Em abril visitei o novo Centro Interpretativo Murais de Almada nas Gares Marítimas, que gostei muito.
Depois, na Casa Fernando Pessoa, voltei a ver o retrato do poeta dos heterónimos pintado por Almada Negreiros em 1954 para o restaurante Irmãos Unidos, onde o grupo da revista Orpheu se reunia. Quando o restaurante fechou, em 1970, o seu recheio foi leiloado e comprado por um antiquário, o qual, mais tarde, vendeu aquele quadro ao empresário e colecionador Jorge de Brito, que o doou à Câmara Municipal de Lisboa. Desde a inauguração da Casa Fernando Pessoa, em 1993, essa obra integra o acervo do museu.
Em 1964, o próprio Almada Negreiros pintou uma réplica, que se encontra no Centro de Arte Moderna Gulbenkian.
Quando Almada Negreiros recebeu a encomenda para fazer as pinturas murais das gares marítimas já tinha trabalhado com o arquiteto Pardal Monteiro na decoração da primeira igreja modernista construída em Portugal: a Igreja de Nossa Senhora de Fátima, na Avenida Marquês de Tomar, inaugurada em 13 de outubro de 1938.
Originou forte polémica, porque o arquiteto não era crente e também porque a sua arquitetura, dizia-se, não se adequava à tradição do Estado Novo.
Decidi, hoje, visitar esta igreja e a do Santo Condestável em Campo de Ourique para ver os vitrais de Almada Negreiros. Estavam abertas à tarde e o atendimento foi atencioso em ambas. Dispõem de um folheto elucidativo sobre as obras de arte.
Gostei destas visitas. Lembrei-me, a propósito, de um casal amigo, cuja mulher sugeriu ao marido fazer passeios semelhantes para saírem de casa e se entreterem; porém, ele não se mostrou recetivo, exclamando: "o quê, para ir ver igrejas...?". Evidentemente, não visito apenas igrejas. No entanto, há muito que constatei que as igrejas são os monumentos mais espetaculares e significativos por toda a Europa. São igualmente os edifícios através dos quais melhor se pode apreciar a evolução da arte europeia. E sempre estiveram abertas ao público, constituindo, durante épocas, os mais importantes locais de reunião. Aliás, até aos meados dos anos 60 do século XX, as missas e outras cerimónias religiosas eram celebradas em latim, pelo que a maior parte das pessoas não devia compreender, de facto, o que rezava ou repetia, pelo que a grandiosidade das igrejas com as suas pinturas e esculturas eram formas de ilustrar e incutir religiosidade junto das populações e, mesmo hoje em dia, representam evocações importantes para muita gente.
O batistério é então de uma rara beleza. Almada utilizou o vitral, o mosaico a pintura mural e o ferro no portão para uma recriação da fonte de vida.
Fresco do altar-mor dos pintores Portela Júnior e Joaquim Rebocho representando a glorificação de São Nuno de Santa Maria (Nuno Álvares Pereira).
Belíssima imagem de Nossa Senhora do Rosário do século XVIII, que foi trazida da Igreja de São Domingos antes do grande incêndio.
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