Depois da visita que fiz recentemente ao Palácio Fronteira, onde se encontram os originais dos conhecidos retratos da Marquesa de Alorna, lembrei-me que tinha o romance histórico baseado na vida da Marquesa de Alorna e ainda não o tinha lido, apesar de ter sido publicado em 2011. Comecei a ler e entusiasmei-me a tal ponto que me apeteceu visitar a Quinta da Alorna em Almeirim; e o convento de Chelas, em Lisboa, onde estiveram enclausuradas, por ordem do Marquês de Pombal, a Marquesa de Alorna e as suas filhas D. Leonor (a heroína do romance e uma das mulheres mais influentes da História da Literatura Portuguesa) e D. Maria de Almeida.
O meu objetivo era modesto, tirar apenas uma fotografia à distância da casa construída no século XVIII para ilustrar este post. Mas tive muita sorte. Dirigi-me ao escritório e informaram-me que não podia entrar na parte privada da quinta, porque estava a ser filmada uma série de televisão adaptada do romance de Maria João Lopo de Carvelho. Desapontada expliquei que só pretendia ver a casa de longe (aliás, não são permitidas visitas ao seu interior). Disseram-me então que esperasse uns minutos, porque iam fazer um telefonema. Daí a pouco uma simpática senhora veio ter comigo e o meu marido para nos levar até ao solar através de uma bonita e refrescante alameda de plátanos. Perguntou-me ainda se eu tinha o livro, porque a escritora estava em casa e podia autografá-lo...
Nas traseiras da casa um jardim francês com muitos acantos
"Os primos já conversavam ruidosamente, lembrando os tempos em que jogavam à apanhada entre os buxos, no jardim das traseiras" (pag 186)
Com a escritora Maria João Lopo de Carvalho
"à chegada, pediu que a deixassem na capela do palácio, queria agradecer a Deus aquele momento... D. Mariana de Atouguia, a sós na capela, rezava com fervor..." (pag 186)
A Quinta da Alorna com uma área total de 2.600 hectares, encontra-se dividida em 3 diferentes áreas: vinha, produção de milho, batata, batata doce, amendoim, ervilhas e feijao frade, além da área florestal com montado de sobro, de onde retira a cortiça, pinhal manso para produção de pinhão e eucaliptos para pasta de papel.
Enorme ombu com 300 anos. O arbusto que mais parece uma árvore é oriundo das pampas, na América do sul e é conhecido por Bela Sombra
"Após ter conquistado a resistente Praça Forte de Alorna nas vizinhanças de Goa, onde exercia o cargo de Vice-Rei, D. Pedro de Almeida recebeu do Rei de Portugal, D. João V, o título de 1º Marquês de Alorna.
D. Pedro de Almeida foi avô de D. Leonor, IV Marquesa de Alorna – a poetisa Alcipe. Nessa altura (1723) a quinta, pertencente ao Marquês de Alorna, era conhecida por quinta de Vale de Nabais.
Muitos anos mais tarde, duas das filhas da Marquesa de Alorna venderam a “Quinta dos Alorna” (assim era chamada) aos condes da Junqueira, e os herdeiros alienaram-na em hasta pública, passando-a para as mãos do Dr. Manuel Caroça – bisavô dos atuais acionistas – respeitável médico-dentista, corretor de mercadorias e homem de grandes negócios que acabou por tornar-se no único proprietário da Quinta da Alorna.
A Quinta da Alorna, conta com 300 anos de história e está há cinco gerações com a família Lopo de Carvalho."
https://alorna.pt/quem-somos/
Na segunda etapa do meu percurso ao encontro da Marquesa de Alorna fomos ao antigo Convento de Chelas, hoje em dia o Arquivo Histórico Militar. Aí vimos a cela onde ficou instalada. Nos dias anteriores tinha lá estado a equipa de filmagem e, em pouco tempo, retiraram tudo o que estava dentro daquela divisão e decoraram a rigor para criar o cenário para as filmagens. A série baseada na obra de Maria João Lopo de Carvalho só deverá começar a ser transmitida na RTP1 para o ano e conta com algumas das mais conhecidas atrizes portuguesas.
Sozinha no bosque
Com meus pensamentos.
Calei as saudades,
Fiz trégua a tormentos.
Olhei para a Lua,
Que as sombras rasgava,
Nas trémulas águas
seus raios soltava.
Naquela torrente
Que vai despedida,
Encontro assustada,
A imagem da vida.
Do peito, em que as dores
Já iam cessar,
Revoa a tristeza,
E torno a penar.
Marquesa de Alorna (1750-1839)
(Dona Leonor de Almeida de Portugal Lorena e Lencastre, Condessa de Assumar e de Oeynhausen) " Alcipe"
M. Ema Tarracha Ferreira. Textos literários séculos XVII e XVIII. Editorial Aster, 1966
O sacerdote Francisco Manuel do Nascimento, mais conhecido por Filinto Elísio (1734- 1819) começou a frequentar o convento para ensinar latim a Leonor e música à sua irmã. Foi ele que a batizou com o pseudónimo de "Alcipe" - nome de uma das filhas de Marte, o deus romano da Guerra . Também a ele se devem as precoces tendências filosóficas, científicas e progressistas da Marquesa de Alorna, emprestando-lhe muitos dos livros, cujas leituras a terão influenciado.
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