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sexta-feira, 31 de maio de 2019

Visita do Papa Francisco à Roménia


O Papa Francisco visita a Roménia durante três dias. Bucareste no dia 31 de maio.










trânsito esteve caótico e nem com as escolas fechadas se sentiu melhoria.
No Palácio Cotroceni



Depois de muitas cerimónias oficiais, hoje foi a primeira vez que estive na presença do Papa.

Logo após a chegada ao aeroporto,  o Papa foi ao Palácio Cotroceni, onde teve um encontro com o Presidente da Roménia e o Corpo Diplomático.






Logo de seguida houve uma cerimónia privada no Patriarcado, mas transmitida em direto pela TV e as pessoas na catedral puderam assistir.



No percurso entre o Patriarcado e a Catedral Ortodoxa não usou o papamóvel, mas sim um pequeno Dacia, apesar do primeiro estar lá estacionado.












Foi muito complicado chegarmos à Catedral Nacional, pois havia muitas ruas cortadas, mas por fim vi pela primeira vez a catedral, ainda em construção. A sua edificação começou em 2011 e foi dedicada ao Apóstolo André. Situa-se num terreno oferecido pelo estado romeno, como um ato de reparação pelas cinco antigas igrejas existentes na área três das quais foram demolidas e duas mudadas para outros locais pelo regime comunista para que fosse construída a Casa do Povo, hoje em dia o Palácio do Parlamento. Nesse sentido a nova Catedral Nacional é um "símbolo de Ressureição das igrejas demolidas e também um símbolo da liberdade religiosa do povo romeno, depois de quase 50 anos de regime comunista " (palavras do Patriarca Daniel da Roménia)

Houve diversos pontos de paragem por motivos de segurança e, felizmente, encontrei um guarda muito simpático. Mostrei-lhe o meu convite e ele pediu a minha identificação. Disse-lhe que não tinha levado, porque, como ele podia ver, a minha carteira era muito pequena. Ele sorriu e disse que compreendia... Claro que o meu marido também veio ajudar-me mostrando a sua e a dizer que era a sua mulher...Disse-me depois que tenho de andar sempre com o cartão de identificação...


Na Catedral fiquei muito bem sentada na segunda fila.
A primeira era para o presidente, a primeira-ministra, antigos presidentes, a guardiã da coroa romena e sacerdotes. Estava entretida a tirar fotos do grande ecrã de TV, colocado à direita e esquerda do altar, quando avisaram que deviamos desligar os telemóveis e não seria permitido fotografias. Achei um disparate, mas estava a cumprir até entrar o Papa e toda a gente sentada à minha frente começar a gravar e fotografar. Decidi fazer o mesmo...




O Papa Francisco recebeu um ícone de Santo André, o Padroeiro da Roménia. 



Da Catedral Ortodoxa o Papa foi para a Católica celebrar missa transmitida num grande ecrã numa praça junto ao Ateneu, onde se realizou um jantar volante.



O Papa não compareceu ao jantar, mas ainda andou de papamóvel pela praça, antes de começar a chover.


A saída da Catedral foi dificil, novamente com muito trânsito cortado, mas valeu a pena. Foi uma oportunidade histórica..














Notícias relacionadas:


   The film of a Day to Remember (Nine O´clock)









quarta-feira, 29 de maio de 2019

A História do Egito em fotografias

 Hoje fui a um encontro da associação IWA (International Women´s Association ) em conjunto com a  SPOHOM (Spouses of Heads of Mission) na residência da Embaixada do Egipto.



A exposição foi apresentada pelo próprio Embaixador, um apaixonado pela história do seu país e um amante de fotografia.







Depois convidou uma fotógrafa romena, a qual, em 2018, teve uma fotografia sua considerada entre as 100 melhores do mundo, a mostrar parte do seu álbum sobre  uma aldeia egípcia (tinha um bonito vestido tipico da localidade que fotografou).













Um ator egípcio, que está na Roménia para um festival de marionetes, mostrou a sua "egípcia" a tocar rababa.
























Foi uma manhã muito interessante e bem passada. Fiquei com pena de não ter visitado os templos em Abu Simbel, uma aldeia núbia junto à fronteira com o Sudão. O Embaixador mostrou fotografias tiradas durante o festival do sol:

(foto da net)
A 22 de fevereiro e 22 de outubro (as datas de nascimento e coroação do Faraó Ramsés II) o sol entra no templo e ilumina as estátuas dos reis, porém a estátua, no mesmo templo, do deus Ptá continua no escuro.




Trata-se sem qualquer dúvida de um extrordinária obra arquitetónica, há mais de 3000 anos.







Este encontro serviu de pretexto para rever as minhas fotografias muito, muito amadoras tiradas no Egito, o ano passado.

terça-feira, 28 de maio de 2019

Sophia- a biografia de Isabel Nery

Sophia de Mello Breyner Andresen (Porto, 6 de novembro de 1919 - Lisboa, 2 de julho de 2004) nasceu no seio de uma família aristocrática. Com o avô materno Thomaz de Mello Breyner (1866- 1933) médico da família real e 4º Conde de Mafra, Sophia aprendeu a recitar de cor mesmo antes de saber ler.
Como a autora, Isabel Nery, nunca conheceu Sophia pessoalmente, visitar todos os locais por onde a escritora passou tornou-se um dever, que a ocupou antes de começar a escrever o livro. Do Porto, onde Sophia nasceu, passando pelo bairro da Graça em Lisboa (onde Sophia viveu na Travessa das Mónicas, 57), cujo miradouro foi rebatizado em sua honra; a Praia da Granja, onde passava o verão na infância e juventude; Lagos onde tinha as férias com os filhos (os banhos de mar, as grutas, o mercado) ou até mesmo a pequena ilha de Föhr, no mar do Norte para descobrir o bisavô paterno Andresen, dinamarquês, que veio para Portugal no século XIX. 
A Grécia surge frequentemente nos poemas de Sophia com o nome de lugares visitados, figuras históricas e mitológicas. Sophia esteve na Grécia em 1963 e, em 1986, fez parte da comitiva presidencial na visita do Presidente Mário Soares à República Helénica. Foi outro dos locais visitados por Isabel Nery antes de escrever a biografia- tentar talvez explicar o que levou a poeta ao fascinio pela civilização grega, a união perfeita entre os deuses e a natureza... é estranho mas a obra de Sophia nunca foi traduzida para grego...

O mar é outro elemento simbólico de grande importância em toda a obra poética de Sophia de Mello Breyner Andresen.

A Praia da Granja despertou-lhe a paixão pelo mar. Situa-se no concelho de Vila Nova de Gaia, distrito do Porto.
Teve origem no lugar da Granja, freguesia de São Félix da Marinha, com a construção de uma quinta, em 1758, denominada a Quinta da Granja, mais tarde Quinta dos Ayres e hoje conhecida por Quinta do Bispo. Pertencia aos frades crúzios do Mosteiro de Grijó, que a utilizavam como estância de convalescência e repouso. Tornou-se moda a aristocracia portuguesa passar os verões na Granja.



"De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.
Há muito que deixei aquela praia
De grandes areais e grandes vagas
Mas sou eu ainda quem na brisa respira
E é por mim que espera cintilando a maré vasa".

Sophia de Mello Breyner Andresen





Praia de Lagos 






«Quando morrer voltarei para buscar os instantes que não vivi junto do mar»

Sophia de Mello Breyner Andresen


É difícil ficar indiferente ao esplendor da Casa Andresen, anteriormente denominada Quinta do Campo Alegre 
Passou para as mãos da família Andresen em 1895, quando o avô de Sophia de Mello Breyner a adquiriu a um brasileiro. A partir daí Joana e João Henrique Andresen iniciaram trabalhos para enaltecerem o espaço. Foram eles que terminaram a renovação da casa e dos jardins.

Foi aqui que Sophia nasceu e cresceu, num ambiente católico e culturalmente privilegiado, a brincar livremente pelos jardins na companhia do, também escritor, Ruben A. A influência da casa pode ser lida em muitas das suas obras. È onde  fica o Jardim do Rapaz de Bronze, uma das mais conhecidas obras de Sophia de Mello Breyner. "A vida social era intensa na Casa Andresen, sendo frequente a presença de escritores, pintores e músicos, além dos homens de negócios. mas a maior festa do Campo Alegre era o Natal, permanecendo toda a vida a época favorita de Sophia" (pag 61)

Mudou-se para Lisboa, em 1937, para frequentar a Universidade de Lisboa (a Faculdade de Letras do Porto tinha sido encerrada durante a ditadura militar, em 1928) e começou a viver em casa dos tios no Campo Grande. No entanto, abandona o curso logo no ano seguinte e, sete anos depois, lança o primeiro livro Poesia. Em 1946, casa com o advogado Francisco Sousa Tavares (1920-1993) com quem teve cinco filhos, que a motivaram a escrever contos infantis.

Influenciada pelo marido, inicia a actividade contra o regime de Salazar. Ficou para a história este seu poema cantado por Francisco Fanhais:                                                                                                                                                       
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar

Vemos, ouvimos e lemos
Relatórios da fome
O caminho da injustiça
A linguagem do terror


A bomba de Hiroshima
Vergonha de nós todos
Reduziu a cinzas
A carne das crianças

DÁfrica e Vietname
Sobe a lamentação
Dos povos destruídos
Dos povos destroçados

Nada pode apagar
O concerto dos gritos
O nosso tempo é
Pecado organizado.

Depois do 25 de Abril, chegou a ser deputada, o que para a poeta era "uma agonia". Mário Soares convidou-a para ser Embaixadora em Paris, mas Sophia recusou. Em entrevista à RTP, em 1977, reconheceu "A realidade não cumpriu aquilo que eu esperava. A poesia estava na rua, mas tinha sido rapidamente empurrada para dentro de casa" (pag 207)

O casamento trouxe a Sophia muitos dissabores: a falta de dinheiro quando o marido foi preso (os filhos foram  viver com familiares que tinham possibilidades para cuidar deles, como escreve Miguel Sousa Tavares no "Cebola Crua com Sal e Broa"), o vicio do marido em jogar bridge a dinheiro e as infidelidades, levaram ao divórcio litigioso de Francisco Sousa Tavares e Sophia de Mello Breyner Andresen, em 1986.

Não devia ser fácil lidar com Sophia: os humores, ironias e estilo de vida desorganizado. Como dizia  a criada Luisa "Se não fosse eu comia-se poesia cá em casa" O seu ar um pouco altivo deve ter afastado o aparecimento de uma biografia da poeta, considerada uma das mais importantes escritoras portuguesas do século XX. Mas veio a tempo... a biografia de Isabel Nery, que se publicou este mês vem celebrar os 100 anos do nascimento de Sophia de Mello Breyner, que muito admiro, como já tive ocasião de manifestar noutro post. Estou agradecida por ter aprendido coisas novas, que provam que a marca de Sophia ficou para a história da literatura portuguesa.



Filme Sophia de Mello Breyner Andresen de J. César Monteiro, 1970


Nery, Isabel. SOPHIA de Mello Breyner Andresen. Biografia. A esfera dos livros. 1º edição. maio 2019.






segunda-feira, 27 de maio de 2019

Dia Nacional do Azerbaijão





Hoje regressei ao Clube Diplomático para celebrar o Dia Nacional do Azerbeijão. Desta vez a cerimónia realizou-se  no interior.






Foi simpático rever algumas "colegas" com quem me dou bem, apesar de ter ficado a saber que a croata vai-se embora, este verão; porém esperava ficar cá mais um ano. São sempre desgastantes as noticias que vamos partir sem saber ainda para onde....

Quando vim para a Roménia esperava ir visitar uma amiga, com quem jogava bridge (ela era mais a professora) a Baku, para onde o marido foi transferido de Caracas, mas já pensei que não vamos ter tempo. Não é fácil conciliar tudo, pois surgem outras prioridades e é muito difícil manter-se amizades duradouras, estando sempre a mudar de sitio...





O ano passado fui a esta festa. Pelas fotos vi que o embaixador é novo, mas que a vice-primeira ministra é a mesma. Creio que o ano passado também falou muito bem da comida do Azerbeijão, que iríamos ter oportunidade de provar de seguida...

domingo, 26 de maio de 2019

4ª Edição do Concerto Metropolitan Life








Realizou-se hoje no jardim do Clube Diplomático um concerto patrocinado pela MetLife para celebrar os 20 anos do seu trabalho na Roménia.






Na abertura do concerto tivemos um jovem pianista/ compositor Ionut Diaconu, que está a fazer Erasmus em Portugal.








De seguida os músicos Remus Azoitei (violino) e Eduard Stan (piano) com projecção internacional, que tocaram peças de Kreisler, Beethoven, Brahms, Grieg, Chopin, Porumbescu, Paganini e Saint-Saens.


Nunca tinha ouvido a balada de Ciprian Porumbescu, um dos compositores romenos mais celebrados da sua época (século XIX). Foi preso pelas autoridades austríacas devido à sua actividade politica e foi na prisão que escreveu esta balada.


No final do concerto foi oferecido um buffet e o meu marido foi falar com o jovem pianista e escreveu-lhe nomes de compositores portugueses... tipico....








À saida ainda me ofereceram um bonito cacto. Final de tarde muito musical e gradável no meu regresso a Bucareste.







Colecionar é recordar

Há diversos tipos de colecionadores. Sou do tipo "amador". Era incapaz de gastar uma fortuna por uma peça que faltasse na minha coleção, como fazem os verdadeiros colecionadores.
A maior coleção que tive foi de porta-chaves de diversos países e incentivei a minha filha a continuar. No seu quarto de adolescente tinha orgulho nos quatro quadros que mandei fazer para pendurar os porta-chaves, que estavam apinhados sem espaço de folga. Com o passar do tempo e redecoração do quarto os porta-chaves deixaram de ter lugar. Estão agora guardados na garagem, à espera que a nova geração se interesse por eles 


Os quadros ainda tiveram uso, depois de forrados com um novo pano: serviram para expor o plano das mesas na festa do casamento da minha filha.


Depois foi a coleção de canecas...

E as fotografias e molduras? São muitas e continuam a crescer, agora com três netos...





Em Caracas adquiri umas bonitas caixas em madeira. Já não tenho espaço para mais, no entanto na república da Moldova ainda comprei uma...







As caixas começaram por ser em porcelana, da Vista Alegre, que me foram oferecendo, depois vieram as de prata, essencialmente da Turquia.
Com netos pequenos, muitas  tiveram de ser guardadas e quando vou a Portugal já nem as vejo.





Na minha recente viagem a Malta vi num museu uma bonita coleção de  pequenos frascos de perfume em prata, que serviam para as senhoras despertarem, quando estavam a sentir-se mal, porque o espartilho se tornava insuportável...






Esta coleção deu-me um "clique" e pensei que ia trazer para Bucareste a minha pequena coleção de caixas de comprimidos (a maioria foi  herdada) e é fácil de transportar. 






Fui a uma ouriversaria e mandei gravar duas delas, sem ornamentação, com a letra B. 


Há que começar a dividir as coisas para não deixar os pais desprevenidos sem saber o que fazer com as minhas pequenas coleções ou memórias. Esta  é para a minha neta Beatriz, mas hoje, um dia após o meu regresso, está à vista. Assim sempre as posso gozar...  

Colecionar é recordar...


sexta-feira, 17 de maio de 2019

Um Cardeal bem humorado


Tenho uma grande admiração pelo Cardeal Sean O`Malley. Enquanto vivi nos EUA (1999-2005) fui a muitos convívios, nos quais estava presente e, frequentemente, ficava sentada a seu lado. Fala português com fluência, pois é doutorado em Literatura Espanhola e Portuguesa. Perguntava sempre pelos meus filhos e interessava-se com o que lhe contava das atividades escolares. A minha filha frequentava o 2º ciclo e teve o projecto de gerir um orçamento familiar, com base nos rendimentos "atribuídos" pela professora, sabendo que 10% da sua quantia e da do "marido" eram obrigatoriamente transferidas para uma conta poupança. Achei muito interessante este trabalho, porque tratava-se de uma maneira de perceber o valor das coisas. O bispo O´Malley também gostou da ideia e no encontro seguinte ainda se lembrava. 

Nessa altura éramos convidados para assistir a duas grandes cerimónias religiosas típicas dos Açores, de onde era oriunda a maioria da população daquela região de Massachusetts: O Senhor Santo Cristo e o Santíssimo Espírito Santo. Eram convidadas as pessoas mais importantes da localidade, quer civis quer políticos, portugueses e americanos. Logo que nos via, cumprimentava-nos sempre de maneira  amável. Quando o convidámos para um jantar de homenagem ao filho de Aristides de Sousa Mendes, telefonou a desculpar-se por não poder estar presente, pois não iria estar em Massachusetts. Um autêntico gentleman

Fundou  o Centro Católico Hispano, organização que fornece ajuda educacional, médica e jurídica a imigrantes. Lembro-me de contar uma história que me deixou muito emocionada: um imigrante enviava todos os meses dinheiro para a sua família, que ficara na terra natal, só que a mulher nunca recebia; e, passado um ano, pensava que o seu marido nos Estados Unidos se desinteressara dela e dos filhos. Foi aí que o padre quis saber o que se passava. O homem afirmou que remetia dinheiro todos os meses para a família, apontando então para o outro lado da rua da Igreja, onde colocava o que poupava e enviava, o caixote do lixo, que tinha a forma e cor do marco de correio da sua terra...

As mensagens, discursos e pregações do cardeal O´Malley fascinam com a sua experiência pessoal e as relações humanas, que foi construindo. Depressa nos apercebemos da sua enorme cultura e das muitas leituras que faz e cita, despretensiosamente. O recurso ao humor é uma das suas características.

Foi ordenado bispo em 1984 e nomeado para as Ilhas Virgens, em 1985. Na sua Diocese vivia a famosa atriz Maureen O´Hara. Posteriormente foi transferido para a diocese de Fall River, em Massachusetts. Foi aí que o conheci, em 1999. A primeira vez que me falaram dele foi por causa de uma manifestação, em New Bedford, para a libertação de Timor Leste, em que esteve presente.

Graduation Day 2002


Quando o meu filho acabou a escola secundária, recebeu o diploma das mãos do  Bispo de Fall River.










No Dia de Portugal esteve presente na receção do Consulado de Portugal em New Bedford, pela primeira vez.







Em 2002, foi enviado para Palm Beach, Flórida, como Bispo, para substituir os anteriores, afastados por abuso sexual de menores.

Pouco mais tarde, em 2003, foi nomeado Arcebispo de Boston. Foi feito Cardeal pelo Papa Bento XVI, em 2006.

Em 2013, o Papa Francisco escolheu-o para o Conselho dos Cardeais, grupo internacional de assessores do Papa. Em 2014, tornou-se Presidente da Pontífica Comissão Para a Proteção de Menores.

Quando soube que saiu um livro da sua autoria tive muita curiosidade em lê-lo. Até pelo título. Alguns capítulos são homilias, outros conferências em que participou. Além dos aspectos de doutrina da Igreja, escreve sobre o Papa Francisco " Um Papa jesuíta franciscano" e conta uma anedota, que há anos contou ao meu marido, que fez a escolaridade num colégio jesuíta - São João de Brito: "Um Jesuíta e um Franciscano são abordados por um jovem que lhes pergunta, Senhores Padres sabem-me dizer que novena devo fazer para ter um BMW? O Franciscano perguntou: "O que é um BMW?" E o jesuíta: "O que é uma novena?" 

Aliás, o humor está presente em todo o livro: "um bispo disse, uma vez, que as três mentiras mais comuns dos sacerdotes são: eu não tenho dinheiro...essa mulher é minha irmã... e eu rezei por si".

No entanto, quando aborda o tema da pedofilia é muito duro e aconselha a visualização do filme Spotlight. "O abuso de crianças aparece e desenvolve-se numa atmosfera de sigilo e ocultação. A Igreja tem de ser líder na denúncia deste grave problema humano. Para isso, temos de dizer claramente que nenhum clérigo ou religioso que tenha abusado de uma criança será permitido continuar no ministério"; e "Um grama de prevenção vale um quilo de cura".




Cardeal Sean O´Malley. Procura-se Amigos e Lavadores de Pés. Paulinas, 2019








domingo, 12 de maio de 2019

Sobre as formas de tratamento



Uma das últimas conversas que me lembro de ter com o meu pai, que morreu quando eu tinha 7 anos, foi sobre a minha pergunta: qual a diferença entre um "homem" e um "senhor"!? Ficaram meio atrapalhados, os meus pais e quiseram saber o que tinha motivado a questão. Expliquei que na escola tinham tocado à campainha e um colega disse à professora que era um senhor... A pessoa em questão levava um cesto de fruta para vender e a professora disse logo que não era um "senhor", mas sim um "homem". 

O meu pai respondeu que devia então perguntar à professora se o seu marido, que tinha um talho no mercado municipal, era um "homem" ou um "senhor". A minha mãe, logo toda nervosa, “ Oh Zé, não vês que ela vai dizer isso para a escola!? “ Na verdade não contei. Fiquei “esclarecida” e ainda me recordo.

Na minha infância, a estratificação social era mais marcada. Daí haver diversas formas de tratamento correspondentes ao que as pessoas consideravam ser diferenças de nível social.

Atualmente, há muita banalização das maneiras, talvez para dar uma ideia de nivelamento (por baixo). Já não me choca tanto, mas quando começaram os telefonemas dos call centers com sondagens era raro o dia que não telefonavam para falar com a “Senhora Teresa”. Respondia que a Srª Teresa já tinha saído. Lembro-me de uma colega dar a mesma resposta e, perante a insistência do interlocutor, respondeu-lhe que a Sra tinha ido para Guantánamo.

in O Funchal na obra de Max Römer

Há alguns anos, Sra Teresa, por exemplo, seria usado para uma mulher considerada de estrato social mais baixo. Assim, na época em que não havia máquinas de lavar ou secar, a lavadeira da nossa casa era a Sra Augusta, que vinha buscar a roupa a casa num enorme saco de pano, que transportava na cabeça e a engomadeira era a Sra Teresa.

Depois havia o Dona (nível intermédio) e o Senhora Dona. – contraído de forma a soar Sôdôna apropriado a quem se desejava demonstrar respeito, como o Sôtora (Senhora Dra.).

Hoje em dia, trato a empregada, que já não é jovem, por D. Rosalina. Se fosse mais nova utilizaria só o primeiro nome.





Podem tratar-me por Dona ou Senhora Dona, que é como deve ser, mas por favor Senhora Teresa, NÃO. Há tempos fiz fisioterapia num sítio na Av. da República, que não recomendo, até pela história que se passou comigo. Não é que tratavam todas as pessoas pelo primeiro nome!? Pessoas de uma certa idade…Na minha opinião pode-se mostrar carinho e ao mesmo tempo respeito. Dessa maneira, nada implica que uma jovem chame ou trate alguém mais velho, que tem idade para ser sua avó, pelo nome próprio, apenas porque uma qualquer função ou tarefa lhes dá alguma ascendência momentânea sobre a pessoa mais idosa. Essa tentativa de criar falsa intimidade só provoca desconforto. Aliás, na minha opinião esse tipo de regra de distanciamento saudável e educado deve-se aplicar no relacionamento com clientes e evitar-se o horroroso você, infelizmente tão vulgarizado nos tempos que correm... 

Para os homens há uma certa diferença. O tratamento pelo apelido nos homens é uma forma deferencial, uma consideração. A um homem que se chame Paulo Silva devo tratar por Senhor Paulo Silva ou Senhor Silva, nunca por Senhor Paulo. Se tiver direito ao título de Dr, fica Sr. Dr. Paulo Silva e nunca Dr. Paulo, como se ouve nos Centros de Saúde…

Podemos sempre dizer que em português há uma maneira simplificada e educada de tratar as pessoas usando o verbo na terceira pessoa, omitindo o sujeito (indeterminado) com o uso de "senhor/a", como por exemplo "o senhor/a…….por favor?

Já que comecei a escrever sobre formas de tratamento, antes da influência brasileira, recordo-me que no meu tempo de adolescência o "você" era fino. Era tratamento entre "queques" da rapariga para o rapaz ou vice-versa, assim como o "menino" e, sobretudo, a "menina"...Era como que uma marca social, semelhante como chamar "tio" ou "tia" aos pais de amigos mais íntimos ou próximos .

Hoje em dia, como sabemos, as convenções sociais, designadamente no convívio entre pessoas, estão muito subvertidas. As fórmulas antigas não foram substituídas por outras e reina certa confusão…Depois, como diria a minha avó, há muita falta de chá...