A minha Lista de blogues

quinta-feira, 7 de julho de 2022

Passeio até Dresden

 


Bernardo Bellotto (1722-1780), também conhecido pelo pseudónimo do seu tio, Canaletto, pintou Dresden. Exposição no museu Zwinger

Visitei Dresden em 1983, quando estive a estudar alemão, durante um mês em Halle. Fizemos muitas visitas de estudo: a Leipziz, Wittenberg, Berlim e a Dresden, mas esta última cidade deixou-me muito triste. Apesar de naquela época a reconstrução ter já começado, na sequência do terrível e devastador  bombardeamento de 1945, a cidade  tinha ainda muitos edifícios em ruínas. Lembro-me de dizerem que a Frauenkirche ficaria naquele estado de destruição para lembrar o passado, pois achavam que os ataques aéreos dos Aliados, britânicos e americanos, tinham sido um ato de vingança, desnecessário, numa altura que a Alemanha estava já prestes a perder a guerra na Europa.  Foi nas fatídicas noites de 13 e 14 de fevereiro de 1945, que Dresden ficou em cinzas devido às toneladas de bombas. A 8 de maio a Alemanha  rendeu-se. Certamente, será  assunto sempre controverso. 

(Schmidt pag 21)

Os edificios que não ficaram destruídos pelos bombardeamentos, como a igreja Frauenkirche, vieram a cair um dia depois, porque os telhados não aguentaram as temperaturas elevadas, atingindo os 1000 graus centígrados. Um autêntico inferno...

Nunca pensei voltar a visitar esta cidade da então chamada cortina de ferro, passados 40 anos. Desde 1990, com a Alemanha reunificada,  muitos foram os progressos e os avanços em erguê-la de novo.

Já em 2014 o meu filho e nora foram a Dresden ao casamento de um amigo e os relatos que me fizeram, aguçaram a minha curiosidade e deram-me vontade de regressar...

A oportunidade surgiu este ano para aproveitarmos o feriado prolongado do dia 5 de julho e resolvemos fazer a viagem de comboio, aquilo a que chamei «O nosso interrail senior». Partimos de Bratislava até Praga, onde ficámos uma noite e, no dia seguinte, apanhámos outro comboio para Dresden.

Dresden tem uma longa e prestigiosa história como capital e residência real dos reis da Saxónia com séculos de  uma cultura e esplendor artísticos extraordinários, com os seus magníficos edifícios barrocos, muitos já completamente reconstruídos. Dispõe igualmente de coleções de arte verdadeiramente  espetaculares nos seus museus. Apesar de já ser mencionada em documentos de 1216, foi no século XV que ganhou maior relevância, quando os Eleitores da Casa Wettin a escolheram como capital da Saxónia e centro da sua faustosa corte. Um nome que ressalta na visita é a de Augusto, o Forte (1670-1733) e a sua determinação em tornar Dresden a Veneza do Elba. É na era  Augustiana, que Dresden adquiriu especial prestigio e  grandes obras de arte foram encomendadas ou compradas.


A igreja Frauenkirche em 1993, quando começaram a remover os escombros e em 2004, depois de restaurada. (Schmidt pag 67)

Para começar a visita fomos diretos à igreja Frauenkirche, onde a minha memória guardava ainda os seus escombros negros de 1983. A sua bela reconstrução deixou-me por alguns momentos muito emocionada. Passava perto muitas vezes, pois o simpático hotel, onde ficámos instalados, era praticamente ao lado. Procuramos sempre ficar perto dos principais locais, que planeamos visitar e na capital do Elba é, sem qualquer dúvida, o belíssimo e amplo centro histórico.

Frauenkirche

em Neumarkt

Vista da outra margem do Elba, atravessando a ponte Augusto




O interior deixou-me dececionada. Depois de visitar igrejas ortodoxas na Roménia e na Ucrânia e católicas em Roma, Cracóvia e, mais recentemente, em Kosice na Eslováquia, o interior desta igreja luterana é demasiado simples e despido, sobretudo atendendo à sua arquitetura majestosa.




A ópera Semper (ficou com o nome do seu arquiteto) foi construída entre 1838 e 1841. Sofreu um grande incêndio em 1869 e foi reconstruída. Em 1944 a temporada de ópera terminou com Der Freischütz de Carl Maria von Weber. Alguns meses mais tarde ficou completamente destruída. Os trabalhos de reconstrução começaram em 1977 e em 1985, exatamente 40 anos após a sua destruição foi inaugurada pela terceira vez com a mesma ópera.





Nós assistimos à ópera Aida, uma produção moderna, que gostámos muito.







O teatro contruído pouco antes da I Guerra Mundial ficou também em ruínas em 1945. Foi reconstruido entre 1946-48 e serviu igualmente de  ópera durante cerca de 40 anos, até a reconstrução desta ficar terminada.




O Zwinger é um dos edifícios mais importantes do período barroco na Alemanha. Consiste num complexo de pavilhões à volta de uma grande área ao centro. O seu nome é um termo antigo de fortificações militares e significa espaço aberto entre o interior e exterior de uma fortificação. 



O Zwinger visto do Castelo
O Zwinger deve ter sido um dos primeiros edificios a ser reconstruído (1963), mas o relvado está presentemente mal estimado, pois continuam muitas obras no local. Além da exuberância arquitetónica de todo o seu conjunto, os museus do Zwinger são completamente avassaladores. Visitei a coleção de porcelana, uma das maiores do seu género no mundo e a imperdível Galeria de Arte dos  Mestres Antigos ( Gemäldegalerie Alte Meister). 

Junto com a Frauenkirche, o Zwinger é o monumento arquitetónico mais famoso de Dresden. 


O Castelo ainda está a ser restaurado. A antiga residência da dinastia Wettin é um dos mais impressionantes edificios da Renascença em toda a Alemanha. Podemos subir à torre, mas eu não fui...



Tomámos o pequeno almoço no castelo,  antes de começarmos a longa visita  pelo seu rico tesouro. Augusto, o Forte, era um entusiasmado colecionador de arte. Fiquei estupefacta ao saber que, em 2019, o Museu da Abóboda Verde (Historisches Grünes Gewölbe), com a maior coleção de tesouros da Europa, foi assaltado e levaram muitos diamantes. Para entrarmos passamos por diversas portas duplas, que só abrem quando a anterior se fecha...



A Procissão dos Duques é um grande mural numa parede exterior do castelo. Mostra 92 figuras de nobres, incluindo os 35 nobres da Casa Wettin do século XII ao XX. Foi criado em 1872, mas com o desgaste do tempo foi substituido por 25000 azulejos de porcelana Meissen, que curiosamente ficaram pouco danificados com os bombardeamentos de 1945 e só alguns é que tiveram de ser substituidos.







Estátua de Frederico Augusto, Rei da Saxónia em Neumarkt




O «Terraço da Europa»  nome dado por Goethe ao Terraço Brühl (com o nome do Primeiro Ministro de Augusto II) tem uma boa vista para a ponte Augusto e a margem do Elba, onde fica a cidade nova.
A escadaria que dá acesso ao terraço fica perto da Igreja Católica.




A Igreja Católica vista da ponte. Foi também construída no século XVIII (1738-55) para que os católicos tivessem igualmente uma igreja, após a construção da Igreja Protestante de Nossa Senhora (Frauenkirche), cuja construção começou em 1727.

A Catedral de Dresden- Meissen saiu bastante mais cara.




O seu interior é muito simples. Assistimos ao final de uma missa. Além do altar central tem duas espaçosas naves laterais para que os católicos pudessem realizar procissões sem provocar a maioria da população, que era protestante.



As duas Igrejas dominam a paisagem da margem do Elba da Cidade Nova. 
A chamada visão Canaletto.



Visitei também a Igreja da Cruz Sagrada. Felizmente os cinco sinos de bronze não ficaram destruidos na guerra. Depois dos da Catedral de Colónia, são os segundos maiores da Alemanha. A Igreja tem também um interior austero e pedem para não tirarmos fotografias...

A torre da Antiga Câmara Municipal. Dresden tem tantas torres que é fácil nos orientarmos na cidade...

O Palácio da Cultura era o maior salão polivalente de Dresden, quando foi inaugurado em 1969, usado para shows, danças, conferências e outros eventos. Hoje em dia, depois de renovado em 2017, mantém na fachada o painel da era socialista e a Orquestra Filarmónica de Dresden organiza ali muitos concertos.






O Museu dos Transportes








Museu da Cidade



Gostei muito de passear pelas ruas de Dresden. 


Música em todos os cantos....

.





A estátua viva mais engraçada, com muito movimento...






Mãe e filho (2014 e 2022)


 
Um carocha como o que fiz o exame de condução na Madeira




A recordar os netos...sempre













Há sempre algo que nos cativa, incluindo restaurantes em lugares recatados e eu que tinha saudades da comida tipicamente alemã...
O excelente atendimento nas lojas com marcas alemães para roupa, que são das minhas favoritas e o hotel, sempre atenciosos, a oferecer garrafas de água quando saíamos. 









E é claro... a excelente companhia...



Foi uma viagem que vai deixar saudades



Oskar Kokoschka (1886-1980) Dresden, a Ponte Augusto com Vapor. 1923.
 Galeria Albertina, Viena


 O regresso a Bratislava foi também de comboio via Praga.




Para mim, uma visita a Dresden não ficaria completa sem irmos a Meißen...




Dresden de 2 a 5 de julho de 2022


Referèncias:

Dresden Panorama. Rahmelverlag

Babr, Eckhard. The Dresden Castle and Its Treasures. E. A. Seemann. 2022

Scmidt, Michael. The Destruction of Dresden. Sonnenblumen Verlag Dresden, 2021

Syndram, Dirk e outros. The Historic Grünes Gewölbe at Dresden. Deutscher Kunsverlag. 2022

Sem comentários:

Enviar um comentário