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sábado, 25 de fevereiro de 2017

D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gota


Recentemente li a biografia de D. Fernando II, da autoria de Maria Antónia Lopes e agora estou a ver a série de TV, Victoria, pelo que me apeteceu esquematizar a Casa de Saxe-Coburgo-Gota para não trocar os nomes.










O Ducado de Saxe-Coburgo-Gota tratava-se de um conjunto de territórios na Alemanha, separados geograficamente, mas sobre a autoridade de um mesmo Duque.

Ernesto III de Saxe-Coburgo-Saalfeld uniu, nos finais dos anos vinte do século XIX, os ducados de Saxe-Coburgo e Saxe-Gota, tornando-se Ernesto I de Saxe-Coburgo-Gota. A casa de Saxe-Coburgo-Gota teve uma política matrimonial com as dinastias europeias, tornando-se, no século XIX, uma aliada das principais casas reinantes de países da Europa:

Bélgica

O irmão mais novo de Ernesto I de Saxe-Coburgo-Gota, Leopoldo,  casou-se com Carlota de Gales, a única filha e herdeira do rei Jorge IV do Reino Unido, que morreu ao dar à luz o primogénito do casal. 




Em 1831, foi eleito sem dificuldade rei dos belgas. A Bélgica tinha alcançado a independência em 1830. Em 1832, casou-se com Luísa Maria de Orleans e os seus descendentes ocupam o trono belga, até hoje.






Grã- Bretanha

O primeiro filho de Ernesto I, Ernesto II, herdou o ducado, mas o seu segundo filho, Alberto, casou-se com a Rainha Vitória do Reino Unido, tornando-se em 1840 Príncipe Consorte e Alteza Real do Reino Unido. 





Os  seus descendentes ocupam até hoje o trono britânico. No entanto, em 1917, por ocasião da I Guerra Mundial, o nome da  dinastia Hanover foi mudado para Windsor, já que "Saxe-Coburgo-Gota" foi considerado muito germânico, logo anti-patriótico devido à guerra.





Portugal

Um sobrinho de Ernesto I, Fernando de Saxe-Coburgo-Gota, tornou-se Príncipe Consorte de Portugal em 1836 ao casar-se com D. Maria II e, um ano mais tarde em 1837 com o nascimento do filho primogénito, o Infante D. Pedro, futuro Rei de Portugal D. Pedro V, passou a ter o título de Rei como D. Fernando II de Portugal.

Os descendentes de D. Maria II e D. Fernando II reinaram até 1910, quando foi proclamada a república

D. Pedro V (1853-1861)  D. Luís I (1861-1889)  D. Carlos I (1889-1908) D. Manuel II (1908-1910)




Bulgária


Outro sobrinho de Ernesto I, irmão de D. Fernando II, Augusto de Saxe-Coburgo-Gota,  casou-se com Clementina de Orléans, filha de Luís Filipe I de França.

 O seu filho, Fernando, foi Czar da Bulgária.





Rua em Edimburgo







Os Palácios dos Saxe-Coburg-Gota

Friedenstein
Ehrenburg 










Reinhardsbrunn

Rosenau

Callenberg 








Hotel-Palácio Coburgo em Viena

Havia duas residências oficias do ducado: uma em Gota, onde permaneciam no inverno e outra em Coburgo para onde se mudavam no verão. Além dos palácios que serviam de residência (Friedenstein em Gota e Ehrenburg em Coburgo) usavam ainda Reinhardsbrunn em Gota e Rosenau e Callenberg em Coburbo e na Áustria Greinburg, Grein e ainda o Palácio Coburgo, hoje em dia um hotel de luxo. 


D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gota



O rei D. Fernando II  ao longo da sua infância e adolescência passou grandes temporadas nas terras, que a sua família Coburgo-Koháry possuía nas atuais Áustria, Eslováquia e Alemanha. No verão instalavam-se em Ebenthal ou em Walterskirchen.
Seria interessante uma viagem, que percorresse os antigos palácios desta família soberana de um pequeno ducado.




 Ebenthal
Walterskirchen


A faceta do rei que eu mais conhecia era  "o rei artista". D. Fernando teve uma educação primorosa. Falava e escrevia fluentemente alemão, húngaro e francês. Esta última língua era aquela em que se exprimia com a sua prima, a rainha Vitória, pois apesar de falar razoavelmente  inglês, não dominava  a língua escrita; e, por sua vez, a rainha Vitória falava alemão, mas não dominava a respectiva escrita. Além das línguas possuía conhecimentos sólidos de História, Geografia, Literatura, Arte, Música e Ciências Naturais. Também cantava e pintava.
O que me chocou ao ler a sua biografia foi a sua vaidade e arrogância  "...orgulhava-se também, e de forma desmedida, da sua altura e elegância, própria da raça dos Coburgos, como dizia. Em 1862, meses depois da morte dos filhos, Pedro, Fernando e João, em carta ao irmão Augusto, refere-se com desprezo aos anões que o primo Alberto produzira e lamenta que o melhor da sua prole, verdadeira Coburgo, alta e bela, fosse ceifada pela morte, pois Luís era baixo e gorducho" ( Lopes: 39)
Realmente era um homem alto e magro de pele e cabelos claros, motivo pelo qual o visconde Palmerson lhe confessou que " a sua alta estatura suscitaria o respeito da atarracada população portuguesa" (Lopes: 39). No entanto ao chegar a Portugal não teve de início o sucesso que esperava. Chamavam-no "o Fanhoso" devido ao defeito tão pronunciado na sua voz demasiado anasalada e achavam-no demasiado jovem e imberbe (tinha apenas 19 anos) para exercer o cargo, que lhe estava destinado pelo casamento com a Rainha de Portugal.
A arrogância Coburgo é anos mais tarde confirmada, quando D. Fernando escreve ao irmão sobre D. Estefânia, mulher do seu filho D. Pedro V, acabada de chegar a Portugal: "é uma mulher que, pessoalmente- eu que estou habituado ao calor e vivacidade das naturezas meridionais-, não considero muito atraente, nem muito bonita...não tem o verdadeiro tipo germânico, não é sentimental e sensual...as mãos não são belas, mas a impressão geral é bastante agradável  e graciosa e muito adequada a Pedro, que não tem natureza artística e nunca será um maroto. E se o fosse seria muito fraco, porque não é um homem brilhante" (Lopes: 267).

Relativamente ao casamento de D. Luís com Maria Pia de Saboia, filha do rei Vitor Manuel II de Itália, D. Fernando é mais compreensivo: ""não se pode considerar bonita, mas é bastante agradável e parece ser compreensiva e boa, tanto quanto nos deixa conhecer, dada a sua enorme timidez." (Lopes: 293)



D. Maria Pia chegou a Portugal, em 5 de Outubro de 1862, na corveta Bartolomeu Dias, com apenas 15 anos de idade para casar com D. Luís I.
Miniatura da Corveta Bartolomeu Dias










A sua beleza, juventude e cultura contribuíram para rejuvenescer a Corte Portuguesa, enlutada e entristecida pelas  mortes dramáticas do jovem  Rei D. Pedro V e dois dos seus irmãos.



A Rainha viveu 48 anos no Paço da Ajuda.









Se os seus primeiros anos foram felizes, os últimos foram especialmente dolorosos em consequência das trágicas mortes do filho, o Rei D. Carlos e do neto, o Infante herdeiro D. Luís Filipe, assassinados no Terreiro do Paço, em 1908. Em 5 de Outubro de 1910, em resultado da revolução republicana, partiu para o exílio com o outro filho, D. Afonso e o seu outro neto, o Rei D. Manuel II. Morreu em Itália, no ano seguinte, em 5 de Julho de 1911. Lembro-me que o centenário da sua morte foi assinalado em Portugal com uma missa solene no Mosteiro de S. Vicente de Fora em Lisboa, onde também se encontra o Panteão da Casa Real de Bragança e um ciclo de conferências intituladas “A Rainha D. Maria Pia e o seu Tempo”.  Decorreram no Palácio da Ajuda, na Sala D. Luís, durante todo o mês de Outubro e Novembro de 2011. Nessa altura tive oportunidade de assistir e escrever no jornal da escola, mas toda essa informação perdeu-se.

D. Fernando II ficou viúvo, quando tinha apenas 37 anos. A rainha D. Maria II morreu ao dar à luz o seu  décimo primeiro filho, que nasceu morto (1863).
D. Fernando II assumiu a regência até D. Pedro V completar a maioridade, dois anos mais tarde. Voltou a assumi-la por um curto período entre a morte de D. Pedro V e o regresso do seu irmão, o futuro rei D. Luís, que se encontrava no estrangeiro. A sua última regência foi em 1867, numa altura que D. Luís vai ao estrangeiro.

Durante grande parte do século XIX, principalmente durante a primeira metade, Portugal viveu períodos de grande instabilidade, mas alcançaram-se também grandes avanços.
Em 1862 D. Fernando recusa o trono da Grécia e, em 1870, o de Espanha. O seu filho, o rei D. Luís já declarara anteriormente não aceitar a coroa espanhola "Nasci Português, Português quero morrer" afirmou.
Em 1864, dá-se a abertura do caminho de ferro até Vilar Formoso: a linha do norte chega a Gaia e a do Sul a Beja.
Em 1867, decreta-se a abolição da pena de morte.



Em 1869, D. Fernando casa com Elisa Hensler. Apesar de ter criticado as suas noras e da sua vaidade, a sua segunda mulher não era nenhuma beleza ou elegância. 






Após o casamento iniciou-se uma campanha em que é posto em causa o direito de continuar a receber uma doação do governo português, considerando que é viúvo de D. Maria II e voltou a casar.

Entre viagens ao estrangeiro e permanência em Sintra, na Pena, uma criação sua, D. Fernando e a mulher vivem felizes.
Morreu em Portugal em 1885.

Gostei muito de ler esta biografia. Recordei alguns factos e aprendi outros.


Referência:

Lopes, Maria Antónia. D. Fernando II  Um Rei Avesso à Política. Temas e Debates. 2016

1 comentário:

  1. Também ando a ver a série sobre a vida da Rainha Vitória e estou a gostar muito - está muito bem feita.
    Em relação a D. Fernando II é um homem de uma grande visão e com um cunho artístico extraordinário.
    Vi igualmente programas da "Visita Guiada" sobre o Palácio da pena, e o Chalé que fez para a sua segunda esposa...e tudo é um espanto...em cada recanto destas obras se nota a atenção que o Rei tinha para com as suas esposas.

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