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segunda-feira, 30 de junho de 2025

A Casa-Museu Dr Anastácio Gonçalves


A Ceifa de Silva Porto, o "divino mestre" do naturalismo português.
Obra emblemática considerada Tesouro Nacional


A Praia de António Ramalho.
Nos dois quadros nota-se claramente como a figura humana está inserida na paisagem

Retrato do Dr Anastácio Gonçalves no roteiro da Casa-Museu (janeiro 2002).

A pintura de Malhoa de 1932 foi retirada para restauro.

O Dr. Anastácio Gonçalves nasceu em Alcanena em 1888. Era oriundo de uma família endinheirada, proveniente da indústria de curtumes. Sempre foi um brilhante aluno, interessado por diversas matérias. Adorava viajar sobretudo para visitar museus. Fez muitas viagens à volta do mundo. Só não conhecia a América do Sul e a Austrália. Tinha uma rica biblioteca, pois era culto e bem informado. Lia os autores clássicos na língua original. Licenciou-se em medicina em 1913 e especializou-se em oftalmologia.

Serviu na Grande Guerra e foi condecorado por valiosos serviços prestados nas trincheiras e por se ter distinguido na Batalha de La Lys pela sua coragem e dedicação.

A prática de medicina levou-o ao contacto com reconhecidas individualidades do mundo da ciência, literatura e arte como Ricardo Jorge, Aquilino Ribeiro e Ferreira de Castro. Também era seu cliente Calouste Gulbenkian, que morava muito perto, no Hotel Aviz e visitava a sua casa para ver as novas aquisições do médico. Consta que este foi dos poucos portugueses que visitou Gulbenkian na sua casa em Paris, na Avenida Iéna 51 e ficou deslumbrado com a coleção de arte que encontrou.

Em 1965, solicitou autorização à PIDE para visitar a Rússia pela segunda vez. Da primeira vez a excursão a Leninegrado para visitar o museu Hermitage calhou num dia feriado e não conseguiu concretizar o seu objetivo. No dia 14 de setembro realizou o seu sonho, mas o seu coração não resistiu à emoção e morreu nessa noite no quarto de hotel.


O Herrmitage


(felizmente nós já não precisámos de pedir autorização à PIDE para visitar São Petersburgo)

Em testamento legou ao estado português a casa onde residia, assim como a coleção de arte. Era sua ideia que fosse criado um pequeno museu como o Soane de Londres, o que veio a concretizar-se só em 1980 (a burocracia é pesada)...

A Casa-Museu Dr Anastácio Gonçalves foi adquirida em 1932. Foi mandada construir pelo pintor Malhoa, em 1904. 

O plano é do arquiteto  Norte Júnior, a quem se deve igualmente o projeto de vários palacetes, prédios e moradias das Avenidas Novas, nomeadamente na 5 de outubro, que vai da Maternidade Alfredo da Costa até à Cidade Universitária. Em 1905 recebeu o Prémio Valmor.

A Coleção

O espólio da Casa-Museu compreende pintura, escultura, porcelana chinesa, mobiliário e ourivesaria.


Mário Augusto (1895-1941) O Rio Jamor. 1926

A maior coleção de pintura é portuguesa e naturalista, sendo Silva Porto (1850-1893), um dos fundadores do Grupo do Leão, o mais representado, a par de Malhoa, Columbano, João Vaz, António Ramalho, Carlos Reis...

Maria Lucília Moita. Cadeira Vermelha (1928-2011)


Carlos Reis (1863-1940) Azenha

António Ramalho. Pintor Silva Porto


A bela escultura arte nova Eva de João da Silva (1890-1960)


Porcelana Chinesa. Aquários Século XVIII

A história destes dois aquários do século XVIII, é muito interessante. Como disse o colecionador, "colecionar é um vicio" e uma obstinação. Um dia em visita à Quinta das Baldrucas, em Azeitão, o Dr Anastácio expressou o desejo de comprá-los para a sua coleção de porcelana chinesa, mas o proprietário recusou o pedido. Disse que o que estava á venda era a propriedade com o seu recheio e não a venda de peças isoladas. O que fez o Dr, Anastácio? Comprou a quinta e trouxe os aquários, como queria. Esta história foi contada na primeira visita que fiz há anos, antes das intervenções de fundo na moradia e foi confirmada ontem.


O interior do aquário, para os peixinhos se sentirem acompanhados...





Destaque-se a beleza e raridade desta papeleira miniatura do século XVIII. Conhece-se apenas um outro exemplar semelhante em Inglaterra.

E este contador pintado na Holanda por um discípulo de Rubens

Sendo uma apreciadora de tapetes, gostei muito deste Bucara no escritório





E para terminar este Evangeliário do século XVIII da Ucrânia
(latão prateado e dourado)





 Referências:

O Programa Visita Guiada de Paula Moura Pinheiro com Ana Mântua

O Roteiro da Casa-Museu


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