Há muito tempo que não ouvia esta expressão "Manas Perliquitetes", que a minha tia costumava usar com um sentido pejorativo. No entanto, vi recentemente um programa de uma revista que propunha conhecer figuras emblemáticas da vida alfacinha, onde se destacavam as tais "Manas Perliquitetes".
Julgava ser uma invenção, mas afinal tratavam-se de figuras reais. Eram elas Carolina Amália e Josefina Adelaide Brandi Guido. Oriundas de família italiana, eram filhas de um abastado comerciante da Baixa Lisboeta. Nasceram em Lisboa, respetivamente a 15 de outubro de 1833 e 26 de junho de 1841.
Foram baptizadas na igreja italiana do Loreto, situada junto ao Largo do Chiado.
Viveram na infância numa casa apalaçada na Rua de S. Bento, mas quando o pai morreu a família estava já em bancarrota, devido aos gastos exorbitantes de um irmão. Tiveram de mudar-se para um andar perto da Escola Politécnica. Tinham como vizinho um boémio: Luiz de Almeida de Mello e Castro, que muitos reconheciam o talento para contar histórias exageradas. É por volta de 1870 que as manas são por ele baptizadas, pois costumava apresentá-las como "as minhas pupilas, as Manas Perliquitetes".
A alcunha pegou e espalhou-se...
Foram retratadas por Bordallo Pinheiro nas revistas humorísticas e em livros sobre Lisboa da época e mais recentes. A foto das irmãs, a caricatura e as referências utilizadas são do livro Lisboa Desaparecida, Vol 3 de Marina Tavares Dias (1992).
Os problemas financeiros agravaram-se e tiveram de mudar para uma casa ainda mais humilde.
Os adornos excessivos, que lhes deram reputação, foram substituídos por outros mais simples, como os da foto, onde se deixaram retratar junto ao Mosteiro dos Jerónimos.
Josefina Adelaide ficou sozinha após a morte da irmã e acabou pobre e pedinte. Morreu tuberculosa em 1907 e foi enterrada com ajuda de um peditório feito pelo jornal O Século.
Pelos vistos, o interesse pela lenda das "Manas Perliquitetes" mantém-se...
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