Avó Maria (1892-1975)
Quando se aproxima a evocação do centenário da Grande Guerra, em 2014 e o 95º aniversário da assinatura do armistício, que pôs fim à Primeira Guerra Mundial no dia 11 de novembro, dedico este post à minha avó Maria (1892-1975). Costumava, emocionada, contar-me histórias da Grande Guerra, como a dos bombardeamentos do Funchal por submarinos alemães, ocorridos em 1916, no dia 3 de dezembro e, pouco mais de um ano depois, em 12 de dezembro de 1917.
A Alemanha havia declarado guerra a Portugal no dia 9 de março de 1916, em resultado do apresamento, por parte do governo português, dos barcos alemães e austro-húngaros fundeados em portos nacionais, em resposta a um pedido oficial da Grã-Bretanha, ao abrigo da Aliança Luso-Britânica.
A baía do Funchal durante a Grande Guerra
O primeiro bombardeamento do Funchal durou cerca de duas horas. Foi precedido pelo torpedeamento da canhoeira La Surprise da marinha de guerra francesa, ancorada no porto daquela capital madeirense, que submergiu em cerca de dois minutos e provocou a morte imediata de 33 tripulantes e 8 madeirenses da empresa Blandy, que no momento forneciam carvão ao navio. O navio francês Kanguroo foi também torpedeado. No entanto, como a submersão não foi tão rápida, ainda disparou vinte e cinco tiros contra o submarino, embora nenhum deles tivesse atingido o alvo.
Decorrido pouco tempo foi a vez do vapor mercante inglês Dacia ser atingido, mas a tripulação, alertada, abandonou o navio e não houve perdas pessoais.
Bóias de salvação no museu da Liga dos Combatentes da Grande Guerra.
Danos na igreja de Santa Clara, após o bombardeamento da cidade do Funchal em 1917 (12 dezembro)
O segundo bombardeamento provocou a morte de cinco pessoas, fez cerca de trinta feridos e registaram-se graves prejuízos em diversos pontos da cidade, nomeadamente na igreja de Santa Clara, onde o Padre Abel da Silva Branco celebrava missa.
O segundo bombardeamento provocou a morte de cinco pessoas, fez cerca de trinta feridos e registaram-se graves prejuízos em diversos pontos da cidade, nomeadamente na igreja de Santa Clara, onde o Padre Abel da Silva Branco celebrava missa.
A iluminação pública noturna foi proibida, como medida de defesa e só voltou a ser autorizada e, portanto, restabelecida, em 11 de novembro de 1918, quando chegaram à Madeira as notícias da assinatura do armistício.
Entretanto na Flandres, o Corpo Expedicionário Português, em véspera de ser rendido por tropas inglesas, sofreu o principal impacto da última e desesperada grande ofensiva do exército alemão na Batalha de La Lys, em 9 de abril de 1918.
Derrotado pelos enormes bombardeamentos e superioridade numérica das tropas alemãs ficou inoperacional, até ao final daquele terrível conflito. Todavia, alguma da resistência portuguesa deu tempo a forças britânicas para tapar a brecha, que o estado-maior germânico procurava cavar, dividindo os exércitos aliados para chegar ao mar.
Dos muitos heróis portugueses desse trágico e sangrento confronto, destacou-se o soldado “Milhões”, como ficou conhecido Aníbal Augusto Milhais, o qual, com grande bravura, conseguiu proteger, de metralhadora e indiferente ao fogo dos alemães, a retirada de numerosos soldados. Foi condecorado com a Ordem Militar da Torre e Espada, a mais alta insígnia portuguesa, entre outras condecorações nacionais e estrangeiras.
No esforço de Guerra, as mulheres desempenharam um papel fundamental ao substituírem os homens, que tinham partido para a guerra, em todo o tipo de trabalhos.
No fim da I Guerra Mundial, em Inglaterra as mulheres vão ganhar o direito a votar, em 1918, se tiverem 30 anos e forem proprietárias. Mais tarde, em 1928, essa legislação foi revogada e substituída por outra, que deu a capacidade de voto a todas as mulheres inglesas com mais de 21 anos.
Em Portugal, a minha avó Maria, que me contava comovida o sofrimento madeirense durante a I Guerra Mundial, teve de esperar pelo 25 de Abril de 1974 para sentir a emoção de poder votar…
Referências:
Henriques, Mendo e A. Leitão. La Lys 1918. Os Soldados Desconhecidos. Prefácio. 2001
SILVA, Fernando Augusto da; MENESES, Carlos Azevedo de – Elucidário madeirense. Funchal: Direcção Regional dos Assuntos Culturais, 1998. Edição fac-similada da edição de 1940-1946.
Catálogo da exposição Viva a República 1910-2010
http://www.visualnews.com/2013/09/03/working-women-first-world-war/
http://en.wikipedia.org/wiki/Portugal_during_World_War_I
http://www.momentosdehistoria.com/MH_02_08_Marinha.htm
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