Eu, às vezes, quando não falo
calo-me.
Calo-me, calo-me, calo-me,
cubro-me de calos
até me doer a vista
e ter de ir ao calista
e ser forçado a falar:
“– O quê, cinco euros cada calo?!”
“– São preços tabelados”,
responde o calista
e fala logo de mercados internacionais
e de capitais de risco.
Um calista economista jamais se cala,
fala, fala, fala,
badala como um sino,
deixa entupidos os ouvidos
dum pobre cliente inocente.
Eu, é fatal como o destino,
depois de ir a um desses calistas
economistas,
tenho de ir ao otorrino.
– Ao otorrino?
– Ao otorrinolaringologista.
– Para quê, Nadinha?
– Para limpar os ouvidos entupidos
pelo calista economista.
Saio tão arreliado
que me torno a calar um bom bocado,
aí um ano ou dois,
mas depois assim que reparo,
paro,
e vou logo ao oftalmologista
porque ir logo ao oftalmologista
me fica mais barato
do que ir primeiro ao calista
e depois ao otorrinolaringologista.
– Estás a brincar comigo?
– Estou.
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