Percorremos as ruas de uma Lisboa cheia de vento e de luz, sem racionamento nem cortes de eletricidade, com flores, azulejos e lugares de fruta e hortaliça frescas. Sem lotes de terreno repletos de escombros nem mendigos esfarrapados, sem marcas de obuses, sem braços ao alto nem jogos e flechas* pintados a pincel nos muros. Percorremos as zonas nobres e elegantes com largos passeios e edifícios senhoriais vigiados por estátuas de reis e navegadores; transitámos também por zonas populares com tortuosas ruelas cheias de agitação, gerânios e sardinhas. Surpreendeu-me a majestosidade do Tejo, o ulular das sirenes do porto e o guinchar dos elétricos. Lisboa fascinou-me, uma cidade nem em paz nem em guerra: nervosa, agitada, palpitante.
In o tempo entre costuras, pag. 485
*Símbolo da Falange espanhola e, por extensão do fascismo franquista (N.do T.)
É desta maneira que é descrita Lisboa no romance histórico O tempo entre costuras de María Dueñas, uma escritora espanhola. Em 2009, publicou esta obra, que se tornou um verdadeiro fenómeno, cativando os leitores e a crítica. Em Espanha vendeu mais de um milhão de cópias, foi traduzido em 25 línguas e, em 2013, foi adaptado para uma série de televisão.
A autora é doutorada em Filologia Inglesa e professora titular na universidade de Murcia, atualmente em licença. Depois do sucesso editorial desta obra já escreveu mais dois livros, o último La Templanza em 2015.
Este livro foi-me oferecido no Natal passado e depois de começar a lê-lo, não pude parar, pois a historia é empolgante. Como romance histórico tem algumas personagens reais, do tempo do franquismo e da Segunda Guerra Mundial. A protagonista e narradora é Sira Quiroga, uma costureira de família humilde, que se vê obrigada a trocar Madrid por Marrocos, onde cria um ateliê de alta-costura, frequentado por estrangeiras britânicas e alemães da alta sociedade local. É no ambiente de guerra que Sira, agora com passaporte marroquino, se vê envolvida como espia em Lisboa e novamente em Madrid…uma leitura muito agradável, que transporta o leitor de uma Espanha nas vésperas da guerra civil (1936-1939) às incertezas vividas durante grande parte da II Guerra Mundial.
I realised how updated a text I used for my 9th graders was:
"In the quest for better health, many people turn to doctors, self-help books or herbal supplements. But they overlook a powerful weapon that could help them fight illness and depression, speed recovery, slow aging and prolong life: their friends.
Researchers are only now starting to pay attention to the importance of friendship and social networks in overall health. A 10-year Australian study found that older people with a large circle of friends were 22 percent less likely to die during the study period than those with fewer friends.
While many friendship studies focus on the intense relationships of women, some research shows that men can benefit, too.
Exactly why friendship has such a big effect isn’t entirely clear. People with strong friendships are less likely than others to get colds, perhaps because they have lower stress levels. It may be that people with strong social ties also have better access to health services and care.
While friends can run errands and pick up medicine for a sick person, the benefits go well beyond physical assistance; indeed, proximity does not seem to be a factor. Friendship clearly has a profound psychological effect."
Joaquim Pedro Quintela-miniatura de Julien-Paul Delorme (1823)
Joaquim Pedro Quintela (1801-1869) era um aristocrata português. Teve uma vida muita intensa, com grande atividade social, nomeadamente no campo das artes. Foi um milionário, herdeiro da grande fortuna do seu pai, o 1º Barão de Quintela, o qual fora diretor e um dos financiadores do Teatro Nacional de S. Carlos, inaugurado em 1793.
O barão e a baronesa de Quintela com os filhos. Pintura de Pellegrini
Em criança, Joaquim Pedro Quintela, divertia-se a assistir aos ensaios das obras, que passavam naquela sala de espetáculos, a mais importante na época.
A educação musical teve muita importância na formação do 2º Barão de Quintela e 1º Conde de Farrobo. Estudou vários instrumentos e aperfeiçoou-se como intérprete de trompa. Tinha uma cultura vasta, lendo muito. Aliás, na sua biblioteca encontravam-se os grandes autores da época tanto nacionais como estrangeiros.
Joaquim Pedro Quintela. Pintura de Domingos de Sequeira
A sua vida caracterizou-se, por um lado, pela riqueza e faustos ligados aos negócios de grande capitalista, como o contrato do tabaco, uma das bases da sua fortuna e, por outro, pelo amor às artes (música e pintura) de que se revelou um grande mecenas. Talvez o mais importante em Portugal, na primeira metade do século XIX.
Domingos Bomtempo
A música guiava os seus passos- foi sócio fundador e financiador da Assembleia Filarmónica, composta por amadores e presidida pelo compositor João Domingos Bomtempo ( este foi o principal impulsionador da fundação do Conservatório Nacional e o músico português mais relevante na mesma época). Além do gosto pelas artes, interessou-se pelo progresso técnico do país e através das suas atividades empresariais investiu na sua modernização, contribuindo para a fundação da primeira companhia de gás (o seu Palácio das Laranjeiras, em Lisboa, terá sido a primeira casa a ter iluminação a gás) e para o desenvolvimento dos caminhos-de-ferro.
Assim, Joaquim Pedro Quintela, 2.º Barão de Quintela , tornou-se uma das maiores figuras lendárias do século XIX em Portugal.
Palácio Quintela (R. do Alecrim)
Em Novembro de1807, com quase seis anos, assistiu à entrada das tropas napoleónicas em Lisboa, um dia depois da Família Real ter embarcado para o Brasil. E viu a casa que habitava na capital ser ocupada pelo General Junot, comandante do exército francês e representante de Napoleão Bonaparte. Junot perguntara qual a casa mais luxuosa de Lisboa, e disseram-lhe ser o Palácio do Barão de Quintela, situada na Rua do Alecrim. Ali instalou-se aquele francês, durante o tempo que as tropas francesas permaneceram em território português, 1807/1808, durante a primeira invasão francesa de Portugal.
Mariana Carlota Lodi. Pintura de Augusto Roquemont
Em 1819, casa com Mariana Carlota Lodi com a bênção do rei D. João VI na Capela do seu Palácio das Laranjeiras.
Joaquim Pedro Quintela destacou-se também pelo seu apoio a D. Pedro IV, durante o conflito entre liberais e absolutistas. O Rei recompensou-o com o título de Conde de Farrobo (1833) após a vitória liberal, em reconhecimento pela forma como apoiara, sobretudo financeiramente, a causa liberal na guerra civil contra os absolutistas de D. Miguel.
O seu gosto pelas artes e vida alegre e faustosa, motivou muitas encomendas a artistas da época, não só de pintura, mas também peças musicais para serem tocadas no seu Palácio das Laranjeiras. Quase sempre o Conde de Farrobo participava no elenco, principalmente enquanto músico. Dessa maneira, contribuía para dinamizar criadores e os atores da sua época, muitos dos quais tocavam no Teatro S. Carlos e nos seus palácios. "As festas organizadas pelo riquíssimo conde de Farrobo no seu palácio das Laranjeiras, que incluía um teatro privativo com capacidade para 600 espectadores, tornaram-se memoráveis. Sobressaiu entre todas a que decorreu a 23 de fevereiro de 1843, em honra da rainha, do rei..., na qual o anfitrião gastou 60 contos, uma despesa estapafúrdia" (Lopes. Maria Antónia. D. Fernando II. Um Rei Avesso à Politica. Temas e Debates. 2016. pg 206).
Palácio das Laranjeiras (2012)
Teatro Thalia
O Teatro que o Conde de Farrobo instalou junto do Palácio das Laranjeiras, o Teatro Thalia, inaugurado em 1825 (destruído, em 9 de setembro de 1862 num incêndio, foi reconstruído e restaurado em 2012, segundo um projeto do Gabinete de Arquitetura de Gonçalo Byrne e Barbas Lopes, o qual manteve as reminiscências do projeto inicial, designadamente a fachada formidável, devidamente restaurada) serviu para o Conde de Farrobo mostrar teatro e ópera aos seus amigos e organizar festas extravagantes.
Palácio Farrobo em Vila Franca Xira (em ruínas)
No Palácio de Vila Franca de Xira, que funcionava como uma espécie de retiro de lazer, o conde produzia vinho na sua propriedade, organizava caçadas e também grandiosas festas, convidando a nobreza e a alta burguesia lisboetas.
Conta-se que até tentou formar uma orquestra com todos os seus empregados obrigados a aprender um instrumento. As marcas que estas festas deixaram, pela sua grandeza e criatividade dão início ao termo farrobodó, nos anos trinta do século XIX. Como se depreende facilmente, a palavra deriva de Farrobo. As suas qualidades artísticas e a sua imensa fortuna celebrizaram as suas festas, que ficaram na memória da vida lisboeta. Todavia, nos últimos anos da sua vida, sofreu um fortíssimo abalo financeiro e grandes e pequenos credores caíram-lhe em cima.
Hoje em dia, o Palácio da sua quinta de Vila Franca de Xira encontra-se completamente em ruinas (ver o ilustrativo blog em ruin arte), o Palácio das Laranjeiras pertence ao Estado Português e no Palácio Quintela, na Rua do Alecrim, 70 agora chamado Palácio Chiado as salas centenárias acolhem, desde 2016, alternativas de restauração e entretenimento.
É uma pena ver um homem, que tanto fez pela cultura portuguesa, ver o seu nome pouco reconhecido e, principalmente, ver o Palácio de Vila Franca de Xira, que possuía um teatro S. Carlos em miniatura, em ruinas (propriedade da Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca de Xira). Não será que um grande empresário português poderia restaurar e tornar rentável aquele espaço?
A vida e obra de Joaquim Pedro Quintela, 2º conde de Quintela e 1º conde de Farrobo estão relatadas em pelo menos dois livros: O Conde de Farrobo, de Eduardo de Noronha (1945), e O Milionário de Lisboa, de José Norton (2009).
Na terceira segunda-feira do mês de fevereiro comemora-se o dia dos presidentes nos EUA.
O Presidente Obama acaba o seu segundo mandato este ano e em novembro haverá eleições para o novo presidente da república, o qual tomará posse em janeiro de 2017. No entanto já começaram as eleições primárias nos dois partidos mais importantes, o republicano e o democrata, para a seleção dos seus representantes. Espero que Hillary Clinton não só ganhe a nomeação democrata, como se torne a primeira mulher presidente nos EUA. Depois de um negro ter ocupado aquele cargo, o que se julgava impossível, está agora na vez de ser uma mulher.
Uma pequena história do presidente Harry Truman.
O presidente Harry Truman e o actor Humphrey Bogart fizeram uma aposta sobre se seria menino ou menina o filho do ator e Lauren Bacall. Como Humphrey Bogart perdeu a aposta enviou o cheque ao presidente. Este devolveu-o pedindo ao pai da criança que investisse em obrigações, reconhecendo porém a elegância do gesto de Bogart em ter cumprido a palavra. Esta história está na página de facebook do filho de Bogart, Stephen.
A autobiografia de Agatha Christie(1981-1976) começou a ser escrita quando a escritora tinha 60 anos. Levou 15 anos a escrevê-la e ainda viveu dez anos, antes que fosse publicada, um ano após a sua morte, em 1977. Em Portugal a edição desta obra é só de 2011.
O livro, com 694 páginas, é muito interessante. A escritora, que viveu quase o mesmo tempo que a minha avó Maria (1892-1975), teve uma vida cheia de oportunidades únicas, que resolveu aproveitar até a data que terminou a sua autobiografia.
Agatha Christie fala-nos sobre a sua infância feliz, no final do século XIX, as suas viagens a França para aprender francês, o ensino da música e canto, pelos quais era muito entusiasta, as duas guerras mundiais, das quais dá o seu testemunho, os seus dois casamentos e as viagens efectuadas com ambos os maridos, cheias de aventuras.
Em Paris com 16 anos
A autobiografia revela a sua face mais extravagante e uma imaginação prodigiosa, que começou na adolescência com as histórias, consequência das que a mãe lhe contava e dos seus amigos imaginários.
Confesso que conhecia alguma das obras de Agatha Christie, mas não imaginava uma vida tão interessante. Logo no prólogo Agatha Christie afirma: "autobiografia é uma palavra demasiado grandiosa. Sugere um estudo premeditado da vida inteira de uma pessoa. Implica nomes, datas e locais em perfeita ordem cronológica. O que eu quero fazer é mergulhar a mão num caixote de brindes e tirar um punhado de memórias sortidas".
Na verdade, um dos poucos episódios que conhecia da sua vida e cheguei a utilizá-lo como base para um teste, quando era professora, não é relatado na sua autobiografia, apesar de se referir que a exposição aos media lhe causava grande incómodo e conta que, às vezes, tinha lapsos de memória:
"Agatha Christie (1891-1976) is one of the world´s best-known and best-loved authors. Her famous detectives, Hercule Poirot and Miss Marple, and her brilliantly constructed plots have caught the imagination of generations of readers. Although she lived to an old age and wrote many books, she didn´t reveal much about her personal life.
In December 1926 an incident occurred, which would have made a captivating detective story in itself. At the time of the success with her first novel, she disappeared for ten days. She was extremely distressed because she had found out that her husband was having an affair with another woman and wanted a divorce. She was sleeping badly, she couldn´t write and she was eating very little.
On Friday 3rd December, Agatha told her secretary and companion, Carlo (Miss Charlotte Fisher) that she wanted a day alone. When Carlo returned in the evening, she found that the garage doors were open and the maids were looking frightened. According to them, Mrs Christie went downstairs at about eleven in the evening, got her car keys and drove without saying anything to anybody.
Next morning the police found Agatha´s car in a ditch with its lights on. There was no trace of Agatha.
The mystery ended ten days later when Agatha was found alive and well in Harrogate, a health spa in Yorkshire. Her husband explained to the waiting reporters that she had lost her memory. But to this day, nobody really knows what happened during those missing ten days."
A autobiografia de Agatha Christie foi uma prenda de natal, de uma amiga especial, que tem o dom de dar presentes muito personalizados. Ao ler a obra, pensou logo que teria de ser a minha prenda de natal e acertou em cheio. Obrigada, G.
Em Lisboa, já tenho uma razoável colecção de biografias (gosto muito deste género literário, pois aprende-se muito sobre a época, além de se ficar a conhecer a vida de indivíduos notáveis) de mulheres que foram muito especiais, cada uma à sua maneira. Ainda a semana passada recordei Katharine Graham. Pessoas que não passaram só pela vida, VIVERAM..
Hoje no mercado de Chacao encontrei este produto, de aspeto semelhante à batata. Chama-se ariá, em português, pois cultiva-se no Brasil, na Amazónia, pelas populações indígenas. Em espanhol chama-se lairén e em inglês Guinea arrowroot.
É um tubérculo pequeno, cultivado nas Caraíbas e América do Sul, antes da chegada dos primeiros europeus. O seu nome botânico é Calathea allouia. Cresce silvestre ou em cultivo planificado, mas demora entre oito a 12 meses para poder ser colhido. Esta larga espera, faz com que seja um produto escasso pois os agricultores preferem ocupar o solo com cultivos mais rápidos e rentáveis. Tem um alto valor em proteínas, superior às batatas.
Quando as lojas gourmet o descobrirem, o seu preço irá subir muito...
Depois de regressar esta foi a primeira festa nacional que fui.
A única nota interessante foi, à saída, o cumprimento efusivo de um funcionário diplomático iraniano ao meu marido, dizendo que adorava Saramago cujas obras estão traduzidas em farsi. O Ensaio sobre a Cegueira vai na 20ª edição naquele país. Curiosa, logo que cheguei a casa vim confirmar e deparei-me com esta foto do próprio autor, com uma das suas obras.