Há trinta anos que passo por este palácio e lamento o seu estado. Ontem, senti a mesma indignação e tirei estas fotografias. Até a minha nora sabia que se me saísse um prémio do euromilhões tentaria comprar esta casa abandonada e fazia um lar de qualidade para a terceira idade. Ainda há pouco tempo falámos disso. Julgava que o seu abandono talvez se devesse a problemas entre herdeiros, como infelizmente às vezes acontece por este país fora.
Uma pequena investigação na net levou-me até à Gazeta de Miraflores e a um artigo que me deu a conhecer o nome desta propriedade: Palácio e Quinta da Graça e à existência de uma placa com as seguintes inscrições gravadas “JJM A 1856” (as iniciais seriam de João José Machado, veterinário e lavrador, que foi proprietário da Quinta da Graça e o ano, provavelmente, o da sua construção).
Também li online uma tese de mestrado que propunha um hotel de charme para aquele espaço e agradou-me a ideia...
Nos anos trinta do século passado, quando foi construído o Estádio Nacional (inaugurado em 10 de junho de 1944) parte dos terrenos da Quinta foram expropriados e serviram também para edificar o Instituto Nacional de Educação Física (INEF), hoje Faculdade de Motricidade Humana (FMH). Quanto à casa, esteve durante anos ao abandono, tendo posteriormente servido de apoio a retornados das antigas colónias (em 1975, uma assistente social comentava que trabalhara no local como funcionária do IARN - Instituto de Apoio ao Retorno dos Nacionais).
Todavia, foi em 1993 que sofreu um grande incêndio deixando a propriedade neste estado lastimável de que praticamente só restam as fachadas. Nessa altura funcionava como biblioteca da FMH, da Universidade de Lisboa, administradora do imóvel. Nesse incêndio, foi também destruída uma capela dedicada a Nossa Senhora da Graça, parte integrante no palácio e que teria admiráveis vitrais, mármores, frescos, tectos pintados e belíssimas telas, em que se destacava um valioso quadro dos Magos.
O tecto da capela do Palácio da Quinta da Graça, apresentado na
tese de mestrado de António Ernesto de Deus Martins.
O que resta dos tempos áureos deste Palacete e Quinta são as ruínas, que metem dó a quem passa e olha.
A propriedade está situada na Estrada da Costa, que liga a Cruz Quebrada a Linda-a-Velha e fica perto dos Campos de Ténis do EN, hoje em dia designado por Complexo Desportivo do Jamor, onde, alíás, se encontra um cruzeiro do século XVII, que teve melhor sorte e foi recolocado em 2005...
Li também, em notícia de janeiro de 2022, que foi assinado um acordo com o compromisso da FMH ceder à Câmara Municipal de Oeiras o direito de superfície da Quinta da Graça e do Pavilhão dos Esteiros, na Cruz Quebrada. O Município de Oeiras tem previsto a criação de uma escola de dança e de bailado, na Quinta da Graça e a reabilitação do pavilhão ou construção de um novo espaço gimnodesportivo polivalente, no terreno dos Esteiros.
Espero que este acordo se realize brevemente e que eu possa ver esse belo espaço renovado...
Quem passeia por esta zona pode ainda observar junto à rotunda das piscinas do Jamor uma outra casa abandonada, um edifício de traça senhorial de dois pisos. Seria a casa do chefe do pessoal dos trabalhos silvícolas dos terrenos do antigo Casal do Esteiro, uma antiga propriedade agrícola da Casa de Lafões, que também foi expropriada dos seus terrenos para a construção do imponete EN.
E no EN, junto à pista de atletismo e passagem para a Senhora da Rocha existem duas ruinas, que eu em tempos alertei a CMO para a sua degradação. Informaram-me que a "gestão" destas pertence ao Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Sem palavras...
https://www.facebook.com/gazetamiraflores
file:///C:/Users/35193/Downloads/Reabilita_QG_PosDiscussao%20(6).pdf
Sem comentários:
Enviar um comentário