A Quinta e casa de Vila
Nova, em Santa Cruz
do Douro, couberam como herança a Emília de Castro, mulher de Eça de Queirós,
após o falecimento da sogra do escritor, em 1890.
Ficam na bela serra da
Aboreira, debruçada sobre o rio Douro, podendo dali admirar-se
uma linda vista dos montes e vales da região. Em 1892, Eça visitou a
propriedade pela primeira vez.
A visita ou a peregrinação
regional queirosiana devem começar pela estação de caminho-de-ferro de Caldas de
Aregos, hoje em dia denominada Tormes-Aregos.
A estação em dezembro 2012
Eça de Queirós era ali esperado
pelo caseiro e começou a subir, a cavalo, o caminho íngreme da serra, que
conduzia à quinta.
Quando lá chegou, ficou desiludido com a moradia. Estava
abandonada e era usada como celeiro.
Escreveu então à mulher, a qual estava em
Paris onde Eça era cônsul:
“Enquanto a casa é feia, muito feia; e à fachada
mesmo pode-se aplicar, sem injustiça, a designação de hedionda.
Tem um arco enorme; e por baixo dele, duas escadas paralelas, que são de um mau gosto incomparável" (Matos, 14)
Jardim da casa em agosto 2011
Ao chegar, esfomeado, foi-lhe
servido arroz de favas com frango alourado, provavelmente na mesa retangular,
que pode ser apreciada no vestíbulo da entrada.
Aliás, era bem escasso o
mobiliário:
um arcaz de sacristia,
uma cadeira de couro de espaldar alto,
conhecida por “cadeira de Jacinto”, também colocadas, hoje em dia, no átrio da
porta principal.
Existe ainda dos tempos dessa primeira visita de Eça de
Queiroz uma mesa redonda de abas na sala-biblioteca.
Em 1898, Eça visitou novamente
a propriedade, cujo estado de conservação era o mesmo e convenceu-se da sua
inabitabilidade. Dormiu no único quarto com vidraças, hoje a sala da Cabaia de
Mandarim, oferta do conde de Arnoso.
A casa de Tormes, nome
literário do solar de Jacinto no romance “A Cidade e as Serras” acabou por
nunca ser utilizada para passar férias com a família (Eça morreu em Paris em 16
de agosto de 1900), mas abriga parte do mobiliário da sua residência de Paris:
a secretária onde escrevia de pé, a cama, a mobília da casa de jantar e muitos
objetos de uso pessoal.
Eça utilizava as namoradeiras para escrever
Fogão na cozinha
Podem ainda admirar-se quadros fantásticos como
“Aurora”, oferecido pelo próprio pintor Carlos Reis (1863-1940) ao escritor, em
1892, “Mulher da Rega” da autoria da rainha D. Amélia, “Monte Alentejano” do
próprio Rei D. Carlos e o retrato do seu avô paterno, de autor desconhecido.
Retrato do avô de Eça
Além da paisagem
deslumbrante que se alcança da propriedade, a visita guiada à Fundação Eça de
Queiroz na Casa de Vila Nova, permite um percurso próximo e nostálgico com a
figura e a memória de um dos maiores e mais lidos escritores portugueses.
Referências:
Matos, A. Campos. A Casa de Tormes. Livros Horizonte, 2006