Os recentes confinamentos aqui na Eslováquia e na vizinha Áustria preocupam-me de novo. Esta maldita epidemia, que não há meio de passar!! Depois estou muito aborrecida em casa. Hoje até tinha planeado ir às compras a um centro comercial aberto recentemente para tentar encontrar algumas prendas de Natal para os netos e uns acabamentos para decorar a pequena Árvore de Natal aqui na Eslováquia, pois este ano os meus filhos vão passar as festas com os sogros e, portanto, não vou fazer decorações em Lisboa...
Lembrei-me então que hoje é o Dia de Ação de Graças nos EUA. E daqui a poucas horas (na Eslováquia são mais 6 horas do que na costa leste da América) começa lá o grande movimento: nas casas para acabar os tradicionais pratos festivos, como o sempre indispensável peru, para receber familiares e pessoas amigas; nos aeroportos e ainda nas estradas, porque importa sair cedo para evitar os engarrafamentos. Tudo isto para que a família e amigos íntimos possam estar juntos num grande almoço, cuja finalidade original foi
dar graças pelo sucesso das colheitas.
Depois de quase dois anos de pandemia todos temos muito a agradecer. De facto, se refletirmos, quantas famílias terão lugares vagos à mesa por conta desta epidemia, que já fez mais de cinco milhões de mortos em todo o mundo?
Para mim o Dia de Ação de Graças são os Estados Unidos da América no seu melhor: uma grande festa sem troca de prendas, como é o Natal. Nada tenho contra o Natal, bem pelo contrário- adoro decorações de Natal e a distribuição de prendas, principalmente agora que tenho netos revela-se ainda maior alegria participar na abertura dos presentes com a família toda junta. No entanto, creio que faz falta uma festa para estarmos juntos sem haver a preocupação de escolher prendas adequadas para diversas pessoas.
Vivi nos EUA de setembro de 1999 a junho de 2005 e essa estadia deixou-me muitas recordações (positivas e também negativas).
Não gostei de aspetos que me parecem desagradar a qualquer europeu: a diferença de oportunidades entre as diversas comunidades étnicas, um sistema de justiça que não aboliu ainda a pena de morte, a facilidade de aquisição de armas, um sistema de saúde caro, que mais acentua as desigualdades sociais, a falta de uma cultura média universal (de forma geral são muito autocentrados, conhecendo só factos relacionados com o seu país), a má alimentação de muitos, o que provoca casos de obesidade mórbida e a quase obrigatoriedade de dar uma boa gorjeta nos restaurantes (os empregados vivem disso, porque os ordenados são baixos).
Todavia, os norte-americanos são das pessoas mais "resilientes" que conheço, para usar uma palavra na moda em Portugal. Quem não assistiu já na televisão a famílias terem ficado sem nada devido a incêndios ou fenómenos naturais e manterem um espírito positivo, que há que recomeçar de novo (sem subsídios)!? São amigáveis, gostam de ajudar o próximo. Têm grande cultura cívica, existindo muitas organizações influentes e ativas da chamada "sociedade civil", capazes de se repercutirem nos meios de informação, cuja liberdade é intocável. Infelizmente, sofreram uma grande catástrofe, quando eu lá vivia (o terrível atentado de 11 de setembro de 2001); serviu, porém, para criar um forte espírito de unidade entre toda a gente. Quando é preciso, nunca vi criar-se um fundo de ajuda com tanta rapidez e eficiência, mesmo independentemente de entidades públicas.
Depois a política é de grande proximidade com os cidadãos. Dispõe de alguns dos melhores museus a nível mundial, apesar de ser um país novo. Aliás, a casa de uma figura histórica, facilmente se torna museu através da multiplicidade das doações de mobiliário e vestuário da época. Revelam-se igualmente notáveis os imensos espaços florestais sempre bem cuidados e, por ser um território tão vasto, existe grande diversidade de parques naturais. Quanto a comidas? Evidentemente, encontra-se de tudo, porém recordo com gosto os melhores hot dogs do mundo com relish (em Nova Iorque) e o delicioso Virgínia ham... E, claro está, os fabulosos shows da Broadway em Manhattan, as orquestras sinfónicas e os respetivos programas e vi sempre, por todas as vilas por onde passei, bibliotecas públicas a funcionar.
Jon Sopel @bbcjonsopelon Twitter:The America I give thanks for (as I depart)