quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Visita à Embaixada de França em Lisboa


A Embaixada de França está instalada no Palácio de Santos, na zona de Santos em Lisboa. A Freguesia tem essa denominação devido a três irmãos mártires.

Na apresentação que fez, o guia do Patrimonium recuou até às origens da cidade de Lisboa, mais precisamente ao século IV, quando três irmãos cristãos: Veríssimo, Máxima e Júlia, perseguidos pelo imperador romano Diocleciano, foram martirizados e atirados ao Tejo. Os seus despojos foram encontrados junto às margens do rio e as suas  relíquias  foram depois veneradas em segredo numa capela. Depois da conquista da cidade aos mouros, D. Afonso Henriques mandou erguer uma igreja, precisamente no local, onde se encontra hoje o palácio e fundou um convento. O seu filho D. Sancho I legou-o à Ordem de Santiago, passando a ser  habitado pelas viúvas e filhas dos cavaleiros. Em 1490,  mudam-se para o novo mosteiro de Santos-o-Novo, levando as relíquias dos três santos.

No século XVI, em 1501, D. Manuel mandou edificar no mesmo local o Paço Real de Santos, onde o monarca e mais tarde o seu neto D. Sebastião passaram algumas temporadas.

Iluminura de Simon de Bening  com o palácio de Santos no inicio do século XVI.
A propriedade tinha uma grande orangerie que vinha até ao rio

A mesa de D. Sebastião

Daí a lenda segundo a qual a pequena mesa de pedra que pode ainda ser vista no jardim, frente ao rio, foi onde o D. Sebastião tomou, em Junho de 1578, a última refeição antes da partida para Alcácer Quibir.

No século XVII, os Lencastre adquirem o palácio que se encontrava muito arruinado, em resultado da explosão dos armazéns de pólvora e à entrada do exército de Filipe I. O período que se estende da segunda metade do século XVII à primeira metade do século XVIII, corresponde à época de maior esplendor da casa.

Dois anos após o Terramoto de 1755, fizeram-se obras para recuperar os danos causados pelo mesmo, que foram naquela zona menos devastadores em comparação com o centro de Lisboa.

No século XIX, o palácio foi ocupado pelas tropas francesas, em 1808. Junot instalou-se em Santos antes de se mudar para o Palácio do Conde de Farrobo, no Chiado. Ainda durante esse século residiu no palácio a imperatriz do Brasil (a segunda mulher, viúva, de D. Pedro IV), voltando também a ser residência dos marqueses de Abrantes.

Já no século XX, em 1909, o palácio foi adquirido pelo governo francês, onde foi instalada a Embaixada de França.

Logo à entrada, na sala de espera, gostei muito do pavimento de pedra original do século XVI. Vi umas cadeiras bonitas, muito parecidas com as nossas D. Maria, mas eram império, com os cisnes bem ao gosto de Joséphine (A Sissi também gostava muito de cisnes), que não enganavam....

A Sala de Jantar não é muito grande.

Uma tapeçaria de Portalegre de Vieira da Silva  e um bonito tecto pintado por Pedro Alexandrino.





O oratório ficou intacto durante o terramoto, assim como a sacristia. Todas as pinturas são de Marcos da Cruz. O chão é original do Paço Real de D. Manuel. No altar em talha dourada as armas das famílias Lencastre e Vilhena. Havia uma cruz em marfim, que foi retirada quando o palácio foi vendido. Esteve desaparecida, mas foi descoberta no Museu dos Biscainhos em Braga.
Em seguida visitámos o Grande Salão com vista para o Tejo. No tecto uma pintura de Pedro Alexandrino, inspirado nas Metamorfoses de Ovídeo e uma grande tapeçaria celebrando a entrada de Luís XIV em Dunquerque.




A Sala das Porcelanas ou Sala de Chá é muito conhecida pelos seus 264 pratos do século XVI no tecto. Há também um friso de azulejos de Delft.  Como que por milagre também ficou intacta com o terramoto. 

Antes da casa ser vendida também havia pratos nas paredes, os quais foram retirados e estão dispersos por diversos museus.          






Nesta grande sala há um enorme tapete de Arraiolos, feito numa só peça. Todos os tapetes são portugueses, de Arraiolos, mas com desenhos franceses. As pinturas do tecto são de Pedro Alexandrino, as quatro estações. Nas paredes frescos mais recentes, que me fizeram lembrar o chalet Biester em Sintra.


Saímos para o jardim, que tem uma parte a ser restaurada.

Uma escada em mármore com uma estátua de Hermes, o deus dos diplomatas, separa a zona social dos aposentos privados.


Outra sala de espera, esta com mobiliário português e um tapete de Seteais.


 
As armas dos Lencastre no tecto da mesma sala.




Boa visita durante esta manhã. E Lisboa parecia que estava na Primavera com 20ºC.










Helder Carita. Le Palais de Santos. Chandeigne.2007

Nota: Com exceção das fotografias do jardim, todas as outras foram retiradas da net

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