Em 2013 li o livro de Bagão Félix Trinta Árvores em discurso directo. Gostei muito e fiz um post baseado no livro sobre o eucalipto.
Agora comprei uma versão atualizada: Quarenta Árvores em discurso directo e comecei pela tília, uma árvore de que gosto muito.
No castelo de Bojnice, na Eslováquia existe uma tília do século XIV, que pode ainda ser admirada hoje em dia, onde se diz que o rei Matias Corvino gostava de se sentar à sua sombra. Diz-se até ter assinado muitos documentos por baixo dessa árvore,
Vivi na Eslováquia, antes de me reformar. Foi um período dificil por causa da pandemia. Há pessoas que praticamente só conheci de máscara, mas cheguei a fazer um post sobre a tília, a árvore nacional daquele país.
Onde moro em Portugal, no concelho de Oeiras e perto do Estádio Nacional, há muitas tílias, que nesta altura enchem o ar com um aroma bem agradável.
Grande tília na alameda de tílias na praceta onde moro
Gosto muito de passear a pé nesta altura. Depois da minha praceta decorada com tílias, sigo em frente, encontro 3 bonitos jacarandás (sobre os quais irei ler a seguir) e, depois, chegamos ao jardim das Tílias, com uma placa, recordando a sua inauguração em 1997.
Hoje reparei que a seguir, onde se encontram uns prédios de que não gosto, estão já em flor as hortensias, que de ano para ano se tornam mais bonitas e alegram aquele espaço.
Devo dizer que tenho uma grande frustração relativamente a estas flores, pois quando vim para Portugal, a empresa de mudanças da Eslováquia esqueceu-se de as meter no camião.
Apesar do seguro me ter indemnizado, pelo valor que escrevi no inventário, gostaria muito mais de as ter... é que nos 3 anos que lá vivi cresceram tanto e estavam mesmo adaptadas no grande vaso...
No livro menciona-se a grande avenida de Berlim, que termina junto ao hotel Adlon e às Portas de Brandemburgo: Unter den Linden, que como o nome indica está ladeada de tílias. Durante o inverno não são tão bonitas, ficando despidas de folhas.
Uma curiosidade: o taxonomista e botânico sueco Karl von Linnaeus, mais conhecido por Lineu, deve o seu nome à tília, senão vejamos: o seu pai para entrar na universidade não possuía qualquer título nobre, à semelhança da maioria dos alunos (ver origem de snob). Ocorreu~lhe utilizar o nome de uma quinta de tílias, que possuía, numa versão mais "aristocrática" em latim (de Linnaeus)... (pag 282)
No final, o capítulo sobre a tília deixa-nos com um bonito poema...
Voz da Tília
Diz-me a tília a cantar: "Eu sou sincera,
Eu sou isto que vês: o sonho, a graça,
Deu ao meu corpo, o vento, quando passa,
Este ar escultural de bayadera...
E de manhã o sol é uma cratera,
Uma serpente de oiro que me enlaça...
Trago nas mãos as mãos da Primavera...
E é para mim que em noites de desgraça
Toca o vento Mozart, triste e solene,
E à minha alma vibrante, posta a nu,
Diz a chuva sonetos de Verlaine..."
E, ao ver-me triste, a tília murmurou:
"Já fui um dia poeta como tu...
Ainda hás-de ser tília como eu sou..."
Florbela Espanca, in António Bagão Félix
Quarenta Árvores pag 284
Quem quer "chá" de tília antes de se deitar?