domingo, 20 de janeiro de 2013

Tormes e Eça de Queirós






A Quinta e casa de Vila Nova, em Santa Cruz do Douro, couberam como herança a Emília de Castro, mulher de Eça de Queirós, após o falecimento da sogra do escritor, em 1890.




Ficam na bela serra da Aboreira, debruçada sobre o rio Douro, podendo dali admirar-se uma linda vista dos montes e vales da região. Em 1892, Eça visitou a propriedade pela primeira vez.




A visita ou a peregrinação regional queirosiana devem começar pela estação de caminho-de-ferro de Caldas de Aregos, hoje em dia denominada Tormes-Aregos.


A estação em dezembro 2012



 Eça de Queirós era ali esperado pelo caseiro e começou a subir, a cavalo, o caminho íngreme da serra, que conduzia à quinta.






Quando lá chegou, ficou desiludido com a moradia. Estava abandonada e era usada como celeiro. 





Escreveu então à mulher, a qual estava em Paris onde Eça era cônsul: 







“Enquanto a casa é feia, muito feia; e à fachada mesmo pode-se aplicar, sem injustiça, a designação de hedionda.




Tem  um arco enorme; e por baixo dele, duas escadas paralelas, que são de um mau gosto incomparável" (Matos, 14)




Jardim da casa em agosto 2011




Ao chegar, esfomeado, foi-lhe servido arroz de favas com frango alourado, provavelmente na mesa retangular, que pode ser apreciada no vestíbulo da entrada.





 Aliás, era bem escasso o mobiliário: 




                       um arcaz de sacristia, 






uma cadeira de couro de espaldar alto, conhecida por “cadeira de Jacinto”, também colocadas, hoje em dia, no átrio da porta principal. 








Existe ainda dos tempos dessa primeira visita de Eça de Queiroz uma mesa redonda de abas na sala-biblioteca.










Em 1898, Eça visitou novamente a propriedade, cujo estado de conservação era o mesmo e convenceu-se da sua inabitabilidade. Dormiu no único quarto com vidraças, hoje a sala da Cabaia de Mandarim, oferta do conde de Arnoso.








 











A casa de Tormes, nome literário do solar de Jacinto no romance “A Cidade e as Serras” acabou por nunca ser utilizada para passar férias com a família (Eça morreu em Paris em 16 de agosto de 1900), mas abriga parte do mobiliário da sua residência de Paris: a secretária onde escrevia de pé, a cama, a mobília da casa de jantar e muitos objetos de uso pessoal. 



Eça utilizava as namoradeiras para escrever






                                      Fogão na cozinha





Podem ainda admirar-se quadros fantásticos como “Aurora”, oferecido pelo próprio pintor Carlos Reis (1863-1940) ao escritor, em 1892, “Mulher da Rega” da autoria da rainha D. Amélia, “Monte Alentejano” do próprio Rei D. Carlos e o retrato do seu avô paterno, de autor desconhecido.
Retrato do avô de Eça






Além da paisagem deslumbrante que se alcança da propriedade, a visita guiada à Fundação Eça de Queiroz na Casa de Vila Nova, permite um percurso próximo e nostálgico com a figura e a memória de um dos maiores e mais lidos escritores portugueses.



Eça na Casa do Silvério, da fundação Eça de Queirós

Sintra no tempo de Eça de Queirós


Referências:
Matos, A. Campos. A Casa de Tormes. Livros Horizonte, 2006


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