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terça-feira, 23 de setembro de 2014

Pequena elegia de Setembro




Não sei como vieste, 

mas deve haver um caminho 

para regressar da morte. 

Estás sentada no jardim, 

as mãos no regaço cheias de doçura, 

os olhos pousados nas últimas rosas 

dos grandes e calmos dias de setembro. 



Que música escutas tão atentamente 

que não dás por mim? 

Que bosque, ou rio, ou mar? 

Ou é dentro de ti 

que tudo canta ainda? 



Queria falar contigo, 

dizer-te apenas que estou aqui, 

mas tenho medo, 

medo que toda a música cesse 

e tu não possas mais olhar as rosas. 

Medo de quebrar o fio 

com que teces os dias sem memória. 



Com que palavras 

ou beijos ou lágrimas 

se acordam os mortos sem os ferir, 

sem os trazer a esta espuma negra 

onde corpos e corpos se repetem, 

parcimoniosamente, no meio de sombras? 



Deixa-te estar assim, 

ó cheia de doçura, 

sentada, olhando as rosas, 

e tão alheia 

que nem dás por mim.


Eugénio de Andrade















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