Pouco conhecia do mobiliário austríaco, além do estilo Biedermeier, das cadeiras Thonet (curiosamente a primeira compra que fizemos nos EUA, num antiquário em Newport) e de umas outras que a minha avó paterna tinha e eram chamadas austriacas (ninguém se atrevia a sentar-se nelas, devido ao seu aspeto tão frágil). Encontrei tudo isso neste museu e muito mais...
O Museu do Mobiliário de Viena tem as suas 61.000 peças espalhadas por quatro andares. Há um grande foco dado ao período do século XIX, incluindo a maior coleção do mundo de mobília Biedermeier.
Tudo começou com a Imperatriz Maria Teresa (1717-1780), a qual fundou, em 1747, o Armazém do Mobiliário da Corte, onde eram guardadas as mobílias, que já não eram necessárias. Os seus inspetores eram responsáveis pelo inventário, armazenamento, manutenção e transporte de todos os materiais, que incluíam além do mobiliário, tapetes, tapeçarias, cortinados, candelabros, louças...
A família imperial mudava muito entre os seus diversos palácios usados para estadias de verão ou de inverno. Só o palácio Hofburg em Viena estava permanentemente mobilado. Os outros eram mobilados, segundo as necessidades, algumas semanas antes da chegada da Corte (lembro-me das memórias de Vital Fontes, mordomo real em Portugal e as peripécias que conta para a mudança da Família Real da Ajuda para Mafra...).
Em 1918, depois da abdicação do Imperador, o armazenamento de mobiliário passou para a tutela da recém formada República da Áustria e serviu para mobilar Embaixadas e departamentos governamentais.
Entre 1993 e 1998 foram compradas propriedades vizinhas para aumentar o espaço, que foi remodelado transformando-o do anterior Armazém de Mobiliário da Corte Imperial no moderno Museu do Mobiliário.
Hoje, a coleção do museu inclui não só peças da Corte, cujos exemplares mais antigos são do século XVI, mas também objetos do século XXI do movimento moderno de Viena.
das mais convencionais às mais estapafúrdias...
Cadeira de rodas da mãe da imperatriz Maria Teresa. A vida da mulher de Carlos VI ficou marcada pela necessidade de ter um filho para suceder ao trono. Ao seguir as normas médicas da época, que uma mulher «bem nutrida» teria mais facilidade em engravidar, submeteu-se a tratamentos, que a deixaram dependente desta cadeira de rodas para se mover...
Cadeira do Palácio Belvedere. Visita do Imperador Francisco José ao sobrinho e herdeiro do trono Francisco Fernando (assassinado em Serajevo).
Cadeira da arquiduquesa Sofia, mãe do Imperador Francisco José. Cadeira de cabedal de José II, filho e sucessor de Maria Teresa
Esta peça é considerada uma das obras-primas da exposição
A secretária foi encomendada por Maria Antonieta e Luis XVI ao famoso artesão Adam Weisweiler
A história do seu aparecimento no museu é interessante. Quando a Revolução Francesa acabou com as encomendas da monarquia, Weisweiler continou a trabalhar para a família de Napoleão Bonaparte. Napoleão III ofereceu esta luxuosa peça a Charlotte da Bélgica, casada com Maximiliano do México. Ornamentava o palácio de Miramare, decorado ao gosto do casal que passou para o estado italiano no final da I Guerra Mundial. Através de uma troca de documentos foi autorizada a regressar à Áustria, onde nasceu Maria Antonieta.
Esta peça de um criador alemão é verdadeiramente europeia com Viena, Paris e Trieste no seu historial.
O tampo da mesa mostra vistas de Roma e ao centro a catedral de S. Pedro.
Estas duas mesas estavam no Palácio Belvedere, que foi remodelado ao gosto do sucessor do trono Francisco Fernando
Trabalhos riquissimos dos finais do século XVI. Estavam no castelo Franzenburg
Supostamente foram utilizadas mais de 80 diferentes qualidades de madeira
Cena de caça em Gödöllő
Cama da Sissi em Gödöllő
em Mayerling e postal de Mayerling
Podemos fazer uma viagem pelos filmes de Sissi realizados nos anos 50 e que tiveram grande sucesso com a atriz austriaca Romy Schneider, que representava a Imperatriz Elizabeth, chamada Sisi (só com um S). Como não podiam filmar dentro dos palácios, as cenas de interior eram feitas em estúdio com mobiliário original da época cedido pelo museu.
O armazém ainda fornece loiças e serviços de prata para banquetes de estado
Logo à entrada fiquei algo surpreendida por ver tantos cuspidores. Desde que Erasmo de Roterdão declarou que engolir a própria saliva era um hábito deplorável (apesar de no seu tempo os conterrâneos cuspirem para o chão) surgiram vários utensílios para onde as pessoas pudessem cuspir, sobretudo com o hábito de mastigar tabaco. Só a epidemia da gripe de 1918-20 acabou com esse hábito.
Gostei muito de visitar este museu muito bem organizado repleto de informações sobre as peças. A parte do século XXI foi vista a correr, pois já estava muito cansada.
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