A Fundação Renato Albuquerque (FRA) abriu ao público em fevereiro passado e expõe uma belíssima coleção de porcelana chinesa das dinastias Ming (1368-1644) e Qing (1644-1911). São mais de 2600 peças. Algumas abrangem épocas anteriores e também se incluem produções de outras regiões do mundo. Uma parte pode ser vista na primeira exposição da Fundação situada no Linhó, Sintra: Connections.
O Buda Sorridente é uma terrina
fotografia da Revista do Expresso
O seu fundador é um engenheiro brasileiro de 97 anos, que reuniu esta coleção ao longo de 60 anos. Trata-se de um dos maiores colecionadores privados de porcelana chinesa, daqueles períodos. A ideia da criação da fundação partiu da sua neta Mariana Teixeira de Carvalho, que é cofundadora e presidente do Conselho de Administração da FRA.
Há muitos anos que o engenheiro Renato Albuquerque mantém relações de trabalho em Portugal: participou nos empreendimento da Quinta Patiño, Quinta da Beloura, no Linhó, Quinta dos Alcoutins no Lumiar e também na construção de alguns prédios no Porto. Adquiriu, há anos, a Quinta de São João no Linhó, como residência de verão da família.
A casa do século XVIII e o jardim bem cuidado com árvores frondosas, foram recentemente adaptados ao espaço museológico da fundação com a construção de um belo pavilhão para a exposição das peças. Na moradia, perto da loja da fundação, da biblioteca e do café, há uma pequena capela com uma bonita imagem de Nossa Senhora e, antes, na entrada, um quadro de Carlos Reis.
No Brasil, onde se formou como engenheiro em S. Paulo, o Engº Renato Albuquerque trabalhou na construção de pontes sobretudo no sul do país, onde moravam descendentes de alemães e começou a reparar na porcelana de Meissen, que muitos tinham em casa. Quando tinha 25 anos começou a colecionar peças de Meissen. Só em 1972, quando veio em passeio à Europa, teve o primeiro contacto com a porcelana chinesa.
Dinastia Qing. 1775. Terrina decorada com a estátua equestre de D. José I no Terreiro do Paço
Esta terrina foi provavelmente levada para o Brasil por D. João VI, durante as invasões francesas.
Como a maioria das peças da coleção remontam a uma época em que Portugal era uma grande potência marítima e foi o primeiro país a ter uma relação comercial direta por mar com a China, decidiu que a Fundação deveria ser implantada em Portugal. Ainda bem e, pessoalmente, estou muito grata por isso
As técnicas da porcelana azul e branca foram dominadas na China no século XIV, mas só 400 anos mais tarde na Europa.
Cisternas
Terrina pouco habitual em forma de cão
Pote com desenho de cavalos, símbolo de velocidade, poder, firmeza e perseverança
Patos Século XIX
Na cultura chinesa o veado está associado à longevidade
Terrina em forma de peixe. Século XVIII
O dragão representava o Imperador
Estas criaturas lendárias com cabeça de leão e patas de urso e os seus chifres aparecem ao lado dos sábios e virtuosos
Influência ocidental: Santo António e Menino Jesus séc XVIII
Porta Pincéis século XVI
Jarros para cerimónias budistas tibetanas
Prato provavelmente encomendado por D. Carlos
Referência:
A Revista do Expresso de 23 MAIO 2025 com a entrevista a Renato Albuquerque por Ana Soromenho (texto) e Nuno Botelho (fotos)