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sexta-feira, 25 de julho de 2025

Dia dos Avós: 26 julho

 

A minha avó Maria tinha um ar severo, de impôr respeito, mas um coração doce, sobretudo para mim, a neta mais nova.

Ficou viúva muito cedo, a minha mãe era uma criança. Criou três filhas sózinha... Na altura em que as pessoas começavam a ter telefone, trabalhou como telefonista da Telefónica dos CTT. Lembro-me que partiu uma perna, já mais idosa e teve de se mudar para o rés-do chão, porque não conseguia subir as escadas para o seu quarto. O médico que a foi consultar a casa lembrava-se de falarem ao telefone com alguma frequência, pois, quando os médicos saìam à noite, era costume ligarem às telefonistas a dizer onde podiam ser contactados.

Quando se reformou, a minha avó Maria tornou-se catequista. Contava-me muitas histórias da Biblia e da História e lembro-me de chorar, quando falava do regicidio do Rei D. Carlos e do assassinato do filho, o Príncipe D. Luís Filipe. Também contava como era o Campo da Barca, zona de fazendas, onde viveu e os esconderijos usados por populares na  I Guerra Mundial. A Ilha da Madeira foi bombardeada durante aquele terrível conflito.

A minha avó deu uma educação excessivamente rigorosa à minha mãe e não a deixou estudar para ser professora. No entanto, um primo, que vivia na casa da avó estudou em Coimbra e formou-se em medicina, sem qualquer contratempo, porque era homem. E assim fiquei eu a ganhar, pois a minha mãe quis dar-me uma educação responsável, mas livre das amarras que sentiu. Desse modo e já no meu primeiro ano da Faculdade apoiou-me e parti por um mês com uma colega num Interrail. Apesar da sua rigidez em relação às filhas, a minha avó foi sempre paciente e muito carinhosa comigo e uma das pessoas que contribuíram para o meu gosto pela Literatura e a História, até hoje.  

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quarta-feira, 23 de julho de 2025

Museu do Carmo




Hoje fui até as Ruínas do Carmo e visitei o Museu Arqueológico do Carmo. Subi no elevador de Santa Justa e continuei até ao miradouro.



Janela manuelina

Busto de D. Afonso Henriques


Estátua de D. João IV

Assistimos a um filme sobre Nuno Álvares Pereira

Na igreja está assinalado o local da sua sepultura original, que foi encontrada durante as escavações do metro do Chiado, em 1996

Réplica em madeira do seu túmulo em alabastro feito uns anos após a sua morte e que ficou destruído no terramoto

O túmulo do séc XIV do Rei D. Fernando também se encontra no museu.


Cenas da Paixão de Cristo. Alabastro. Inglaterra séc XV

Os Vitrais de Almada Negreiros em Igrejas de Lisboa

Em abril visitei o novo  Centro Interpretativo Murais de Almada nas Gares Marítimas, que gostei muito.

Depois, na Casa Fernando Pessoa, voltei a ver o retrato do poeta dos heterónimos pintado por Almada Negreiros em 1954 para o restaurante Irmãos Unidos, onde o grupo da revista Orpheu se reunia. Quando o restaurante fechou, em 1970, o seu recheio foi leiloado e comprado por um antiquário, o qual, mais tarde, vendeu aquele quadro ao empresário e colecionador Jorge de Brito, que o doou à Câmara Municipal de Lisboa. Desde a inauguração da Casa Fernando Pessoa, em 1993, essa obra integra o acervo do museu.

Em 1964, o próprio Almada Negreiros pintou uma réplica, que se encontra no Centro de Arte Moderna Gulbenkian.

Quando Almada Negreiros recebeu a encomenda para fazer as pinturas murais das gares marítimas já tinha trabalhado com o arquiteto Pardal Monteiro na decoração da primeira igreja modernista construída em Portugal: a Igreja de Nossa Senhora de Fátima, na Avenida Marquês de Tomar, inaugurada em 13 de outubro de 1938.

Originou forte polémica, porque o arquiteto não era crente e também porque a sua arquitetura, dizia-se, não se adequava à tradição do Estado Novo.


Decidi, hoje, visitar esta igreja e a do Santo Condestável em Campo de Ourique para ver os vitrais de Almada Negreiros. Estavam abertas à tarde e o atendimento foi atencioso em ambas. Dispõem de um folheto elucidativo sobre as obras de arte.

Gostei destas visitas. Lembrei-me, a propósito, de um casal amigo, cuja mulher sugeriu ao marido fazer passeios semelhantes para saírem de casa e se entreterem; porém, ele não se mostrou recetivo, exclamando: "o quê, para ir ver igrejas...?". Evidentemente, não visito apenas igrejas. No entanto, há muito que constatei que as igrejas são os monumentos mais espetaculares e significativos por toda a Europa. São igualmente os edifícios através dos quais melhor se pode apreciar a evolução da arte europeia. E sempre estiveram abertas ao público, constituindo, durante épocas, os mais importantes locais de reunião. Aliás, até aos meados dos anos 60 do século XX, as missas e outras cerimónias religiosas eram celebradas em latim, pelo que a maior parte das pessoas não devia compreender, de facto, o que rezava ou repetia, pelo que a grandiosidade das igrejas com as suas pinturas e esculturas eram formas de ilustrar e incutir religiosidade junto das populações e, mesmo hoje em dia, representam evocações importantes para muita gente.

   

Almada Negreiros assinou todos os vitrais da igreja, assim como as pinturas murais da capela-mor. Do mesmo autor são os mosaicos com símbolos eucaristicos do baldaquino, que se ergue atrás do altar.

A Igreja é iluminada por lustres Art Deco em forma de rosário.


Pietá
Calvário



O batistério é então de uma rara beleza. Almada utilizou o vitral, o mosaico a pintura mural e o ferro no portão para uma recriação da fonte de vida. 

A escultura em bronze de S. João Batista é de Leopoldo de Almeida



Do mesmo escultor é o baixo relevo A Ressureição de Lázaro


As pinturas do arco triunfal da capela-mor e o friso do coro alto são de Lino António.
As estátuas das capelas laterais, em madeira, da autoria de Raúl Xavier e Anjos Teixeira (Filho), que conheci na Madeira, quando era adolescente. Também de Anjos Teixeira é a porta do sacrário em baixo-relevo de bronze.


Bonito Santo António, numa das capelas laterais



A Igreja do Santo Condestável em Campo de Ourique começou a ser construida em 1946 e foi inaugurada em 1951.

Sobre o pórtico escultura de Nuno Álvares Pereira da autoria de Leopoldo de Almeida.



O túmulo com as relíquias de Nuno Álvares Pereira, por baixo do altar-mor  é do escultor Soares Branco

Coração de Jesus e O Bom Pastor
Coração de Maria e Anunciação do Anjo

Todos os vitrais são de Almada Negreiros


Fresco do altar-mor dos pintores Portela Júnior e Joaquim Rebocho representando a glorificação de São Nuno de Santa Maria (Nuno Álvares Pereira).


Belíssima imagem de Nossa Senhora do Rosário do século XVIII, que foi trazida da Igreja de São Domingos antes do grande incêndio.

domingo, 20 de julho de 2025

A Batalha de Aljubarrota


Batalha de Aljubarrota. Jean Froissart, Chroniques. Século XV

Jean Froissart é um dos mais importantes cronistas da França medieval. As suas Chroniques são fontes de grande relevância para o conhecimento da Europa, do século XIV.

Cronologia 

2-4-1383- Tratado de Salvaterra de Magos, onde se prevê o casamento da Infanta D. Beatriz, única filha do Rei D. Fernando e da Rainha D. Leonor Teles com o rei de Castela, D. Juan I.

Real de D. Beatriz. Prata. Século XIV
Museu de Lisboa

14 a 17-5-1383- Casamento de D. Beatriz e D. Juan de Castela, em Elvas e Badajoz


D. Fernando I. Reis de Portugal. Museu do Hospital, Caldas da Rainha

Velório do Rei de Portugal, D. Fernando I. Jean de Wavrin, Chronique d'Angleterre. Manuscrito do século XV

Túmulo de D. Fernando I, do Convento de S. Francisco de Santarém. Museu do Carmo

22-10-1383- Morte de D. Fernando. D. Leonor Teles assume a Regência de Portugal

6-12-1383- O conde Andeiro, fidalgo galego, conselheiro e acusado de ser amante de D. Leonor Teles é assassinado em Lisboa



1384- D. Leonor Teles é forçada a abdicar da Regência em favor da filha e do genro




6-4-1384- Batalha de Atoleiros, a primeira grande vitória de Nuno Ávares Pereira.

1384- Ínicio do cerco Castelhano a Lisboa. Devido à peste no acampamento dos sitiantes o cerco  tem que ser levantado e o Rei de Castela e as suas tropas regressam ao seu país.


Estátuas equestres de D. João I e Nuno Álvares Pereira
Museu de Lisboa

6-4-1385- As Cortes de Coimbra aclamam D. João, Mestre de Avis, filho bastardo de D. Pedro I, como rei de Portugal

Retrato póstumo, MNAA





6-1385- D. Juan I invade Portugal pela Beira, encaminhando-se na direção de Santarém- Lisboa.

Túmulo de D. Juan I na catedral de Toledo

Batalha de Aljubarrota (14 agosto 1385)
"Os Portugueses e Ingleses derrotam a vanguarda francesa do Rei de Castela"

14-8-1385- Batalha de Aljubarrota

Alguns vão maldizendo e blasfemando
Do primeiro que guerra fez no mundo;
Outros a sede dura vão culpando
Do peito cobiçoso e sitibundo,
Que, por tomar o alheio, o miserando
Povo aventura às penas do Profundo*,
Deixando tantas mães, tantas esposas
Sem filhos, sem maridos, desditosas.

* Inferno                                                         Lusíadas IV-44

Mestre Pêro. Cavaleiro Medieval. Século XIV Museu Machado de Castro


Frei Manuel dos Reis. D. João I invocando
Nossa Senhora da Oliveira na batalha de Aljubarrota
Estátua de D. Nuno Álvares Pereira no Restelo

 em Campo de Ourique

D. Nuno Álvares Pereira no arco da R. Augusta
(direita para esquerda: D. Nuno Álvares Pereira, Marquês de Pombal,
Vasco da Gama e Viriato)

1387- Casamento de D. João I com Filipa de Lencastre.
Decoração de parede com reprodução de Jean de Wavrin, Crónicas de Inglaterra sobre o casamento


Mosteiro da Batalha. Túmulo de D. João I e D. Filipa de Lencastre

1388- Ìnicio das obras do Mosteiro da Batalha, mandado construir por D. João I em comemoração da decisiva vitória na Batalha de Aljubarrota

 
O Convento do Carmo antes de 1755
O Convento na atualidade
Cópia do túmulo de Nuno Álvares Pereira


Estátua de D. Nuno Álvares Pereira à entrada do Mosteiro da Batalha


Fotografia de dezembro 2023




1389- D. Nuno Ávares Pereira funda o Convento do Carmo, onde, mais tarde, ingressará como religioso, doando os seus bens a esse mosteiro (na altura era um dos homens mais ricos de Portugal). O convento ficou em ruínas, após o terramoto de 1755. As obras de reconstrução iniciaram-se um ano após o terramoto, mas foram suspensas em 1834 aquando da extinção das ordens religiosas em Portugal.

31-10-1411- É finalmente assinado um acordo de paz entre Portugal e Castela em Ayton-Segovia.

Não sofre o peito forte, usado à guerra,
Não ter amigo já a quem faça dano;
E assim não tendo a quem vencer na terra,
Vai cometer as ondas do Oceano....

Lusíadas, IV-48

E assim, como diz Camões, vencedores, os portugueses podem lançar-se para os Descobrimentos...

No ano que se comemora 640 anos da batalha de Aljubarrota, fomos ao Centro de Interpretação da batalha de Aljubarrota. Gostámos muito. Foi a segunda vez que o visitámos. A primeira, foi pouco depois da sua inauguração em 2008. A partir deste ano há dois filmes: um sobre a batalha e um novo sobre Nuno Álvares Pereira. Tanto os filmes (documentários dramatizados) como todo o local de exposição são excelentes. Saí a pensar, porque é que não se faz algo semelhante sobre os nossos Descobrimentos. O local já foi escolhido no passado, junto ao rio Tejo, no Museu de Arte Popular, que seria transferido para outro local mais pequeno. Só tem havido falta de visão e capacidade de decisão para se avançar.

O meu filho e eu no Centro de Interpretação, ontem
A minha filha em 2010 e o meu neto Charlie, ontem
O meu neto Theo, ontem

Referências:
Gouveia, Alexandre Patrício. D. Nuno Álvares Pereira. Prime Books, 2023
Monteiro, João Gouveia. Aljubarrota, a Batalha Real. Tribuna da História, 2025
Coleção de 20 Postais. Fundação de Batalha de Aljubarrota