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domingo, 7 de outubro de 2018

Outros tempos...outros jantares

Esta noite estive a pensar a sorte que tenho por ter dado um jantar para 14 pessoas no dia 4 e logo às 9 horas do dia seguinte, 5 outubro (feriado), ter partido para a Transilvânia sem me preocupar com arrumar a cozinha, pois felizmente há quem o faça por mim.  
Nem sempre foi assim. Durante muitos anos, fui eu que tive de fazer tudo e não deixei de receber em casa as pessoas que queria convidar; mas há sempre peripécias para recordar.

Turquia ( 1989-1993)

Na Turquia iniciei a minha aprendizagem de culinária, pois até então os meus cozinhados não iam  além de  arranjar uns bifes ou cozer peixe. As festas de aniversário eram quase sempre na casa da minha mãe, sempre disponível e paciente, gostando de ajudar e tinha uma casa maior.
No dia do meu primeiro jantar, expliquei bem aos meus filhos que tinham de ficar no quarto, pois tínhamos umas visitas muito importantes e não nos podiam chamar. Foi aí que tanto o meu filho como a minha filha acharam que deviam dar uma ajuda e cantar "So long, farewell", como viam no filme "Música no Coração"...



No segundo jantar, a minha filha apareceu na sala de jantar, de camisa de noite e estremunhada...  em ocasiões futuras já tínhamos arranjado uma baby-sitter.








Normalmente eu preparava o jantar e quando chegava o cozinheiro e os empregados para servir, já estava a mesa posta e tudo encaminhado. Num Natal, convidamos uns amigos para passarem a ceia connosco. Eram brasileiros e espanhóis. Apesar de na Turquia não se festejar o Natal, havia muitos estrangeiros que o faziam e por isso foi difícil arranjar a mesma equipa, que vinha sempre. Teriam de ser outros. Quando eu estava a cozer o perú, houve um corte de energia e o meu marido teve de segurar numa vela para eu terminar. Não é que lhe espetei com a agulha no olho!... Fiquei muito nervosa e quando  chegou um homem a falar um inglês péssimo e a dizer que vinha para a festa disse-lhe que não estava convidado e fechei-lhe a porta. O meu marido começou a rir e disse que talvez fosse o empregado...  e era. Depois correu tudo bem. Ainda comemos uma ostras trazidas pelo espanhol e o perú ficou lindo. Fizeram como lhes disse: vieram mostrar e depois levaram para trinchar..

Guiné (1993-1996 e 2012-2014)













Na Guiné, o trabalho era muito especializado. Na cozinha só trabalhava a cozinheira Carolina (à direita da fotografia). Outra lavava e engomava e, calmamente, esperava que a roupa secasse ... depois, havia a que limpava dentro de casa e o António ocupava-se do jardim.
A cozinheira era muito despachada e como sabia ler e escrever foi trabalhar para a embaixada, após o meu marido regressar a Portugal. Nas minhas visitas, durante as férias, dava-lhe o meu livro de receitas...fazia muito bem o bacalhau de natas. Nessa altura eu passava o tempo, em Portugal, a preparar exames para passar a ser professora efetiva.
Quando regressei, em 2013, da segunda vez, alguém me disse que gostaria muito da cozinheira, a qual  cozinhava muito bem e sabia fazer um excelente bacalhau de natas... tratava-se da MINHA receita...  era a "nossa" mesma cozinheira, a da primeira vez que tínhamos estado em Bissau.
Aprendi que não há que desesperar por não haver floristas na cidade. O empregado, sempre dedicado, apanhava flores do jardim e fazia bonitos arranjos por cima da sua mota.



EUA (1999- 2005)

Nos EUA fazia tudo sozinha. Dei jantares para muitas pessoas. A única vez que pedi ajuda,  pois vinham mais de 30 pessoas, recomendaram-me mãe e filha. Eram muito bonitas e isso fez com que não se notasse tanto os seus disparates. Vieram de vestido preto, como pedi, mas com ténis brancos... A filha nunca devia ter bebido um Martini e quando lhe pedi que me preparasse um encheu-me um copo de água com a bebida...
Comecei a treinar os meus filhos, que não assistiam aos jantares, para me ajudarem, porém zangava-me muito com eles, por exemplo, porque deixavam cozer demasiado a comida, enquanto eu regressava à sala para conviver... e, depois, tinham sempre um ar pouco concentrado no que faziam, pois gostavam de se divertir com as  conversas ouvidas. Um dia disse a um senador, que tinha aparecido no bosque, junto à minha casa, um bambi (sou péssima com nomes de animais e não me ocorreu o nome do bicho). Foi gargalhada, ao voltar à cozinha; e ainda hoje fazem comentários sobre isso e também como pronunciava "passion fruit".
Os meus filhos ficaram a conhecer a minha faceta menos simpática, quando chamei um jornalista perto da entrada da cozinha e tivemos uma conversa sobre um artigo pouco abonatório para Portugal. Tentei disfarçar que não estava chateada, contudo disse-lhe tudo, por entre sorrisos... e os meus filhos ainda hoje recordam esse episódio...




Por mim, prefiro recordar os bonitos centros de mesa encomendados à florista. Não podia fazer tudo...


Em 2004, frequentei um curso de culinária com a minha filha, cujo professor foi o Master Chef George Karousos,  no OceAnna Restaurant and Grill, em New Bedford. Aprendi muitas receitas, dadas no final da sessão, depois de provarmos o que tinha feito, acompanhado de um vinho a condizer...
Aprendi, por exemplo, que NUNCA se deve fazer maionese em casa, porque os ovos podem ter salmonela. Devemos usar a do supermercado, tratada, e depois melhorá-la a nosso gosto.




Caracas ( 2005-2008 e 2014- 2017)


Na primeira vez que vivi em Caracas, continuei a fazer a maior parte dos cozinhados sozinha. No final, já me sentia uma "profissional" . Fui entrevistada para a revista " Generaciones" e o título foi "O Mundo a la Carta".
Habituada à discrição americana, achava "natais" as festas que dava. Além dos habituais chocolates e flores enviadas habitualmente, recebi esculturas, quadros, molduras. Da segunda vez, já não foi tanto assim...os tempos eram outros.






Todavia, ficava descansada quando tinha almoços ou jantares em casa, porque a Marlene dava muito bem conta do recado. Ainda tenho saudades do seu  polvo à lagareiro feito no churrasco, mais saboroso que em muitos sítios em Portugal. O seu único problema era a decoração dos pratos. Tinha de ter muita atenção. No entanto, gostava muito de fazer os arranjos de flores comigo...


























As pessoas podem não acreditar, mas apesar das dificuldades crescentes em arranjar alguns produtos, foi em Caracas que realmente aprendi a apreciar carne bem cortada. Quando pedíamos no talho bifes do lombo, as partes dos lados eram separadas (eram guardadas para outros fins) e vendiam-nos todos do mesmo tamanho. Antes de os cortar, enrolavam o lombo em papel de cozinha transparente bem apertado, cortando depois os medalhões,  os quais eram guardados, sem ser sobrepostos, nas embalagens brancas. 
Foi das coisas que recomendei já na Roménia.


Angola (2006)


Estive em Angola por pouco tempo. Institucionalizei, porém, um almoço às quintas-feiras destinado às pessoas que trabalhavam com o meu marido mais diretamente, para que se sentissem mais integradas, numa altura um pouco delicada para os negócios portugueses. Contei com a preciosa ajuda da cozinheira Inês e recordo-me dela muitas vezes. Um dia vi-a  lavar muito bem um ananás. Perguntei porque o fazia se ia descascá-lo. Respondeu-me que podia ter micróbios e entrariam no fruto ao abri-lo. Depois de regressar a Portugal comecei a fazer o mesmo.

Roménia

A cozinheira Mariana tem muitos anos de experiência e fico descansada com a sua organização. Depois de acertarmos a ementa, ela gosta sempre de me mostrar a apresentação, porque sabe que se trata de um aspecto importante para mim. Depois do jantar de anteontem, que correu muito bem mais uma vez, confirmei que sou afortunada...

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