Estou a gostar muito de ler a biografia de Margarida de Magalhães Ramalho: Thomaz de Mello Breyner. Relatos de uma Época, do Final da Monarquia ao Estado Novo. Thomaz de Mello Breyner (1866-1933) foi médico da família real portuguesa, e manteve-se monárquico, após a implantação da república. Tinha o título nobiliárquico de 4º Conde de Mafra. Os seus diários dão-nos uma visão alargada da política e da vida cultural e social de Portugal, nas conturbadas décadas do final do século XIX e princípio do XX. Tinha contactos diversificados, pois conhecia quer todo um círculo de médicos quer escritores e intelectuais seus contemporâneos.
Era casado com Sophia Burnay, filha dos condes de Burnay e avô da escritora Sophia de Mello Breyner Andresen .
A sua linguagem faz-me lembrar alguns termos usados pela minha avó: "Achei-o assarapantado" (confundido).
Hoje, cheguei ao capítulo O REI DA ROMÉNIA. O extracto que transcrevo passa-se em França, na cidade de Vichy.
" Quando à 1h me ia meter no elevador apareceu o rei da Roménia e muito amável (como quase todas as pessoas reais) convidou uma inglesa e a mim para entrar para a cabina. Perguntou-me logo se eu era francês e eu respondi-lhe que não, que era da terra da mãe dele, a senhora infanta D. Antónia, filha de D. Maria II e D. Fernando de Saxe-Coburgo... Jantei às 8h e depois fui convidado a tomar café pelo rei Fernando, que esteve meia hora a fazer-me perguntas sobre Portugal... Tem cara de pouco feliz. A esposa é uma cabrita e o filho mais velho também lhe tem dado desgostos... fui convidado a tomar café pelo rei Fernando, que é uma doçura como só os desgraçados podem ter. Que simpático! É uma mistura de Bragança e Saxe-Coburgo. Disse-lhe que a minha mãe tinha uma carta da mãe dele anunciando o nascimento do 2º filho, que é ele. Disse-me que em Bucareste tem um retrato da minha avó Ficalho.
Aqui no hotel estão umas elegantes romaicas que se põem quase de gatas para falar ao rei... Fiz uma aposta com o rei da Roménia sobre o lugar do nascimento e batismo da mãe dele. Ele diz que foi em Sintra e eu digo que foi em Belém...
Eu já estava farto de Vichy até aos olhos. Só tenho saudades do rei da Roménia, que é um amor de rei, sem, aliás, ser um rei de amor, coitado" ( pag 513-514).
Thomaz de Mello Breyner refere-se, certamente, às conhecidas infidelidades da Rainha Maria da Roménia (1875-1938), casada com Fernando I da Roménia (1865-1927) e à infelicidade desse casamento real.
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