Interessante a história deste livro escrito há 100 anos e publicado em 1922. Foi o último livro encomendado em Bucareste pelo meu marido. Era para me oferecer no Natal, mas não chegou a tempo (demorou cerca de três meses) e só o recebi em Bratislava, na semana passada. Depois de ele ter lido a biografia do Presidente Grant, achou curiosa a história da sua neta, que casou com um diplomata russo de origem romena, daí o nome Cantacuzino ou Cantacuzène, apelido aristocrático romeno. Depois da guerra russo-otomana de 1710-11, parte dessa família romena instalou-se na Rússia e recebeu o título de Príncipe.
Palácio Cantacuzino em Bucareste.
È um dos mais bonitos edificios da capital da Roménia. Hoje em dia é o museu de George Enesco ( 1881-1955), um compositor romeno.
O livro começa com as suas primeiras recordações de infância, quando o avô, o 18º presidente americano Ulysses S.Grant ( 1822-1885) era ainda vivo. Aliás, a autora nasceu na Casa Branca em 1876, onde também viviam os seus pais. Quando era adolescente, o pai foi nomeado Embaixador dos EUA na Áustria. A chegada da familia coincidiu com a época de luto pelo suicidio do filho do Imperador Francisco José e da Imperatriz Sissi.
Divertida a descrição da vida social na corte e meio diplomático em Viena, com a maioria dos Embaixadores oriundos de famílias aristocráticas. A aparição de Sissi numa festa, o que não era muito comum, confirmou a sua beleza e graciosidade, apesar de já ter cerca de sessenta anos. Ao dirigir-se ao seu pai referiu-se com agrado às memórias do ex-presidente, que tinha lido e mencionou que desejava vender a sua propriedade Achilleion, na ilha de Corfu e que teria muito gosto que fosse a um dos seus compatriotas americanos.
Gostei da descrição da visita ao Castelo Hollenegg, pertença da família Liechtenstein, desde o século XII. Ao passar por uma sala forrada com seda nas paredes e ao mostrar o seu fascínio pela sua beleza o "velho príncipe afirmou: sim, é bonita. Fico contente por gostar, mas é muito antiga- o meu antepassado recebeu-a como presente numa missão especial a Luís XIV e tem estado aqui desde essa altura". Curiosa como sou, fui investigar o tal castelo e soube que a atual proprietária é uma amante de design e convida alguns artistas para ficarem como residentes no castelo para "sentirem o ambiente" e apresentarem os seus projetos, sob um tema que muda anualmente. Vi alguns trabalhos (online) e é caso para dizer que os antepassados devem estar a dar a volta no túmulo.
A festa de debutante de Julia Grant aconteceu na corte da Áustria, no palácio de Hofburg e a preparação para o grande baile, com pormenores dos vestidos da famosa casa Drecoll, indica como deve ter sido um conto de fadas para aquela menina de dezasseis anos.
Segundo a autora, os bailes mais famosos, excluindo os da corte, eram na Embaixada de França, que ficava no palácio Lobkowitz (Beethoven fora um convidado habitual desse palácio, pois o Conde Lobkovitz foi seu patrono. A 3ª sinfonia Eroica foi ali estreada com o próprio compositor como maestro. Hoje em dia, o palácio é propriedade do estado e é um museu).
Outros palácios fantásticos mencionados: um dos mais antigos é o da família Harrach (em 1975 foi vendido ao municipio de Viena); o Palácio Cumberland (no distrito residencial de Penzing foi mandado construir pelo português Manuel Teles da Silva Meneses e Castro, da família dos Condes de Tarouca).
Menciona um tal O´Neill, que apesar do nome irlandês era o Encarregado de Negócios de Portugal (nome dado ao substituto do Embaixador), que lhe oferecia bonitos ramos de violetas. Isto vem comprovar a ironia do meu marido, que se encontra sempre um português no meio das histórias do passado.
O encanto da sua vida faustosa em Viena vai transformar-se com o regresso aos Estados Unidos com os pais, mas em 1898 surgiu a oportunidade de viajar na companhia da tia pela Europa e conheceu o príncipe russo Cantacuzino. O casamento foi em Newport (RI, EUA) pouco depois e, logo de seguida, parte para a sua nova casa na Rússia, onde nasceram os três filhos. Foi apresentada na corte no palácio Imperial Anitchkoff em São Petersburgo, a pedido da duquesa de Cumberland, que conhecera em Viena e era irmã da viúva Imperatriz-Mãe, Maria Feodorovna.
A biografia termina antes da I Guerra Mundial, mas já se sentia um "fervilhar" na sociedade russa. Consultando outras fontes, Julia Grant, princesa Cantacuzène fugiu da Rússia, durante a Revolução de 1917 e regressou à sua terra natal. Tentou obter apoio para uma contra-revolução, mas após o assassinato do Czar e família deixou o seu ativismo político. Em 1934, divorciou-se e adaptou-se a um estilo de vida não aristocrático, escrevendo artigos para jornais e a sua biografia. Morreu aos 99 anos, em Washington DC.
Tratou-se de uma descoberta interessante. Estive nos Estados Unidos cinco anos e três na Roménia, contudo nunca imaginaria tamanha coincidência: uma neta de um Presidente americano casar com um aristocrata russo com antepassados romenos. E como estou, atualmente, tão perto de Viena vivendo em Bratislava que naquela época era parte do Império Austro-Húngaro, fico ainda mais curiosa para visitar os locais mencionados. Por outro lado, o livro com as suas descrições algo ingénuas da vida social e diplomática mostra o tão celebrado encanto da belle époque, período que terminou de maneira abruta e trágica com a I Guerra Mundial, a qual provocou também uma mudança radical na vida da própria autora.
Gostei muito de ler esta biografia e do título escolhido. Se um dia escrevesse a minha biografia (em inglês) seria" This and That - Here and There". Que tal?
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