A Real Fábrica de Porcelana de Nápoles criada pelo rei Carlos de Bourbon e a sua mulher, uma neta de Augusto o Forte, eleitor da Saxónia, o qual tinha fundado a primeira fábrica europeia de porcelana em Meissen.
Nas duas peças: uma travessa e uma jarra podemos admirar vistas da baía de Nápoles, no final do século XVIII (Museu de Capodimonte)
Nápoles fica no golfo de Nápoles, no mar Tirreno. É um porto importante e o principal centro industrial e comercial do sul do país. É, também, uma região turística, pois nos seus subúrbios localizam-se vários locais de extraordinário interesse: o
vulcão do monte Vesúvio, as
ruínas de Pompeia e de Herculano e as
ilhas de Capri e de Ísquia. O núcleo histórico é Património Mundial da Unesco.
Tem, como toda a Itália, uma História muito rica e complexa: foi conquistada pelos romanos em 327; no século VI d.C., passou para o domínio bizantino; no século VIII, era um ducado independente; em 1139, era parte do Reino da Sicília; em 1282, passou para a coroa de Aragão, como Reino de Nápoles, assumindo-se, no século XVIII, como a sua capital. Finalmente, integrou-se no movimento de unificação, pois em 1860 foi anexada ao Reino da Sardenha e ao Reino de Itália, de 1861 a 1946. Assim e em consequência do referendo que determinou a exclusão da Casa de Sabóia da História de Itália, depois de 85 anos de monarquia, Nápoles passou, evidentemente, a ser parte da República Italiana.
Desde a minha chegada, a baía de Nápoles e o Vesúvio fascinaram-me. No dia da chegada, fizemos pela marginal uma grande caminhada do hotel, junto ao metro Mergellina até ao centro histórico.
Estação de Mergellina. Foi inaugurada em 1925 . O nosso hotel pertencia a este complexo. Bem situado, tinha uma decoração minimalista a preto e cinzento, que detestei. Imaginem tomar o pequeno almoço em mesas e cadeiras pretas, com um grande sideboard da mesma cor. Só deixaria ficar o bonito chão de mármore (claro)...
Apesar da bonita baía, onde fica Nápoles, não posso concordar com Goethe que dizia que ninguém que tivesse visto Nápoles poderia ficar infeliz, afirmando mesmo Vedere Napoli e poi morire (veja Nápoles e depois pode morrer). Muito deve ter mudado... Apesar de estar perto de muitos locais de interesse, como referi, Nápoles é uma cidade suja, barulhenta e com um forte cheiro a poluição dos escapes dos carros, alguns muito antigos. Além disso vê-se muita pobreza. Perto do nosso hotel dormiam alguns sem-abrigo e vi isso noutros locais. A chegada à cidade de avião (o aeroporto não tem sistema de mangas) e o ter de atravessar bairros algo degradados e feios não é um bom cartão de visita.
Felizmente, muitos locais do passado glorioso de Nápoles podem ser visitados e são museus verdadeiramente únicos como o Museu Arqueológico e o de Capodimonte (com 4 pinturas de Rafael).
O Museu de Capodimonte, no cimo do monte com o mesmo nome, foi construído, entre 1738 e 1838 dentro de um grande parque florestal. Desde o início foi concebido para receber a coleção de arte que Carlos de Bourbon recebeu da sua mãe, Elisabetta Farnese, herdeira de uma família nobre colecionadora de arte. A colecão inclui obras de Ticiano, Rafael, Miguel Àngelo, Caravaggio, Botticelli, Bruegel e ainda tem uma pequena amostra de arte contemporânea. A não perder os Salões de Estado e a interessante coleção de porcelana, a qual poderá passar despercebida face aos outros tesouros expostos.
As pessoas são das mais simpáticas que encontrei em Itália, sempre prontas a ajudar e o nível de vida pareceu-me mais barato do que noutras partes do país. Nunca tinha visitado uma cidade em que as personagens de um romance me aparecessem na rua, como pessoas reais. Vi várias Lilas dos romances de Elena Ferrante...
Ao longo do passeio pela marginal vimos algumas marinas (com o Vesúvio sempre a espreitar).
Quando chegámos no primeiro dia ao Castelo do Ovo este já estava fechado
O Castelo do Ovo é o mais antigo castelo de Nápoles, tendo desempenhado, até o início do século XVI, as funções de palácio real dos soberanos de Nápoles.
A Ilha de Capri vista do Castelo do Ovo
Vista de Nápoles do Castelo de S. Elmo
O Castelo Novo
O Castelo Novo foi construído em 1277 pelo rei francês Carlos de Anjou. É constituído por cinco torres e um arco do triunfo, acrescentado mais tarde para celebrar a entrada de Afonso de Aragão em Nápoles, em 1443.
Junto à Praça onde fica o castelo estão em grandes construções para aumentar a linha do metro. Foi com agrado que vi o anúncio que a «mais bonita estação do mundo» está a ser construída pelo arquiteto português Eduardo Souto de Moura.
O Teatro San Carlo é o mais antigo teatro da europa ainda em atividade. O interior é muito rico e contrasta com a fachada. Foi inaugurado em 1737.
Vimos a programação, mas
Sansão e Dalila não nos tentou. Gostaria de ter visto a ópera
O Último dia de Pompeia de Giovanni Pacini com libreto de Andrea Leone Tottola, que estreou neste teatro com muito sucesso, em 1825 e depois foi apresentado em diversos países europeus, incluindo Portugal.
A produção da mesma ópera em 1827 no La Scala.
O interior do Teatro San Carlo (foto da net). Tentámos visitar, mas estava a realizar-se um congresso, durante todo o dia e as visitas foram, evidentemente, suspensas.
Do outro lado da rua ficam as Galerias Humberto, com um interior semelhante às de Victor Emanuel em Milão, mas de menor dimensão.
A Praça do Plebiscito é dominada pelo Palácio Real e a Basílica Real
A espetacular escadaria do
Palácio Real depois da Restauração de 1837 devido a um incêndio.
Terminámos o dia da chegada no centro histórico, a tomar chá na pastelaria Gambrinus (1860) e provámos um «Vesúvio».
A Praça dos Mártires, com uma coluna ao centro, cuja base tem quatro leões, em diferentes posições, está situada num bairro elegante com um comércio sofisticado e alguns antiquários de qualidade.
Da Praça do Plebiscito podemos continuar a andar pela Rua Toledo, a principal artéria de compras. Esta longa rua foi construída em 1536 pelo Vice-rei de Espanha Don Pedro de Toledo. As pessoas importantes da cidade construiram os seus palacetes aqui. Nas transversais ficam pequenas ruas estreitas e há uma zona chamada Quarteirão Espanhol, onde ficavam as tropas.
Maradona não era italiano, mas há uma verdadeira loucura em torno deste ex jogador de futebol.
O Obelisco na Praça San Domenico(1657) foi construído por devotos de São Domingos, a implorar clemência durante a terrível praga, que assolou a cidade no ano anterior e dizimou 450.000 habitantes.
Nesta zona estamos no coração do centro histórico.
A igreja de San Domenico Maggiore fica perto daquela praça. O seu rico interior contrasta com uma fachada sóbria. Aqui visitámos a sacristia e a cela do filósofo e teólogo S. Tomás de Aquino (1225-1274), que ensinou no mosteiro.
Cela com a representação do sol.
Imagem do crucifixo do século XIII, o qual, de acordo com a tradição, falou ao santo. É possível admirar mais objetos, que a guia disse que lhe pertenceram.
Quando chegámos à Capela de Sansevero, onde se encontra a conhecida escultura de Cristo Velado, os bilhetes para o dia já tinham sido vendidos e encontrava-se uma fila à entrada. Não regressámos.
Aqui começou outra caminhada até a Catedral pela famosa rua Spaccanapoli, que atravessa o centro histórico.
E eu que pensava que para ser Património Mundial da Unesco tinha que estar tudo limpinho?
Em Nápoles encontrámos muitas ruas bastante estreitas, onde se vende de tudo e ainda há mesas para almoçar. Quando julgamos que não cabe mais nada, somos surpreendidos com uma lambreta a parar junto às nossas pernas...
Estátua do Deus do Nilo (séc II-III)
Outra jóia escondida: A Villa Pignatelli. Pertenceu à família de financeiros Rothschild, foi vendida ao Duque de Monteleón, Diego Pignatelli, em 1867. A sua viúva deixou-a ao estado italiano em 1952.
Além dos bonitos salões, existe num edificio dentro da propriedade, um museu de coches..
E para a visita ter um toque português, um retrato bem conhecido...
A última Rainha de Portugal: Dona Amélia de Orleáns e Bragança, uma amiga da família.
Antonio Joli (1700-1777). Partida de Carlos Bourbon para Espanha.
Vista do mar e de terra. 1759
O sole mio é um canção napolitana escrita em 1898.
Nápoles, 30 setembro a 5 de outubro
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