quarta-feira, 19 de junho de 2019

Fim de semana em Atenas




Atenas estava incluída no nosso périplo pelos países da UE, apesar de já termos visitado  Rodes e Samos, há alguns anos.

Reconheço que a leitura da biografia de Sophia de Mello Breyner Andresen acelerou esta visita e até ficamos no mesmo hotel da poeta, quando visitou a Grécia nos anos 60, pouco depois da sua inauguração.


Como chegámos a meio da tarde  de sexta-feira, resolvemos ficar pela zona, onde está o hotel, Paleo Faliro, a "riviera ateniense". É uma zona agradável junto ao mar Jónio com uma avenida marginal larga com três faixas de rodagem para cada lado, separadas por muitas árvores. Hoje em dia deve estar bastante diferente com muito mais movimento de carros, que se ouvem no próprio quarto...não foi de certeza aqui que a nossa Poetisa arranjou inspiração, até porque a pequena praia em frente ao hotel é de cascalho e dificil de andar para se contemplar o horizonte azul, com conforto.














Mesmo assim ainda fomos nadar, antes de irmos jantar ao  porto de Pireus, o porto de Atenas desde os tempos antigos, sendo igualmente ponto de ligação de Atenas com as ilhas gregas (Kantharos para barcos de cruzeiro; Zea, a marina e Mikrolimano, para barcos de pesca e restaurantes de peixe fresco). Ficámos neste último, mais pequeno. Logo que o táxi nos deixou começou o "assédio" para irmos a este ou aquele restaurante...fiquei surpreendida por ver a maioria dos restaurantes vazios. Às 21.30h, quando saimos do nosso éramos os únicos clientes... não admira pelo mau atendimento. A empregada estava ao fundo a "brincar" com o telemóvel e nem perguntou se queriamos sobremesa (cheguei a pensar em complot com a minha filha para não comermos doces)...



                                                                               

Gostei de ver na rua vasos com grandes manjericos.








 Atenas


No sábado acordámos cedo, com despertador, para tomarmos o pequeno almoço às 7h e estarmos na bilheteira da Acróple ao abrir, às 8h, pois o calor e a multidão tornam árduas visitas mais tarde.  Cismei ficar até ao anoitecer para ver a acrópole iluminada.

Comprámos logo um bilhete combinado, que custa 30 Euros e dá acesso aos principais monumentos arqueológicos, excluindo os museus.

Esta visita pela Grécia Antiga, fez-me recordar as aulas que dei num colégio no Funchal, quando terminei o liceu e fazia o serviço cívico. Cheguei mesmo a ponderar tirar o curso de História.

A arquitetura clássica tem como princípios a racionalidade, a ordem, a beleza e a geometria. Um traço marcante da arquitetura grega é o uso de colunas: ordens dórica, jónica e coríntia, o que convém recordar antes da nossa visita...

A ordem dórica é a mais antiga das existentes na arte grega. apresenta um equilíbrio de proporções e uma elegância formal.

A coluna não tem base e apresenta estrias verticais denominadas caneluras.
O capitel é formado pelo équino, ou coxim, que se assemelha a uma almofada e por um elemento quadrangular, o ábaco.


Colunas dóricas do Partenon




A ordem Jónica já possuía maiores dimensões com colunas com capitéis, frisos e frontões mais trabalhados, transmitindo monumentalidade. Caracteriza-se pela criação de um elemento novo entre o coxim e o ábaco, projetados para os lados, as volutas.








A ordem Coríntia é a evolução estilizada da ordem jónica. O capitel apresenta uma decoração exuberante com folhas de acanto.

Apesar da origem grega, a ordem Coríntia foi raramente utilizada na arquitetura grega, sendo mais utilizada na arquitetura romana



A acrópole



Começámos a nossa exploração ... O nome “acrópole” designava as partes altas das cidades gregas na Antiguidade e a de Atenas era a mais famosa, daí o ser conhecida simplesmente por "a acrópole". Contém alguns dos monumentos mais conhecidos da época clássica da Grécia: o Partenon, o Erecteion, o Templo de Atena Nique e o Propileu. 




O Partenon era o templo dedicado à deusa grega Atena, construído no século V a.c. por iniciativa de Péricles. O seu nome refere-se ao culto de Atena Partenos associado ao templo da deusa virgem, sendo especialmente usado em louvor de Artemis, a deusa dos animais selvagens, da caça e vegetação e para Atena, a deusa da estratégia e da tática, artesanato, artes e da razão prática.






Erecteion foi construído em honra de um lendário herói ateniense chamado Erecteu. É considerado o mais belo monumento em estilo jónico. Foi construído entre 421 e 406 a.C., por Mnesicles e consagrado a Atena e a Posídon. O pórtico sul é famoso pelas suas Cariátides (figuras femininas esculpidas servindo como um suporte de arquitetura como coluna ou pilar de sustentação com um entablamento na cabeça).


O Templo de Atena Nique era um templo dedicado à deusa grega Atena. "Nique" (niké) significa vitória em grego antigo. Era adorada pelos atenienses, em especial durante a longa guerra contra a cidade-estado rival (Esparta) na esperança de que ela os ajudasse a alcançar a vitória, o que não aconteceu...
















Propileu era a grandiosa entrada para a Acrópole. No mundo moderno foi copiado em diversas cidades da Europa ocidental, sobretudo da Alemanha: o exemplo mais conhecido é a Porta de Brandenburgo.

Do alto da sua colina também ficamos com uma vista ampla de Atenas de hoje em dia. A vista de cima é mais interessante do que andar por algumas ruas lá em baixo,  cheias de graffitis, que detesto.











Depois de visitarmos a Acrópole, descemos a colina e visitámos mais monumentos da Antiga Grécia, com acesso incluído no bilhete de entrada, válido por cinco dias:




O Odeão de Herodes Ático era um teatro construído por Tibério Claudio Herodes Ático em memória da sua mulher. Era uma estrutura coberta, e podia receber até 6 mil espectadores. Hoje em dia acolhe diversos eventos gregos (como foi o o show de despedida dos palcos da prestigiada cantora grega Nana Moskouri, em 2008) e internacionais (Frank Sinatra, Sting, Elton John, Diana Ross, Liza Minnelli, Patti Smith, Andrea Bocelli e o Ballet Bolshoi também atuaram aqui).




O Teatro de Dionísio era dedicado a Dionísio, deus do vinho e do teatro. Foi o maior teatro construído pelos antigos gregos, com uma capacidade de 17.000 espectadores. Ali apresentaram-se as célebres tragédias clássicas de Ésquilo, Sófocles e Eurípedes.



Como o Museu da Acrópole situa-se perto,  continuámos aí, logo de seguida, a nossa descoberta da Atenas antiga. A entrada custa 10 Euros. Trata-se de uma visita indispensável, assim como o Museu Arqueológico, que visitámos no dia seguinte. Atendendo às imagens da Antiguidade, que ao longo dos anos vamos criando, estes museus são comparáveis ao Museu do Cairo, dedicado ao Antigo Egito.





Na Acrópole, o escultor Fídias criara uma estátua de Atena em marfim e ouro e a altura alcançava 13 metros. A obra era tão famosa, que foi copiada por muitos artistas. Apesar do original se ter perdido, ficámos com uma ideia como deveria ter sido através de cópias, que chegaram aos dias de hoje, como esta de mármore.




























De seguida continuámos a nossa exploração ...


Porta de Adriano, um impressionante arco de mármore de 18 metros de altura.














Templo de Zeus Olímpico foi um grandioso templo construído entre os séculos VI e II a.c. em homenagem ao deus Zeus Olímpico. Tinha 104 colunas coríntias de 15 metros, das quais só se conservam 15.










Seguimos a pé por uma avenida que termina na Praça Sintagma,  uma das mais populares da cidade.


Aí está o Parlamento grego, um imponente edifício que foi construído, entre 1836 e 1842, como palácio para Oto, primeiro rei da Grécia.


É possível assistir à peculiar troca da guarda que se celebra a cada hora, sendo a mais importante no domingo, às 10 da manhã. E lá também se encontra o Hotel Grande Bretagne, um luxuoso edifício construído em 1842, que funciona como hotel, desde 1874.

Perto, fui a uma rua especializada em prata e jóias, (rua Lekka) e vi coisas bonitas. O atendimento, pela primeira vez desde a chegada, foi bom.




Continuámos em direção à Praça Monastiraki ...



O seu nome deriva do pequeno mosteiro do século X.
Perto havia outro mosteiro, aberto, do século XI, mas a vigilante aos gritos, em grego, com uns turistas, fez-nos sair rapidamente.



É uma das zonas mais vivas e comerciais da cidade, conhecida pelo mercado de rua. Nesta altura, já andava a arrastar os pés...comprei umas sandálias feitas à mão, à venda em todas as lojas. Pareciam confortáveis mas no final da rua voltei a trocar  (não gosto de sandálias para andar a pé e a sensação de ter os pés sujos).



Como nesta época do ano os monumentos fecham mais tarde, ainda continuamos a visita que estava programada para o dia seguinte (à espera do anoitecer, que é tarde)


Biblioteca de Adriano era um impressionante edifício criado para abrigar a extensa coleção de livros que o imperador Adriano possuía. Funcionava também como sala de leitura e centro de convenções.












A Ágora Antiga de Atenas era o centro da vida social, política e comercial da cidade na antiguidade.
O conhecido busto de Heródoto, o criador da História,  na  Stoa de Átalo, 











Torre dos Ventos, utilizado como relógio público solar e hidráulico na Ágora Romana, construída pelo imperador Augusto e ampliada pelo imperador Adriano. 
No seu auge, a Ágora ocupava uma área retangular de 100 metros quadrados, na qual se desenvolviam as múltiplas actividades comerciais, o mercado central e as latrinas públicas. 







(Kerameikos é o bairro de Atenas onde se situavam as oficinas dos ceramistas. Atualmente é a maior necrópole de toda a Grécia. Não visitei, porque não gosto de visitar cemitérios e porque a maioria dos achados está no museu, mas a sua visita estava incluida no bilhete).

 

Li que Anafiotika era uma zona encantadora de Atenas, com pequenas casas brancas e azuis na ladeira da Acrópole, formando ruas empinadas. As casas foram construídas em meados do século XIX por pedreiros especializados, que o rei Oton contratara para a construção do seu palácio. Os pedreiros começaram a sentir falta das suas raízes e decidiram construir um pequeno povoado como o da sua ilha natal: Anafi. Acho que não vale a pena a visita. Estava à espera de casinhas como em Bodrum, mas saiu algo completamente diferente...




Felizmente, no caminho, encontrámos uma galeria de arte e um quadro, de um pintor grego, que gostámos muito, feito numa data anterior ao nosso casamento..

Estava a anoitecer. Vimos a acrópole iluminada e depois foi a tarefa de discutir com os taxistas o preço do regresso ao hotel. São muito renitentes a usar o taximetro e o preço vai baixando... detesto saber que estou a ser enganada. Parecia que estavamos no Panamá...

No domingo, o programa foi mais leve: visitámos os excelentes museus Arqueológico (entrada 10 Euros) e Bizantino ( 8 Euros).


Asclépio, o deus da medicina ...


... no Museu Arqueológico de Atenas




Ícone do século XV de S. Theodore, no Museu Bizantino. Comprámos o livro que um dia será do nosso neto Theo.






Na segunda feira fomos de manhã a uma praia na carrinha do hotel. Chamava-se Zen Beach, simpática, mas de Zen tinha pouco... só talvez quando começou a chover torrencialmente...

Foi um fim de semana prolongado bem aproveitado. Na segunda-feira, dia 17, celebra-se o Pentecostes ortodoxo (50 dias depois da Páscoa), a descida do Espírito Santo. Na Roménia chama-se Rusalii. Também era feriado na Grécia.


E lembrando Sophia.....


Foi no mar que aprendi o gosto da forma bela
Ao olhar sem fim o sucessivo
Inchar e desabar da vaga
A bela curva luzidia do seu dorso
O longo espraiar das mãos de espuma

Por isso nos museus da Grécia antiga
Olhando estátuas frisos e colunas
Sempre me aclaro mais leve e mais viva
E respiro melhor como na praia

 Sophia de Mello Breyner Andresen, O Búzio de Cós



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