Ver Versão Web


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