quarta-feira, 12 de junho de 2024

Em Samarcanda

 



"E agora passeia o teu olhar por Samarcanda! Não é a rainha da Terra? Altiva, acima de todas as cidades, e com os seus destinos nas suas mãos?"

Edgar Allan Poe (1809-1849)


Tamerlão e Outros Poemas foi o primeiro trabalho de Poe, publicado em 1827. Hoje em dia pensa-se que só existem 12 cópias desta edição de autor,  o qual pagou a impressão de 50 exemplares a Calvin F. S. Thomas. Curioso o facto de ter sido publicado anonimamente com o crédito da obra atribuído a 'um Bostoniano'.

O poema segue a vida do conquistador turco-mongol do século XIV e fundador da dinastia Timúrida, Tamerlão (Timur, o coxo), que deixou a sua amada para alcançar o poder e fez de Samarcanda a sua capital. 


Samarcanda é talvez a maior atração turística do Uzbequistão e um importante centro de comércio.  Fundada nos séculos VIII ou VII A.C foi conquistada por Alexandre, o Grande em 329 A.C. Prosperou graças à sua localização, em vale fértil irrigado e por se situar na lendária Rota da Seda, no caminho entre a China e o Mediterrâneo e houve épocas que foi considerada a maior cidade da Ásia Central.

 
Desde o início do nosso passeio, reparámos que a cidade tem muitas árvores e jardins, apesar do clima ser bastante seco e quente nesta época do ano.

Chegámos a Samarcanda num comboio rápido e moderno. São cerca de 2 h da capital. Na estação conhecemos a nossa guia e o motorista, que nos levaram a explorar a cidade. O carro é novo e confortavel e será o que irá fazer o percurso durante o resto da viagem. Só a guia é que muda - uma diferente para cada cidade. 


Primeiro deixámos as malas no hotel, que fica numa zona da cidade desenvolvida no século XIX por governadores russos. 
 Hotel Grand Samarkand Superior
 
Em 1888, George Curzon, o futuro vice-rei da Ìndia considerou esta praça a mais nobre no mundo, afirmando " não conheço nada no leste que se aproxime  da sua massiva simplicidade  e grandiosidade; e nada na Europa que possa sequer aspirar em competir com a Registan" Justin Marozzi. Tamerlane, Sword of Islam, Conquer of the World" pag  156.



A Praça Registan fica no coração da cidade antiga e ganhou fama por lá se encontrar o conjunto de três edificios bem preservados, cada um com a sua decoração especifica e que definem a arquitetura do país e graça aos quais Samarcanda foi incluida na Lista de Património Mundial da Humanidade, em 2001. São as madrassas Ulugh Beg (1420), uma homenagem ao neto de Tamerlão, o maior edificio cientifico da época, onde se aprendia filosofia, matemática, astronomia e teologia; Sher-Dor, construída 200 anos mais tarde do que a primeira, é conhecida pelos leões que decoram a fachada. No centro do arco vê-se uma suástica, que significava fertilidade e abundância e Tilla Kori (1660), cujo nome deriva da decoração dourada da fachada, foi construída no local do caravanserai.




Ulugh Beg e os seus discípulos

 Madrassa Sher-Dor

Madrassa Tila Kori







No pátio das madrassas vendem-se artigos tradicionais. Gostei muito da exposição de cerâmicas de diversas regiões e das jóias. Interessante o fascínio pelo coral, obviamente importado. Bonita pulseira com 150 anos, feita por encomenda. 


A Mesquita de Bibi Khanum é um dos edifícios mais importantes de Samarcanda. Construída em honra da mulher favorita de Tamerlão, o qual ambicionava uma enorme mesquita que superasse todas as outras  e para que Samarcanda não ficasse apenas conhecida pelo comércio. Contudo, antes de estar pronta começou a dar sinais de problemas na sua estrutura. No século XX encontrava-se em ruinas, mas  foi restaurada em grande parte durante o periodo soviético. Diz a lenda que o arquiteto apaixonou-se pela mulher de Tamerlão e para completar a obra exigiu que ela o deixasse beijá-la. Quando Tamerlão soube mandou-o matar e as mulheres passaram a usar um véu para os homens não se sentirem tentados. 



O Siyob Bazaar está localizado ao lado da Mesquita Bibi-Khanum e é o maior de Samarcanda. Não ficámos muito tempo, porque em Tasquente já tínhamos visitado o Chorsu, ainda maior. 


 

O Observatório de Ulugh Beg, do século XV é o primeiro construído em Samarcanda, com um sextante de 30 metros, edificado pelo próprio sultão  e destruido após a sua morte. 



44 degraus...que valem muito a pena subir...




Azulejos persas do século XIV (Tabriz, última foto) 


A necrópole de Shakhi Zinda é um misterioso complexo de 11 mausoléus  dos séculos XIV e XV. É o local onde estão sepultados membros da realeza e nobres, mas também o túmulo imaginário do primo do profeta Maomé,  Kusam ibn Abbas, que viveu em Samarcanda.

A porta da mesquita é original do século XV, 







O Mausoléu de Tamerlão, também chamado Mausoléu do Emir (Gur-Emir) do século XV  é um majestoso complexo com uma madrassa, um albergue de dervixes (khanaka) e o túmulo de Tamerlão e seus descendentes.




Mural do século VII na Sala dos Embaixadores


A minha prima contente, porque a guia conseguiu arranjar-lhe as Quadras de Omar Kayyam: Robaiyat (só em russo e único exemplar) no Museu Afrasiab, localizado no local histórico de Afrasiyab. É considerado um dos maiores sítios arqueológicos do mundo  na antiga cidade que foi destruída pelos mongóis no início do século XIII.



Àrvore do pistácio com 600 anos e o fruto de uma 
árvore recente junto ao túmulo de Daniel. 

O Túmulo do Profeta Daniel, venerado por cristãos, judeus e muçulmanos, embora longe das outras atrações de Samarcanda  recebe muitos peregrinos.





Na aldeia Koni Ghil aprendemos como se faz papel de seda de maneira tradicional a partir da amoreira, uma árvore originária da Ásia. Passeámos junto ao canal que existe há 2000 anos. 



A árvore da vida em papel de seda


Restaurante muito agradável onde jantámos na segunda noite


Samarcanda, 11 a 13 de junho



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