Ontem comecei a ler o livro Trinta árvores em discurso directo de António Bagão Félix com ilustrações de João Leal Pereira, publicado em Março 2013 pela Sextante Editora. É uma obra fascinante. Mostra o entusiasmo do autor pela botânica. Escolhe trinta árvores, caracteriza-as e aponta as respectivas ligações à literatura e à arte. Como o próprio título indica, elas são apresentadas na primeira pessoa, o que confere muita originalidade ao discurso, tornando-o mais próximo do leitor. Inclui-se ainda um quadro com árvores de interesse público em Portugal e um glossário da nomenclatura botânica.
Foi um prazer ver o eucalipto, essa árvore às vezes tão mal-amada, ser uma das escolhidas.
O eucalipto
O género inclui mais de 700 espécies, quase todas originárias da Austrália. No século XVIII foi objeto de estudo de naturalistas franceses, que o transportaram para França, onde iniciou o seu caminho na europa. Em Portugal os primeiros exemplares surgiram em meados do século XIX. Tolera terrenos húmidos e até encharcados, desde que não sejam excessivamente calcários, motivo pelo qual tem sido aproveitado para transformar charcos e pântanos em terrenos produtivos.
O eucalipto é uma árvore de crescimento muito rápido, chega com facilidade aos 40 metros de altura, podendo atingir 70 ou mais metros. Se for cortado volta a rebentar de toiça* em mais do que uma vara.
Convive sem problemas com pinheiros, sobreiros e muitas outras árvores.
O seu fruto exala um perfume intenso e agradável, podendo ser usado para combater a traça.
Tem uma importância económica relevante: utilização intensa na produção de pasta de celulose usada no fabrico de papel e, das glândulas das suas folhas, extrai-se o eucaliptol. Esta substância ajuda a combater a tosse, rouquidão, sinusite, sob a forma de xarope ou usa-se na composição de outros fármacos.
Serve de proteção contra alguns insetos e a queima da sua lenha desinfeta ambientes contaminados. A sua madeira foi também usada na construção naval, pelas suas características de incorruptibilidade, mesmo imersa. Na Austrália, também é utilizada para as travessas dos caminhos-de-ferro.
Serve de proteção contra alguns insetos e a queima da sua lenha desinfeta ambientes contaminados. A sua madeira foi também usada na construção naval, pelas suas características de incorruptibilidade, mesmo imersa. Na Austrália, também é utilizada para as travessas dos caminhos-de-ferro.
Um dos mais antigos instrumentos musicais de sopro, o didgeridoo, tocado em muitos rituais da cultura aborígene (os aborígenes eram os habitantes originais do continente australiano) é feito de eucalipto.
E ainda, o conhecido coala, um dos vários animais marsupiais característicos da fauna australiana e atualmente dos mais representados em peluches para crianças, alimenta-se, quase de forma exclusiva, das suas folhas e mata a sede com o suco, que delas retira.
Em Portugal há vários eucaliptos extraordinários, assinalados e protegidos sob legislação que lhes confere a proteção de árvores de interesse público.
O mais imponente é o eucalipto de Contige, com 130 anos, situado na estrada que liga Viseu a Sátão.
*Toiça-porção remanescente do tronco de árvores, após corte, de onde surgem novos rebentos.
Sem comentários:
Enviar um comentário