A minha Lista de blogues

quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Jane Austen- 250 anos

 


Jane Austen (1775-1817)



A minha filha e netas visitaram, há dias, a National Portrait Gallery, em Londres, especialmente curiosas para ver o único retrato de Jane Austen, feito pela sua irmã Cassandra; contudo, tiveram uma desilusão, pois a aguarela fora emprestada e está em exposição no estrangeiro...

Trouxeram-me o postal. Espero que esta seja a terceira geração de leitoras de Jane Austen.




Emma e Mr Knightley a dançar. The Last Dance
 foi o tema musical de entrada na Igreja  no casamento da minha filha.


Jane Austem morreu muito nova aos 41 anos. No dia 16 de dezembro celebram-se os 250 anos do seu nascimento.

A época da Regência, em que viveu, constitui uma ponte entre o período georgiano e o vitoriano. Jorge IV  assumiu a Regência do Reino como Príncipe de Gales, durante a doença do seu pai, Jorge III. Tornou-se um fervoroso admirador da obra de Jane Austen, a quem ela dedicou o seu romance Emma. 

Jane Austen pertenceu também a uma época de transição entre o século XVIII, onde predominava a razão e o desenvolvimento, para o XIX, no qual se acentuou a ênfase na sensibilidade, enquanto o racionalismo ia dando lugar ao romantismo na literatura. Os seus romances mostram uma observadora atenta dos ambientes da época, que por vezes descreve com ironia. O famoso Sir Walter Scott, referindo-se a Jane Austen, afirmou:"That young lady has a talent for describing the involvements and feelings and characters of ordinary life, which is to me the most wonderful I ever met with" (Bradbury 69).

A imagem de Jane Austen, solteira, confinada ao ambiente familiar no campo, num país de onde nunca saíu faz-nos por vezes esquecer que viveu num mundo de grandes acontecimentos: a revolução francesa e a americana, os tumultos luditas em Inglaterra durante a revolução industrial e as guerras napoleónicas.

Desde os 11 anos que Jane escrevia peças de teatro, romances e poesia. Era também uma incansável escritora de cartas.



Aos 15 anos escreveu uma História de Inglaterra, antes dos seis romances que tiveram muito sucesso e encorajaram adaptações para filmes e séries de televisão: Sense and Sensibility (1811), Pride and Prejudice (1813), Mansfield Park (1814), Emma (1815), Northanger Abbey (1817) e Persuasion (1818). Os últimos dois títulos foram publicados após a sua morte (assim como The Watsons, que deixou inacabado e  houve diversas tentativas de o finalizar). A ordem da publicação não corresponde à cronologia da sua escrita.




 Jane Austen publicou as suas obras anónimamente, primeiro com o nome "A Lady" e depois como "A autora de Sensibilidade e Bom Senso"



Pride and Prejudice (Orgulho e Preconceito) é o meu favorito. É facil os leitores apaixonarem-se pelas duas personagens Elizabeth Bennett e Mr Darcy, sendo este último, para mim, das figuras mais românticas, que o cimema realçou e não decepcionou, nas duas últimas versões.




O humor ao recusar Mr Collins é para mim uma das grandes partes no romance:

"Come here, child",- cried her father as she appeared. "I have sent for you on an affair of importance. I understand that Mr Collins has made an offer of marriage. Is it true?" Elizabeth replied that it was.
"Very well- and this offer of marriage you have refused?"
"I have, Sir."
"Very well. We now come to the point. Your mother insists upon your accepting it. Is not it so, Mrs. Bennet?"
"Yes, or I will never see her again"
"An unhappy alternative is before you, Elizabeth. From this day you must be a stranger to one of your parents- your mother will never see you again if you do not marry Mr. Collins, and I will never see you again if you do."


Nenhum romance aborda as casas como Orgulho e Preconceito trata Pemberley, a propriedade de Mr Darcy, onde no filme de 2005 é usada Chatsworth House.(Todd 87)


A Igreja de S. Nicolau em Steventon onde o pai de Jane Austen era vigário. Construída no século XIII mantém-se igual à igreja onde Jane foi batizada, apesar do grande restauro no século XIX. No adro um teixo com cerca de 900 anos, onde se guardava a chave da porta da igreja, no seu tronco oco.

Jane não teve uma educação formal, porém em casa tinha acesso à biblioteca do pai com mais de 500 livros, o reverendo Jorge Austen, o qual antes de ser vigário em Steventon, onde Jane nasceu, tinha sido  académico em Oxford. A educação de Jane provém sobretudo  das leituras orientadas que fez. 

Hoje em dia, as histórias de Jane Austen podem parecer pueris, pois abordam questões relacionadas com o namoro e o casamento das classes médias britânicas. Todavia, esse tema no seu tempo assumia uma importãncia vital para as jovens, como nos explica na introdução o editor de The Wit and Wisdom of Jane Austen: "To the young girl who knew she had but one chance of happiness, the drawing room was a jungle, the ball a battlefield: if marriage might involve a life sentence with a pompous bore or, worse, a drunken brute, spinsterhood could at best mean humiliating dependence and at worst destitution "

As influências literárias de Jane Austen




Jane Austen faz muitas referências a Samuel Johnson (1709-1784) nas suas cartas como "My dear Dr. Johnson". Admirava o seu estilo e deve ter consultado o Dictionary of the English Language, que Johnson escreveu e foi publicado em 1755.




Jane também estava familiarizada com a escrita de Herster Lynch Thrale Piozzi (1741 –1821), especialmente as cartas para Samuel Johnson.




Frances Burney (1752-1840)
O romance Evelina foi aclamado pela crítica. Jane Austen foi influenciada por esta escritora e mudou o titulo do seu romance (First Impressions) para Pride and Prejudice, depois de ter lido esta frase no romance Cecilia de Burney.



Ann Radcliffe (1764-1823) é considerada um dos grandes expoentes do romance gótico, género que explora o macabro, o fantástico e o sobrenatural.





Maria Edgeworth (1768-1849), uma das mais importantes figuras no desenvolvimento do romance na Europa e uma das romancistas mais lidas na Inglaterrra e Irlanda. mantinha correspondência assídua com escritores como Walter Scott e economistas como David Ricardo.





Hannah More (1745-1833) escrevia sobretudo sobre assuntos religiosos.








Charlotte Lenox (1729-1804) foi aclamada como a melhor escritora do seu tempo com o romance The Female Quixote or the Adventures of Arabella.


Charlotte Smith (1749-1806) com os seus Elegiac Sonnets contribuiu para o revivalismo do soneto em Inglaterra. Escreveu também prosa, para poder sustentar os seus 12 filhos, mas sentia-se sobretudo poeta.




Elizabeth Inchbald (1753-1821) foi uma dramaturga, atriz e romancista. Não se revelou especialmente talentosa no palco, mas era admirada pela sua beleza e personalidade.
A crítica recebeu positivamente o seu romance Simple Story .





Hannah Cowley (1743-1809) foi uma dramaturga que criou personagens cómicas memoráveis como os seus conterrâneos Oliver Goldsmith e Sheridan.The Belle's Stratagem foi o seu maior sucesso é sobre o casamento e como as mulheres lutavam para ultrapassar injustiças impostas pela sociedade.


Samuel Richardson (1689-1761)
"O conhecimento que ela tinha das obras de Richardson era tal que provavelmente nunca ninguém o poderá igualar... estava faniliarizada com todos os acontecimentos do romance e todas as personagens eram como seus amigos." escreveu o seu sobrinho (Tomalin 96)




Fiz com a minha neta Beatriz um bolo para comemorar os 250 anos de Jane Austen. A receita foi retirada do livro Tea with Jane Austen. O Plum cake (bolo de frutas secas) apesar de ser uma receita de 1806 de Mrs. Rundell: A New System of Domestic Cookery, tem a receita original e a sua adaptação aos tempos atuais, usando até farinha com fermento.



Livros Consultados:

Janet Todd. Jane Austen Treasury. Andre Deutsch, 2017

Karin Quint. Jane Austen´s England. A Travel Guide.Acc Books, 2019

Malcolm Bradbury. The Atlas of Literature. Stewart, Tabori and Chang, 1998

John Sutherland. Literary Landscapes. Black Dog and Leventhal Publishers,, 2018

Pen Vogler. Tea with Jane Austen. Cico Books, 2016

Michael Kerrigan (ed) The Wit and Wisdom of Jane Austen.Fourth Estate, London, 1996



Outros Posts sobre Jane Austen:

Jane Austen nasceu neste dia em 1775

Jane Austen (1775-1817)

Jane Austen´s ring

Jane Austen on the 10-pound note

Pride and Prejudice: 200th anniversary

Death comes to Pemberley




sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Encomenda de Cecília Meireles

 


Encomenda

Desejo uma fotografia
como esta - o senhor vê? - como esta:
em que para sempre me ria
como um vestido de eterna festa.

Como tenho a testa sombria,
derrame luz na minha testa.
Deixe esta ruga, que me empresta
um certo ar de sabedoria.

Não meta fundos de floresta nem de arbitrária fantasia... Não... Neste espaço que ainda resta,
ponha uma cadeira vazia.

Cecília Meireles
Melhores Poemas. Seleção de André Seffrin
Global Pocket, 2016

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

domingo, 30 de novembro de 2025

Aquecedor de mãos

 


Recentemente no Museu de Arte de Hong Kong vi esta peça, que me pareceu muito bonita. Explicava-se que podiamos colocar carvão para aquecer as mãos dos "literatos", escritores ou pintores e que foram introduzidos na Corte Imperial da dinastia Qing, tendo a sua produção ganho notoriedade e sofisticação.

Fez-me recordar esta peça, também bonita, que o meu marido me ofereceu em Bucareste, onde a comprou num antiquário.

Almoço de família

 


Domingo passado tivemos um almoço de família com todos os netos. 

A minha neta Beatriz oferece-se sempre para escrever a ementa. 

Resolvi fazer Amèijoas à Bulhão Pato, que são sempre do agrado dos mais novos. A receita deu-me uma senhora velhinha e muito simpática, que encontrei no supermercado e estava a comprar "uma tonelada" de amêijoas congeladas, para toda a família. Vi o seu entusiasmo em dar-me a receita, que acertava sempre, experimentei e resultou. Já repeti algumas vezes. Como tenho sempre de procurar o papel que escrevi à pressa, embora tenha muitos livros com a receita muito semelhante decidi passá-la para o blogue...


Põe-se de molho durante pelo menos 1 hora as amêijoas congeladas. Depois tiram-se com cuidado com uma colher para não levantar a areia que ficou no fundo e lava-se bem no escorredor.
Numa panela junta-se uma boa porção de azeite e muito alho esmagado. Quando o alho alourar um pouco juntam-se as amêijoas. Mexe-se. É rápido (quando abrirem estão prontas). Junta-se sal, um pouco de piripiri (que nunca deitei porque são para crianças. Em vez disso deito um pouco de mostarda para engrossar o molho e vinho branco). Quando estão prontas, antes de servir, deita-se sumo de 1 limão e muitos coentros cortados miúdo.

As vieiras gratinadas são deliciosas. Fiquei uma apreciadora de Scallops quando vivia em Massachusetts. As que servi comprei congeladas no Supercor.

Os Bifes com queijo Roquefort são uma receita do chef grego, com quem tive algumas aulas com a minha filha. Gosto muito, porque aprecio queijo roquefort, mas não é para todos... As crianças comeram bife grelhado feito pelo meu genro, com arroz de cenoura, ervilhas tortas e couves de Bruxelas.

A sobremesa foi especial: Charlotte Russe..

Charlotte Russe

Diz Fortunato da Cãmara em "Os Mistérios do Abade de Priscos" que as Charlotte são uma homenagem à princesa alemã Charlotte Sophie de Mecklenburg-Strelitz, que se tornou rainha de Inglaterra ao casar-se com Jorge III. Apesar da receita original ser feita com maçãs, dá-se uma grande transformação da autoria de Antonin Carême, que trocou o pão da receita inglesa por palitos La Reine, na altura que foi cozinheiro de Talleyrand, figura histórica com percurso extraordinário, pois foi ministro dos Negócios Estrangeiros de Napoleão e de Luís XVIII.



Charlotte Russe da minha Mãe

Mousse de Chocolate (feito com 200g chocolate Pantagruel, 6 ovos, 1 c sopa manteiga, 5 c sopa açúcar), palitos La Reine embebidos em vinho Madeira Malvasia, natas batidas para decorar, raspa de chocolate de leite Cadbury, pistácios, amêndoas.

Forra-se uma forma de fundo solto no fundo e à volta com palitos cortados à medida e com a parte achatada virada para dentro. Depois deita-se uma parte da mousse, lascas de chocolate, amêndoas, pistácios, palitos esfarelados, outra camada de mousse e assim sucessivamente até acabar. Faz-se de véspera e mete-se no frigorifico No dia seguinte guarnece-se com natas batidas, raspa de chocolate, amèndoas e pistácios. (a receita da minha mãe leva passas, mas eu não deito, porque o meu filho não gosta). Na hora de servir retira-se o aro da forma e coloca-se uma fita com um laço.

Nota: fiz duas receitas de mousse de chocolate, porque a minha forma é grande. Aproveitei para fazer quatro pequenas taças com os palitos embebidos em leite em vez de Vinho Madeira para as crianças.

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

O Chafariz d’ El Rei


Chafariz d’el Rey, c. 1570-80

Anónimo, pintura flamenga
Óleo sobre madeira. Coleção Berardo Lisboa, Portugal



O chafariz, construído no século XIII, nos reinados de D. Afonso II e de D. Dinis, era a principal fonte de água potável da capital, aproveitando a excelente qualidade das águas da encosta de Alfama. Estava encostado à muralha da cidade e tinha seis bicas em forma de cabeças de animais, cada uma exclusiva de um grupo social.

O traçado do chafariz foi-se alterando em função da sua natural degradação e dos sérios danos causados pelo terramoto de 1755, pelo que a imagem do chafariz atual ficou definida após obras efetuadas no século XIX. Atualmente possui apenas três bicas metálicas.

O Palacete Chafariz d’ El Rei, nome da fonte sobre a qual se ergue, foi mandado edificar por João Antonio Santos em 1909, quando regressou do Brasil com fortuna e queria ostentar a sua riqueza. Problemas familiares relacionados com a herança provocaram a degradação do prédio, porém, em 2009, impressionou um espanhol que o conseguiu comprar e restaurar com a ajuda da Fundação Espírito Santo.

Hoje em dia é um hotel de 5 estrelas e um sítio muito agradável, onde podemos ir tomar chá. Só não convém tentar levar o carro, porque não se pode estacionar perto. Deixámos o carro junto do Centro de Estudos Judiciários e apanhámos um táxi...



Quando cheguei a casa lembrei-me que tinha o livro que esteve na base da exposição no MNAA em 2017: A Cidade GlobalApresentava 2 pinturas com vista da Rua Nova dos Mercadores (capa do livro e folheto da exposição), a qual foi totalmente destruída pelo terramoto de 1755 e ainda, da mesma época, a pintura da coleção Berardo sobre o Chafariz Real. Habitualmente não se pode tirar fotografias nestas exposições temporárias  e só me recordo do que vejo agora no folheto...

 Ontem, fui com a minha amiga Margarida tomar chá ao Palacete. Gostámos muito de ver a recuperação do edificio. O senhor que nos atendeu foi muito prestável e simpático, mostrando-nos algumas das belas salas, que mostram o magnífico trabalho de restauro e, no final, simpaticamente, até nos acompanhou ao táxi, porque acontece o engano com os dois locais, onde os táxis podem parar.
Foi uma tarde muito bem passada, com algumas peripécias para mais tarde recordarmos...