quarta-feira, 15 de março de 2023

Em Siena


Gravura de Gianni Raffaelli

Partimos de Bolonha e tivemos de mudar de comboio em Florença para apanhar um regional, que parava em muitas estações. Todos os comboios partiram à hora prevista e eram confortáveis, embora os intercidades sejam melhores, mais rápidos e com melhor ligação de internet.
Não percebo porque nunca tínhamos ido antes a Siena, pois conhecíamos já Florença, Arezzo e Assis, cidades relativamente perto. Deve ter sido por uma questão de tempo, pois viajámos sempre com os dias bem contados e aproveitando feriados e fins de semana.

Seja como for, Siena vale imenso a pena. Outrora cidade rival de Florença tem muito a oferecer e é uma injustiça ser por vezes referida como parente mais pobre, que não é.

Apanhámos um táxi na estação até ao hotel. No centro histórico todos os pontos de interesse ficam perto, ora descendo ora subindo, mas a estação, na cidade nova, é longe: sobe-se e depois desce-se, ziguezagueando por ruas estreitas como um autêntico labirinto.



Lembramo-nos logo do meu filho, que planeia alugar um carro para viajar um pouco pela Toscânia com a família. O melhor é deixar o carro em baixo, junto à estação e apanhar um táxi, pois, embora sejam experientes no uso dos novos dispositivos, com aquelas ruas estreitas e de sentido único e falta de lugar de estacionamento, não há mapa que nos valha....é preciso ser-se um sianês experiente.



Deixámos as malas no hotel e fomos logo explorar o centro histórico, começando pela Catedral (Duomo). Depois do marco monumental romano de Verona, do requinte bizantino de Ravena, das belas arcadas em Bolonha ligando a tradição medieval e a Renascença, como que se mergulha na Idade Média em Siena. Foi essa a sensação que tivemos ao andar naquelas ruas estreitas apinhadas de casas, palácios e Igrejas da cor da terra, situados numa montanha que domina altaneira as planícies lá em baixo. O recepcionista esclareceu-nos, logo à chegada, que o edifício do pequeno hotel era do século XIII. 






Na bilheteira comprámos imediatamente um bilhete combinado para a Catedral, o Batistério e o Museu da Catedral. 


O interior da Catedral é emocionante. O meu marido só dizia: isto é esmagador.

Em 1226, há referência nos livros de registo da Comuna de Siena do pagamento de transporte de mármore branco e negro usado na contrução da fachada da catedral e da torre sineira (esta última terminada em 1264).
Eu só imaginava o impacto da construção de tão extraordinária Igreja numa população maioritariamente analfabeta e do livro de Ken Follett Os Pilares da Terra.
A Catedral tem muitas obras fantásticas desde o chão de mármore, às pinturas nas diferentes capelas, a estatuária com obras de Donatelo, Miguel Àngelo, Bernini...um prazer comovente estar perante tanta beleza...












Dentro da catedral não perder a biblioteca Piccolomini. A construção é do século XV e o objetivo era recolher a extensa coleção de livros do Papa Pio II e homenagear a memória deste Humanista.


Se a entrada é fantástica, imagine-se lá dentro com os frescos de Pinturicchio....

Um dos frescos mais notáveis, para uma visitante portuguesa, é certamente o que retrata o casamento de Leonor de Portugal e Frederico III, o primeiro imperador do Sacro Império Romano-Germânico da dinastia Habsburgo.

No Museu da Catedral encontram-se as obras que já estiveram expostas na catedral, mas foram substituidas. Numa sala dedicada a Duccio de Buoninsegna, como já referi num post recente, encontra-se a sua Maiestà, um conjunto de pinturas que são das mais preciosas e famosas da Idade Média. Originalmente, esta grande obra do altar da catedral era pintada dos dois lados, tinha uma predela e pináculos. Em 1506 foi retirada do altar, em 1771 separaram a frente das costas para serem colocadas em diferentes capelas e em 1878 o trabalho do grande mestre de Siena foi transferido para o museu, mas entretanto algumas obras «perderam-se» e oito partes da predela já não se encontram em Siena, mas em museus de Londres, Nova Iorque, Espanha...


Os paineis da parte de trás da Maestà


Alguns painéis da predela


A Maestà




No museu não podemos deixar de ir admirar Siena do alto de um patamar.










Fontebranda, a fonte mais antiga da cidade (século XIII). No cimo a Igreja de São Domenico (não subi porque estava já muito cansada).

Siena pode ser mais famosa pelo Palio di Siena, uma corrida de cavalos na Piazza del Campo, no centro da cidade, que se desenrola nos dias 2 de julho e 16 de agosto, desde o século XIII.


Estive por muitas vezes na Piazza del Campo, onde havia boas esplanadas ao sol, mas quanto às corridas prefiro vé-las pela televisão...














E claro já temos um livro sobre Siena, comprado numa pequena livraria naquela bonita e envolvente cidade. Visita memorável!




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