Recentemente li a biografia de D. Fernando II, da autoria de Maria Antónia Lopes e agora estou a ver a série de TV, Victoria, pelo que me apeteceu esquematizar a Casa de Saxe-Coburgo-Gota para não trocar os nomes.
O Ducado de Saxe-Coburgo-Gota tratava-se de um conjunto de territórios na Alemanha, separados geograficamente, mas sobre a autoridade de um mesmo Duque.
Ernesto III de Saxe-Coburgo-Saalfeld uniu, nos finais dos anos vinte do século XIX, os ducados de Saxe-Coburgo e Saxe-Gota, tornando-se Ernesto I de Saxe-Coburgo-Gota. A casa de Saxe-Coburgo-Gota teve uma política matrimonial com as dinastias europeias, tornando-se, no século XIX, uma aliada das principais casas reinantes de países da Europa:
O irmão mais novo de Ernesto I de Saxe-Coburgo-Gota, Leopoldo, casou-se com Carlota de Gales, a única filha e herdeira do rei Jorge IV do Reino Unido, que morreu ao dar à luz o primogénito do casal.
Em 1831, foi eleito sem dificuldade rei dos belgas. A Bélgica tinha alcançado a independência em 1830. Em 1832, casou-se com Luísa Maria de Orleans e os seus descendentes ocupam o trono belga, até hoje.
Em 1831, foi eleito sem dificuldade rei dos belgas. A Bélgica tinha alcançado a independência em 1830. Em 1832, casou-se com Luísa Maria de Orleans e os seus descendentes ocupam o trono belga, até hoje.
Grã- Bretanha
O primeiro filho de Ernesto I, Ernesto II, herdou o ducado, mas o seu segundo filho, Alberto, casou-se com a Rainha Vitória do Reino Unido, tornando-se em 1840 Príncipe Consorte e Alteza Real do Reino Unido.
Os seus descendentes ocupam até hoje o trono britânico. No entanto, em 1917, por ocasião da I Guerra Mundial, o nome da dinastia Hanover foi mudado para Windsor, já que "Saxe-Coburgo-Gota" foi considerado muito germânico, logo anti-patriótico devido à guerra.
Os seus descendentes ocupam até hoje o trono britânico. No entanto, em 1917, por ocasião da I Guerra Mundial, o nome da dinastia Hanover foi mudado para Windsor, já que "Saxe-Coburgo-Gota" foi considerado muito germânico, logo anti-patriótico devido à guerra.
Portugal
Um sobrinho de Ernesto I, Fernando de Saxe-Coburgo-Gota, tornou-se Príncipe Consorte de Portugal em 1836 ao casar-se com D. Maria II e, um ano mais tarde em 1837 com o nascimento do filho primogénito, o Infante D. Pedro, futuro Rei de Portugal D. Pedro V, passou a ter o título de Rei como D. Fernando II de Portugal.
Os descendentes de D. Maria II e D. Fernando II reinaram até 1910, quando foi proclamada a república
Os descendentes de D. Maria II e D. Fernando II reinaram até 1910, quando foi proclamada a república
D. Pedro V (1853-1861) D. Luís I (1861-1889) D. Carlos I (1889-1908) D. Manuel II (1908-1910)
Bulgária
Outro sobrinho de Ernesto I, irmão de D. Fernando II, Augusto de Saxe-Coburgo-Gota, casou-se com Clementina de Orléans, filha de Luís Filipe I de França.
O seu filho, Fernando, foi Czar da Bulgária.
O seu filho, Fernando, foi Czar da Bulgária.
Friedenstein |
Ehrenburg |
Reinhardsbrunn |
Rosenau |
Callenberg |
Hotel-Palácio Coburgo em Viena |
Havia duas residências oficias do ducado: uma em Gota, onde permaneciam no inverno e outra em Coburgo para onde se mudavam no verão. Além dos palácios que serviam de residência (Friedenstein em Gota e Ehrenburg em Coburgo) usavam ainda Reinhardsbrunn em Gota e Rosenau e Callenberg em Coburbo e na Áustria Greinburg, Grein e ainda o Palácio Coburgo, hoje em dia um hotel de luxo.
O rei D. Fernando II ao longo da sua infância e adolescência passou grandes temporadas nas terras, que a sua família Coburgo-Koháry possuía nas atuais Áustria, Eslováquia e Alemanha. No verão instalavam-se em Ebenthal ou em Walterskirchen.
Seria interessante uma viagem, que percorresse os antigos palácios desta família soberana de um pequeno ducado.
Seria interessante uma viagem, que percorresse os antigos palácios desta família soberana de um pequeno ducado.
Ebenthal |
Walterskirchen |
O que me chocou ao ler a sua biografia foi a sua vaidade e arrogância "...orgulhava-se também, e de forma desmedida, da sua altura e elegância, própria da raça dos Coburgos, como dizia. Em 1862, meses depois da morte dos filhos, Pedro, Fernando e João, em carta ao irmão Augusto, refere-se com desprezo aos anões que o primo Alberto produzira e lamenta que o melhor da sua prole, verdadeira Coburgo, alta e bela, fosse ceifada pela morte, pois Luís era baixo e gorducho" ( Lopes: 39)
Realmente era um homem alto e magro de pele e cabelos claros, motivo pelo qual o visconde Palmerson lhe confessou que " a sua alta estatura suscitaria o respeito da atarracada população portuguesa" (Lopes: 39). No entanto ao chegar a Portugal não teve de início o sucesso que esperava. Chamavam-no "o Fanhoso" devido ao defeito tão pronunciado na sua voz demasiado anasalada e achavam-no demasiado jovem e imberbe (tinha apenas 19 anos) para exercer o cargo, que lhe estava destinado pelo casamento com a Rainha de Portugal.
A arrogância Coburgo é anos mais tarde confirmada, quando D. Fernando escreve ao irmão sobre D. Estefânia, mulher do seu filho D. Pedro V, acabada de chegar a Portugal: "é uma mulher que, pessoalmente- eu que estou habituado ao calor e vivacidade das naturezas meridionais-, não considero muito atraente, nem muito bonita...não tem o verdadeiro tipo germânico, não é sentimental e sensual...as mãos não são belas, mas a impressão geral é bastante agradável e graciosa e muito adequada a Pedro, que não tem natureza artística e nunca será um maroto. E se o fosse seria muito fraco, porque não é um homem brilhante" (Lopes: 267).
Relativamente ao casamento de D. Luís com Maria Pia de Saboia, filha do rei Vitor Manuel II de Itália, D. Fernando é mais compreensivo: ""não se pode considerar bonita, mas é bastante agradável e parece ser compreensiva e boa, tanto quanto nos deixa conhecer, dada a sua enorme timidez." (Lopes: 293)
D. Maria Pia chegou a Portugal, em 5 de Outubro de 1862, na corveta Bartolomeu Dias, com apenas 15 anos de idade para casar com D. Luís I.
Miniatura da Corveta Bartolomeu Dias |
A sua beleza, juventude e cultura contribuíram para rejuvenescer a Corte Portuguesa, enlutada e entristecida pelas mortes dramáticas do jovem Rei D. Pedro V e dois dos seus irmãos.
A Rainha viveu 48 anos no Paço da Ajuda.
Se os seus primeiros anos foram felizes, os últimos foram especialmente dolorosos em consequência das trágicas mortes do filho, o Rei D. Carlos e do neto, o Infante herdeiro D. Luís Filipe, assassinados no Terreiro do Paço, em 1908. Em 5 de Outubro de 1910, em resultado da revolução republicana, partiu para o exílio com o outro filho, D. Afonso e o seu outro neto, o Rei D. Manuel II. Morreu em Itália, no ano seguinte, em 5 de Julho de 1911. Lembro-me que o centenário da sua morte foi assinalado em Portugal com uma missa solene no Mosteiro de S. Vicente de Fora em Lisboa, onde também se encontra o Panteão da Casa Real de Bragança e um ciclo de conferências intituladas “A Rainha D. Maria Pia e o seu Tempo”. Decorreram no Palácio da Ajuda, na Sala D. Luís, durante todo o mês de Outubro e Novembro de 2011. Nessa altura tive oportunidade de assistir e escrever no jornal da escola, mas toda essa informação perdeu-se.
D. Fernando II ficou viúvo, quando tinha apenas 37 anos. A rainha D. Maria II morreu ao dar à luz o seu décimo primeiro filho, que nasceu morto (1863).
D. Fernando II assumiu a regência até D. Pedro V completar a maioridade, dois anos mais tarde. Voltou a assumi-la por um curto período entre a morte de D. Pedro V e o regresso do seu irmão, o futuro rei D. Luís, que se encontrava no estrangeiro. A sua última regência foi em 1867, numa altura que D. Luís vai ao estrangeiro.
Durante grande parte do século XIX, principalmente durante a primeira metade, Portugal viveu períodos de grande instabilidade, mas alcançaram-se também grandes avanços.
Em 1862 D. Fernando recusa o trono da Grécia e, em 1870, o de Espanha. O seu filho, o rei D. Luís já declarara anteriormente não aceitar a coroa espanhola "Nasci Português, Português quero morrer" afirmou.
Em 1864, dá-se a abertura do caminho de ferro até Vilar Formoso: a linha do norte chega a Gaia e a do Sul a Beja.
Em 1867, decreta-se a abolição da pena de morte.
Em 1869, D. Fernando casa com Elisa Hensler. Apesar de ter criticado as suas noras e da sua vaidade, a sua segunda mulher não era nenhuma beleza ou elegância.
Após o casamento iniciou-se uma campanha em que é posto em causa o direito de continuar a receber uma doação do governo português, considerando que é viúvo de D. Maria II e voltou a casar.
Entre viagens ao estrangeiro e permanência em Sintra, na Pena, uma criação sua, D. Fernando e a mulher vivem felizes.
Morreu em Portugal em 1885.
Gostei muito de ler esta biografia. Recordei alguns factos e aprendi outros.
Referência:
Lopes, Maria Antónia. D. Fernando II Um Rei Avesso à Política. Temas e Debates. 2016
Também ando a ver a série sobre a vida da Rainha Vitória e estou a gostar muito - está muito bem feita.
ResponderEliminarEm relação a D. Fernando II é um homem de uma grande visão e com um cunho artístico extraordinário.
Vi igualmente programas da "Visita Guiada" sobre o Palácio da pena, e o Chalé que fez para a sua segunda esposa...e tudo é um espanto...em cada recanto destas obras se nota a atenção que o Rei tinha para com as suas esposas.