quinta-feira, 11 de abril de 2024

Museu da Cerâmica de Sacavém

 Lembram-se da loiça de Sacavém?

Quando vivia na Madeira, até 1976, a loiça de todos os dias era de Sacavém, o chamado cavalinho azul e branco. Esta marca secular fez parte do quotidiano de muitas famílias. Não é raro que em muitas casas ainda se conservem peças com a marca "Sacavém".


Nas duas taças com rosas, o motivo não está identificado.
O motivo Estátua ou Cavalinho tinha diversas cores: azul, rosa, verde e castanho... 


Motivo Chorão



Estas peças  têm a marca 11 (houve 15 marcas na história da faiança de Sacavém, que vão do ano da sua fundação-1850 a 1990).






A loiça de Sacavém foi muito influenciada pelos motivos ingleses. Este prato inglês é Royal Wessex, mas nota-se a semelhança ao "Chorão" da loiça de Sacavém.
A Fábrica de Loiça de Sacavém nasceu portuguesa. O seu fundador foi Manuel Joaquim Afonso, mas, ainda no século XIX,  pertenceu a três famílias inglesas: William John Howorth, que comprou a fábrica em 1862; Hannah Maria Ellicott e Sarah Scholfield; e James Gilman.

Em 1867, em Londres num relatório sobre manufaturas e comércio, apresentado na Câmara dos Comuns, referiu-se que Portugal já produzia imitações muito boas da cerâmica inglesa na Fábrica de Sacavém.


Este foi o único serviço de Sacavém que comprei. Já vivia em Lisboa e gostava muito de admirar a montra de uma loja de loiça na Av de Roma... Têm a última marca da fábrica.

O livro editado pela Câmara Municipal de Loures: Sacavém, a outra loiça (2019) escolheu  uma bonita Natureza Morta (1932) de Carlos Reis com baixela de Sacavém para a capa.



Hoje fui ao Museu da Cerâmica de Sacavém. Fica num edificio moderno inaugurado em 2000 no local da antiga fábrica e, em grande parte dos seus terrenos, que tiveram grande extensão, construiu-se uma urbanização com um ar muito acolhedor, rodeada de árvores.


O museu tem dois andares de exposição e ergue-se ao redor do grande forno com cerca de seis metros de diâmetro e doze de altura, construído na década de 40 do século passado. Este tipo de fornos foi muito comum em Inglaterra, desde o século XVIII até 1960, na zona de Staffordshire.
Funcionavam a lenha ou a carvão. O carvão para a fábrica de Loiça de Sacavém era adquirido em Glasgow, por ser mais barato do que em Portugal e era transportado por barco até ao cais do Trancão. O forneiro vestia-se com calças e uma saca  de sarapilheira molhada previamente e colocada nas costas para não sentir tanto o calor, quando entrava no forno, que demorava cerca de uma semana a cozer.

A Fábrica de Loiça de Sacavém produzia simultaneamente loiça de mesa, peças decorativas, loiça sanitária e hospitalar, assim como azulejos e mosaicos.








Azulejos retirados da sede do Diário de Lisboa com a figura do ardina e do jornal Sempre Fixe.


Aguarelas da Fábrica de Sacavém de 1932.

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