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terça-feira, 10 de dezembro de 2019

As Coisas que os Homens me Explicam



O livro que lemos este mês no Clube de Leitura foi este, em inglês, portanto a versão original.
A sua escolha deveu-se ao facto de estar a ter muito sucesso no ambiente universitário de Londres.  Apesar de não ser muito dada à chamada "literatura feminista", pus mãos à obra, comprei e li o pequeno livro de apenas 124 páginas, até para  poder contribuir para o debate  na reunião do Clube de Leitura, que se realiza hoje.
Numa pesquisa rápida à capa do livro em diversas versões na Europa, reparei  que só a portuguesa e a espanhola (a brasileira é igual) são ilustradas. Vi um filme há muitos anos, que me suscitou interesse em rever depois de observar a capa do livro em português, mas não consigo recordar o seu nome. Tratava-se de um casal, que vivia aparentemente feliz, até o marido resolver deixar a mulher e a casa para ir viver com outra. Os primeiros tempos foram dificeis para a protagonista da história, que tinha uma vida baseada nas rotinas do seu casamento. No entanto, "libertou-se", incluindo do preconceito de "mulher abandonada" e, quando o marido tentou voltar, ela  disse não. O filme termina com a protagonista a dar um grande salto de uma prancha  alta, como que a voar. Estava em Brighton e decorria o verão de 1978...
Na capa do livro, o homem é quem dá o salto e a mulher fica a observar. Achei interessante a moda dos anos 50 e 60, exatamente quando se intensificaram os movimentos de emancipação das mulheres.
Na capa em espanhol, o homem  "um bem engomadinho ", como costumo chamar, que podia ser da época da capa anterior, tem a boca amordaçada. Realmente muitos dos males da nossa sociedade têm a ver com os disparates que se dizem. E se não há nada interessante a dizer, mais vale estar calado..

As ilustrações dos diferentes capítulos são de Ana Teresa Fernándes, uma pintora nascida no México, em 1980 e dizem muito sobre o tema, tanto como as palavras de Rebecca Solnit.


                                                                                                                                                                    








                 
                     












                                                     
                     
                                         
Outro dos motivos que me levou a ler o livro (o mês passado tinha afirmado que não ia participar) foi uma situação que se passou comigo na recente viagem a Bruxelas. Estava muito bem sentada num restaurante voltada para a janela da rua em frente ao meu marido, que estava de costas. para a dita janela







Depois de apreciarmos os famosos "moules" e pagarmos a conta fomos à casa de banho. Quando foi a vez do meu marido, fiquei obviamente sozinha e comecei a reparar num homem na rua, colado ao vidro da janela, que me fazia gestos obscenos. Desviei o olhar, mirando à esquerda e à direita, mas não havia mais ninguém daquele lado do restaurante.

Ao sair com o meu marido, que ainda me ajudou a vestir o casaco, pensei que o homem tinha desaparecido, mas não. Colocou-se no meu ângulo de visão e desta vez fazia gestos para eu ir ter com ele.

O homem tinha um ar perfeitamente normal e podia ser qualquer um que encontramos diariamente na rua ou numa repartição.

Eu estava obviamente indignada com o atrevimento e a "descarga" caiu sobre o meu marido, que me tinha deixado sozinha e não se tinha apercebido de nada. Um comportamento muito pouco "feminista".

O livro é um conjunto de sete textos e o primeiro dá o mote para o titulo da obra: As Coisas que os homens me Explicam. A "desigualde de género" (não gosto do nome, mas é assim apresentado) é analisada através de manifestações de violência contra as mulheres. A autora começa por contar um episódio inofensivo em que numa festa em Aspen, em 2003, um homem lhe explica um livro ( River of Shadows: Eadweard Muybridge and the Technological Wild West) que não leu e que foi ela que o escrevera. Este episódio deu origem a um texto no blogue TomDispatch e teve uma grande repercussão. Surgiu assim a palavra mansplain para a situação em que os homens explicam às mulheres coisas que elas sabem e que eles não sabem, chegando a ser considerada pelo New York Times uma das palavras do ano (2010). Este texto, foi escrito numa assentada, segundo a autora, e nota-se.

O segundo texto ( prefiro chamar assim, apesar da autora se referir a "ensaios") A Guerra Mais Longa é sobre a violência, abusos sexuais, violações e até morte sofridas pelas mulheres.

O terceiro, O Mundo Colide Numa Suite de Luxo: Alguns Pensamentos sobre o FMI, Injustiça Global e Um Estranho no Comboio é essencialmente sobre o caso Dominique Strauss-Kahn.

No quarto texto Em Louvor da Ameaça: O que a Igualdade no Casamento Realmente Significa opina que o casamento entre pessoas do mesmo sexo pressupõe igualdade no companheirismo, constituindo uma ameaça para os casamentos tradicionais, onde a mulher é subserviente.

Em Avó Aranha examina as leis do casamento inglês, onde as mulheres são, na sua opinião, propriedade do marido.

No sexto texto estava à espera de mais, pois é acerca de Virginia Woolf: A escuridão em Woolf. Abraçando o Inexplicável. Diz que Virginia Wolf está presente em cinco dos seus livros e é uma escritora que a marcou. Refere-se também à activista americana Susan Sontag

A Caixa de Pandora e o Trabalho Voluntário da Força Policial, o último texto, é um apelas às armas nesta guerra dos sexos, onde não há possibilidade de retorno ao passado. Afirma com orgulho que dois rapazes homossexuais foram eleitos o casal mais giro de uma escola de Nova Iorque...

Francamente, não gostei do livro. Prefiro recordar quadros da Paula Rego acerca de abusos e violência sobre as mulheres. 


Paula Rego



Série "mulher-cão" de Paula Rego (1994) marca o início de um novo ciclo de mulheres fortemente simbólicas, representadas sozinhas, mas aparentemente escravizadas.



Série sobre o Aborto (1997-1999), crítica ao referendo que em Portugal justificou a continuação da criminalização do aborto. 



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