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sábado, 16 de outubro de 2021

16 de outubro e o fim trágico de Maria Antonieta








Não há muitas figuras históricas que tenham motivado um tão grande número de representações como a da rainha consorte de França Maria Antonieta, casada com o Rei Luís XVI, sendo assunto da cultura popular e de vários livros e filmes. Retratada essencialmente pelo seu comportamento superficial e frívolo, tem-se tentado mostrar mais recentemente, a injustiça de alguns clichés.






Vestido usado por Kirsten Dunst para o filme Maria Antonieta





Quando estive em Paris, em janeiro de 2019, visitei uma exposição na Conciergerie sobre essa Rainha de França. Foi naquele local que a trágica figura histórica esteve presa e a aguardar julgamento. Era interessante a variedade de elementos apresentados, tanto documentos originais como o libelo de acusação, a chave da sua cela e até representações atuais no cinema, além de uma boneca Barbie vestida como rainha, inclusão que se deve, suponho, ao facto da Maria Antonieta ter sido um ícone da moda no seu tempo.






Maria Antonieta era filha da Imperatriz da Áustria Maria Teresa e casou ainda adolescente com o delfim de França (herdeiro do trono francês), tornando-se rainha aos 18 anos. O seu casamento foi politico, visando a aproximação com a França, país considerado inimigo tradicional da Áustria. A mãe escrevia-lhe longas cartas para a influenciar, certamente para que a posição da filha na corte francesa pudesse ser favorável aos interesses austríacos. Uma das mais influentes biografias de Maria Antonieta, da autoria de Stefan Zweig, baseia-se exatamente na correspondência entre a rainha e a sua mãe e a que manteve com o conde sueco Axel Von Fersen.



Replica do "colar da rainha", fonte de terrível controvérsia




Maria Antonieta, mesmo antes da Revolução Francesa de 1789 nunca foi vista com bons olhos pela maior parte da corte francesa, devido aos preconceitos contra os Habsburgos. A autrichienne era chamada por autre-chienne (outra cadela, em vez de austríaca).








 Maria Antonieta é conduzida à sua execução

Após a morte do rei, Maria Antonieta foi transferida para a Conciergerie, onde permaneceu alguns meses até ser julgada por alta traição e condenada à morte por guilhotina, no dia 16 de outubro de 1793, quando tinha 37 anos.











Maria Antonieta numa versão de Botero







Todas as fotografias apresentadas foram tiradas durante a visita à exposição na Conciergerie, em janeiro de 2019 - lembro-me que tive algumas dificuldades para as tirar, num ambiente bastante escuro e com muitos vidros, que refletiam as luzes





Gostei muito deste artigo de Helena Matos, publicado no Observador a 17 de outubro- Uma pergunta por dia numa semana com sabor a farsa:

"O Terror que chega como libertação. A 16 de Outubro de 1793 foi guilhotinada Maria Antonieta. Já não era rainha de França mas sim a viúva Capeto. Já não era a jovem que envergava jóias e trajes deslumbrantes em Versalhes mas sim uma mulher doente e envelhecida. Tinha perdido tudo. Fora injuriada e caluniada até onde uma mulher o pode ser. Os queixinhas que por aí andam agora, dois séculos depois, deviam ler os folhetos que circulavam em França quando Maria Antonieta era rainha e para os quais não faço link porque ainda me arrisco a ser acusada de estar a promover a pornografia. Ou as acusações que lhe foram feitas durante o julgamento a que a submeteram. onde nem faltou uma acusação de incesto com esse filho de oito anos que lhe tiraram dos braços para fazerem dele um cidadão, primeiro embriagando-o, depois semiemparedando-o até à morte.

Agora que se assinala mais um aniversário da execução de Maria Antonieta é urgente recordar o que foi o Terror e como ele se impôs a uma sociedade que gritava “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”. Rapidamente se constata que os jacobinos do século XXI aprenderam bem a lição com os seus antepassados: encontramos a mesma fixação na linguagem, a mesma criação de novas palavras e formas de tratamento que de um momento para o outro se tornam obrigatórias; a mesma imposição de novas categorias e a consequente diabolização das anteriores. No século XVIII, sob o pretexto do combate à religião e à monarquia, os revolucionários franceses acabaram com o antigo calendário e impuseram um calendário revolucionário que ninguém conseguia utilizar; proibiram as habituais formas de tratamento entre as pessoas; alteraram o nome das localidades com mudanças tão apatetadas quanto Montmartre que passou a Mont-Marat e Grenoble a Grelibre… Não é coincidência qualquer semelhança com o que agora acontece com os géneros, as fantasias das identidades e a imposição de formas politicamente correctas de falar e escrever. É sim o jacobinismo a mostrar a sua influência e os jacobinos a impor o seu controlo absoluto a sociedades que acreditam estar a libertar-se. E agora, tal como no século XVIII, é preciso arranjar alguém para fazer subir ao patíbulo (agora figurado) no meio das multidões electrizadas"

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