Sempre que vou ao Museu das Janelas Verdes, para ver uma exposição temporária, gosto de ir ao primeiro andar rever os Biombos Nanban. Da última vez, tirei fotografias e pensei fazer um post para enviar às minhas amigas japonesas. O ano passado, quando estive no Japão e visitei o seu Museu Nacional, vi muitos biombos, mas nenhum representando a Arte Nanban. A minha amiga informou-se e disseram-lhe que não estavam em exposição naquela altura. Depois soube que a maior coleção encontra-se na cidade de Kobe, que não visitei.
A origem do nome Nanban vem de naban-jin, ou "bárbaros do sul", expressão com que os japoneses apelidaram os estrangeiros, que comerciavam com o Japão através da ilha de Kyushu e chegavam na Nau do Trato ou grande navio negro (Kurofune). Os portugueses receberam assim esse "rótulo". Associado ao mesmo termo surge a Arte Nanban, a arte europeia introduzida no Japão, coincidente com a chegada dos portugueses ao Japão, a partir de 1543. Os biombos (do japonês byobu) eram geralmente executados aos pares para dividir os espaços.
A Nau do Trato é a protagonista central destas pinturas. Os portugueses surgem caricaturizados, representados com calças inchadas e com narizes compridos. Identificam-se também os animais exóticos e os produtos comercializados pelos portugueses em diversos portos do Oriente.
Caixa de alimentos
Os japoneses mostram a história dos portugueses, utilizando o seu ponto de vista e vêm-nos com um olhar muito crítico, de um outro mundo.
A descrição mais notável, que conheço, dos biombos é o seguinte poema de Sophia de Mello Breyner:
OS BIOMBOS NAMBAM
Os biombos Nambam contam
A história alegre das navegações
Pasmo de povos de repente
Frente a frente
Alvoroço de quem vê
O tão longe tão ao pé
Laca e leque
Kimono camélia
Perfeição esmero
E o sabor do tempero
Cerimónias mesuras
Nipónicas finuras
Malícia perante
Narigudas figuras
Inchados calções
Enquanto no alto
Das mastreações
Fazem pinos dão saltos
Os ágeis acrobatas
Das navegações
Dançam de alegria
Porque o mundo encontrado
É muito mais belo
Do que o imaginado.
Sophia de Mello Breyner Andresen | "Ilhas", págs. 54 e 55 | Texto Editora, 1989
Os biombos Nanban foram realizados no Japão, entre a segunda metade do século XVI e a primeira do século XVII. São testemunho de como fomos retratados pela sociedade japonesa, no momento da chegada dos navios, numa altura em que uma viagem de Portugal ao Japão demorava cerca de dois anos e meio e relatam o exotismo e a alegria da chegada ao novo porto. Os biombos Nanban são um documento histórico visual ímpar sobre as relações de Portugal e o Japão.
Referência:
Alexandra Curvelo. Obras-Primas dos Biombos Nanban. Chadeigne, 2015
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