Cada um é que sabe porque é que seleciona determinado local, país ou região para visitar. Nós, por exemplo, somos muito atraídos pelo passado ou a história dos destinos escolhidos e pela arte. Também, confesso, o exotismo é fator que pesa. Daí as nossas viagens ao oriente, sueste asiático e Japão. Todavia, como constatei pelo pedido de um guia tailandês "mantenham-se junto e perto de mim, pois vocês parecem-me todos iguais...". Portanto, ali os exóticos éramos nós.
Habitualmente sou eu que depois faço o plano ou itinerário das visitas a monumentos e museus, procurando aquilo que nos parece mais interessante ou icónico, mas sem tentar ser exaustiva, pois gostamos de passear pelas ruas e ver o movimento das gentes, as lojas, o ambiente em geral.
A capa do livro mostra o Minarete Kalyan em Bucara, construído em 1127.
Este ano escolhemos o Uzbequistão como destino. Julgo que constituirá uma síntese dos motivos que nos entusiasmaram ao longo dos anos a viajar: o passado, desde logo as rotas da seda (usadas no comércio da seda e outras mercadorias entre a China, a Europa e o Médio Oriente e que foram muito importantes para as trocas comerciais entre estes continentes, antes da descoberta do caminho marítimo para a Ìndia). A expansão do Islamismo no século VII, que contribuiu para que cidades como Samarcanda e Bucara se tornassem centros religiosos com uma arquitetura, que marca a paisagem, ainda hoje em dia. E, claro está, os impérios mongol, de Tamerlão, o estabelecimento de canatos no século XVI, o domínio russo e soviético e, finalmente, a independência, em 1991, mostram uma história muito rica e complexa, acompanhada por monumentos bastante diferentes dos encontrados na Europa. Espero também ficar com uma ideia, mesmo de maneira superficial, como uma nação antiga construiu o seu novo Estado.
É um país muçulmano, mas é proibido por lei as mulheres cobrirem a cara.
O Uzbequistão é um dos dois países duplamente continental, sem litoral (o outro é o Lichtenstein), ou seja, há que passar por territórios de dois diferentes estados para se chegar ao mar. Faz fronteira com cinco países sem mar (Afeganistão, Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão e Turquemenistão). O Uzbequistão está localizado num fértil oásis da Ásia Central banhado por dois rios: o Amu Dária e o Sir Dária, que fornecem a água necessária para a economia do país dependente da irrigação (exportação de algodão).
Uma coisa é certa. Apesar de não ter ainda visitado o país onde vou este ano, não preciso de comprar souvenirs, porque já tenho alguns...
A produção de cerâmica faz-se desde o século VII...
Tapete Bucara com mais de 100 anos comprado na Turquia, muito antes de saber que o meu filho se ia interessar por esta área de estudo.
Os tapetes Bucara são os mais finos dos tapetes orientais e também dos mais copiados. É fácil ver a diferença entre um tapete feito à mão e antigo, quando já adquiriu alguma patine e um outro novo industrializado com cores artificiais.
Chapéu tipico e chinelos, oferta de um amigo do nosso filho. Fazem lembrar-me o bordado de Nisa em feltro.
Os bordados em seda
As Suzane
Vamos viajar com a minha prima e o marido. Quando lhe disse que íamos a Samarcanda, lembrou-se do livro de Maalouf de 1988, que leu, há alguns anos e gostou muito. Pouco depois telefonou a dizer que também queriam ir connosco...
O romance histórico Samarcanda, que comecei a ler depois de ter planeado as férias, centra-se na vida do poeta, filósofo, cientista e matemático persa de Nishapur (atual Irão), Omar Kayyam, do século XI .Através da sua biografia revelam-se aspectos do império seljúcida. A sua coleção de poesia, as quadras do Robaiyat, contendo aforismos sobre mulheres e o vinho revelam um sábio e poeta sem preconceitos e amante da vida. Parte do romance tem Samarcanda como pano de fundo, uma cidade multicultural e das maiores no mundo, quando Omar lá viveu.
Omar Kayyam apaixona-se por uma poeta da corte do sultão, que é tragicamente assassinada por um ataque de nómadas turcos. Aliás, o medo e a morte são uma constante...Na segunda parte do romance há um salto cronológico e no século XX um estudioso americano vai à Pérsia para tentar encontrar o manuscrito original do Robaiyat.
Pobre homem, nunca saberás
Nada jamais explicarás
Um só dos mistérios do mundo.
E já que as religiões prometem
Depois da morte o Paraíso,
Busca tu mesmo criar um
Para teu gozo aqui na Terra,
Pois o outro talvez não exista.
E já que as religiões prometem
Depois da morte o Paraíso,
Busca tu mesmo criar um
Para teu gozo aqui na Terra,
Pois o outro talvez não exista.
Aguarela de Khiva
E depois há as fotografias das visitas do meu filho, o qual nos ofereceu a maior parte das recordações uzbeques... Tenho pena de ter perdido um video de um programa da manhã da televisão local, quando foi convidado para ir falar sobre Portugal. Ele esteve a estudar uzbeque e a professora achou que estava apto para ir à TV. Não percebi nada, mas foi muito engraçado observar a assistência e a moda...na verdade, pareceu-me, pela apresentação e cenário, que não faziam muita diferença de programas portugueses semelhantes.
Este ano também vou conhecer o Uzbequistão e agora até é mais fácil, pois já não é necessário visto para uma visita até 30 dias. Vamos ficar uma semana (de 9 a 18 de junho).
O país é muito grande e para melhor o conhecermos vamos viajar de mini-van, comboio e avião acompanhados por um guia, que fala inglês. O mais difícil será atravessar uma parte do deserto Quizilcum por onde passavam as caravanas na rota da seda.
Todavia, a antiga lenda sobre a origem do Uzbequistão não contempla nem guerras nem comércio e sim a generosidade do seu povo, a fertilidade e a beleza do seu país. Reza assim: "Deus distribuiu terras a todas as nações. O Uzbeque sempre gentil e amigável, deixou que todos passassem à sua frente. Finalmente, quando chegou a sua vez, o Senhor perguntou-lhe onde estava ele antes, acrescentando que tinha já chegado tarde, pois acabara a distribuição. O Uzbeque, fazendo uma vénia e pondo a mão no peito, respondeu "Oh Criador ensinaste-me a ser sempre misericordioso e a amar os vizinhos; e eu servidor de Deus deixei toda a gente passar à frente, pelo que sou o último a aparecer perante Vós". O rosto de Deus iluminou-se com um belo sorriso na sua face e disse: "Meu filho, Uzbeque! Revelaste-te ser pessoa de alma pura e verdadeiramente generosa. E agora vou dar-te a terra que tinha guardado para Mim próprio, que é como um paraíso". Dessa forma, o Criador do Céu e da Terra atribuiu ao uzbeque a terra, que se situa entre dois grandes rios, que jorram das montanhas. O nome da terra é Uzbequistão" .
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