terça-feira, 14 de setembro de 2021

Na Ucrânia...


 De 14 a 19 de Setembro 2021

Kiev 

Com as suas largas avenidas, edifícios robustos e maciços, Kiev, quando se chega, mostra o seu passado soviético. Essa impressão resulta sobretudo do facto de ter sido vítima de terrível destruição durante a Segunda Guerra Mundial e reconstruída segundo padrões, que pouco ou nada devem ter respeitado a traça antiga. Assim, as Igrejas no cimo de colinas e os respectivos patrimónios constituem, hoje em dia, a evocação de tempos medievais, quando foi fundada uma localidade nas margens do rio Dniepre. Daí assumir particular significado a lenda que o Apóstolo Santo André cravou uma cruz num dos seus montes, declarando ir ali nascer uma cidade. 



Catedral de Santa Sofia

A Catedral de Santa Sofia, recordando a antiga Hagia Sofia de Constantinopla em Istambul, onde se fundou a primeira escola e biblioteca da cidade, constituiu ao longo de séculos um centro de aprendizagem e cultura. Também foi o principal centro político, adjacente ao Palácio Real e local de coroações e outros ceremoniais. Ali se assinavam tratados e importantes dignatários estrangeiros eram recebidos.


Construída no século XI pelo príncipe Yaroslav, em celebração da sua vitória contra tribos inimigas e dessa maneira protegendo Kiev de ser destruída. Já se comemoraram os 1000 anos da sua existência.


Estátua do príncipe Yaroslav com a maquete da Catedral nas mãos, junto às antigas muralhas da cidade, Zoloti Varota, reconstruídas em 1982.




As cúpulas douradas e a torre sineira, assim como a cantina do mosteiro, uma padaria, a Casa Metropolita (Arcebispo), os portões ocidentais, uma estalagem e um seminário foram todos construídos no século XVIII em estilo barroco.







No interior são notáveis alguns mosaicos e frescos originais do século XI como o da familia do principe Yaroslav e a Virgem a orar.







Depois da Revolução russa de 1917 e as campanhas anti-religosas que se seguiram, a Catedral chegou a ser ameaçada de destruição, mas conseguiu ser salva, destino feliz que não teve o Mosteiro de S. Miguel, destruído em 1935.

A Catedral é um dos símbolos da cidade e o primeiro monumento ucraniano a ser inscrito no Património Mundial da Humanidade da UNESCO, assim como o Mosteiro de Pecherska Lavra.



Mosteiro de S. Miguel das Cúpulas Douradas

O original do século XII, em honra do Arcanjo S. Miguel, santo padroeiro de Kiev,  foi destruído pelos soviéticos. Esta cópia concluiu-se em 2001 e a sua história fascinante está explicada no museu, na torre sineira .




Também é recente a reconstrução na praça, onde está a estátua da Santa Olga (casada com o governante da Rússia de Kiev Igor I, contribuiu de forma decisiva para implantar o cristianismo naquela região da Europa), do Apóstolo André e os Santos Cirilo e Métodio.









O Ministério dos Negócios Estrangeiros foi construído pelos soviéticos onde se encontrava uma igreja destruída por Estaline em 1934.



Igreja de S. André

O rico interior da igreja de S. André


 

O Mosteiro de Pecherska Lavra ou das Cavernas de Kiev

É o mosteiro mais antigo da Ucrânia e um dos lugares santos da religião ortodoxa.

Lavra é um mosteiro de monges e Pecherska significa “cavernas”. Foi criado em 1051 quando o cristianismo ortodoxo foi adotado pela Rússia de Kiev (uma confederação de tribos eslavas do Leste Europeu dos séculos IX ao XII, que reivindicavam a Rússia de Kiev como referência ancestral  e cultural. Em meados do século XI, estendia-se do mar Báltico no norte ao mar Negro).


Os fundadores S.Teodósio e Santo António retiraram-se para aquele local ermo, bastante afastado da cidade no século XI. Ali como eremitas viviam em cavernas e ganharam fama de santidade. Com o tempo outros se lhe juntaram, adotando o mesmo estilo de vida, criando, aos poucos, um complexo de corredores e salas subterrâneas, onde rezavam, estudavam e viviam. Ao morrer os seus corpos eram depositados em partes dessas catacumbas e alguns ficaram intactos, sem serem embalsamados, razão pela qual os crentes ainda hoje em dia acham que se tratam de santos - desses 118 monges, 33 estão intactos e 14 parcialmente. 



O número de monges, com o tempo, aumentou muito e o mosteiro prosperou ainda mais já fora das catacumbas, com a construção da catedral da Assunção, no século XI, a segunda igreja de Kiev inspirada pela arte bizantina.

Museu Nacional de Arte. Ao centro icone do século XIV  dos monges fundadores do mosteiro: S. António e S. Teodósio e outros santos



Estes três castanheiros, com mais de 200 anos, têm testemunhado a história conturbada do mosteiro, o qual não escapou aos conflitos que percorreram o território ucraniano, em especial a hecatombe da Segunda Guerra Mundial. 




Até a pequena igreja de S. Nicolau junto ao rio, de 1863, dedicada aos marinheiros tem o seu encanto.



Ficámos instalados no hotel "Ucrânia", antigo "Moscovo", inaugurado em 1961 e situado numa das mais conhecidas praças de Kiev e sem dúvida um icone do passado soviético.


Vista da Praça Maydan Nezalezhnosti do quarto no 7º andar

A praça, centro de encontro de jovens, sobretudo à noite para ouvirem música muito alta, assistiu aos protestos pela independência, à Revoluçao Laranja de 2004 e à Revolução do Euromaidan de 2013-14, quando esta se transformou numa guerrilha urbana e houve mortos. Quando o meu filho e nora visitaram Kiev, em 2014, e ficaram no mesmo hotel ainda se notava o cheiro de pneus queimados...





Andámos muito a pé para conhecermos tudo o que estava nos planos e eu ia decifrando algumas palavras em cirílico, tentando recordar as aulas de russo, que tive em Bucareste.



As mais difíceis..."restaurante" todos sabemos... O meu marido já dizia "aquele péctopá parece bom"...







Apesar da herança soviética tão patente ao longo das avenidas mais amplas, encontramos sinais de outro passado, não só nas igrejas, mas também em prédios que foram construídos nos finais do século XIX e princípios século XX, semelhantes a outros da Europa Ocidental.


O Palácio Mariyinsky é a residência oficial do presidente da Ucrânia











Bessarabsky Rynok, mercado onde se pode provar e comprar caviar.





Perto ficava a estátua de Lenin, que foi destruída pelos manifestantes durante a Revolução do Maydan, segundo placard informativo na Praça da Independência.









Rodina Mat- monumento à Mãe Pátria foi o último monumento soviético inaugurado em 1981 por Brezhnev, 10 anos antes da independência da Ucrânia. 







Estátua de Mikhail Bulgákov, escritor e dramaturgo russo de origem ucraniana



Em geral comemos muito bem, desde o buffet do pequeno almoço no hotel até os almoços e jantares fora. Fiz as "pazes" com a sopa Borsch, que tinha detestado em S. Petersburgo. O que notámos foi que a sofisticação não fazia parte do menu. Pedíamos a entrada e o prato principal e traziam os dois ao mesmo tempo.


LVIV

 
A chegada a Lviv não foi a mais agradável. Resolvemos prescindir do serviço de táxis com reserva num site, confirmados por email e WA e o motorista só falava ucraniano. Levou-nos por uma parte velha e suja e o meu marido e eu olhávamos um para o outro sem percebermos porque nos tínhamos aventurado nesta viagem até Lviv, a 1.30h de avião de Kiev, praticamente o mesmo tempo que levámos de Viena à Ucrânia.
Quando chegámos ao centro histórico, pequeno, mudámos de opinião. Está bem arranjado e é interessante, completamente diferente da capital, com as suas ruas estreitas e calcetadas.
O problema que se seguiu foi um forte temporal, que nos obrigou a voltar ao hotel mais cedo e completamente encharcados.. No dia seguinte a chuva continuava e foi dessa forma, que visitámos a cidade.
Gostei muito do Museu de Arte. Tal como em Kiev vimos ícones belíssimos. Passámos por uma galeria de arte, onde estava a decorrer uma vernissage e foram muito simpáticos. Comprei uma Nossa Senhora, que decidi chamar Nossa Senhora da Alegria e está já pendurada cá em casa.
Antes, quando fazíamos uma visita rápida os meus filhos gozavam-nos e diziam "mas compraram o porta-chaves...?". Agora já não, mas t-shirts continuo a comprar...


Fotos de Lviv:








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