A minha mãe falava com muita simpatia das papas instantâneas como o Cerelac ou o Nestum, para as quais apenas se juntava leite ou água. Explicava como dava mais trabalho antigamente esmagar as bolachas e bananas para fazer uma refeição infantil e como a vida estava mais simplificada na infância dos seus netos… Hoje em dia tudo isso está banido, pois consideram os especialistas que o açúcar nesses alimentos é causador de grandes males no futuro, além da obesidade...
Os cereais do pequeno-almoço da minha neta são assim uma mistura de três variedades, pesadas a rigor, às quais se junta água. Vão ao lume lento com uma fruta descascada e depois são triturados na varinha mágica, antes de ser dado à bebé.
Esta semana encontrei no frigorífico da minha filha uma carne, que parecia frango, mas com umas grandes pernas. Era frango do campo, encomendado. A carne, os legumes e os iogurtes, são na sua maioria de origem orgânica. Já percebi que o que interessa é que sejam provenientes de um ambiente feliz (os animais não devem ser encurralados e devem ter toda a pastagem para si, para lazer e alimentação). Ontem, ao cortar o feijão-verde e os floretes da couve-flor para a sopa, até pareciam que estes estavam a sorrir para mim…
Quando triturei o dito frango para meter na sopa, achei que era rijo. Talvez um frango musculado com tanta liberdade…
Lembrei-me de como era saborosa a carne de frango nos EUA, com todas aquelas injecções…já vinha tratada de qualquer maleita… Para fazer salada de frango abria-se a embalagem das alfaces e a do frango muito bem temperado e estava pronta. Nunca vi à venda cá esses pacotes de peito de frango já cozinhado.
O peixe tem que ser fresco e é comprado na praça de Algés e como a minha neta é tão risonha a peixeira até lhe ofereceu um mini linguado, quando compramos uma dourada a semana passada.
Fez-me lembrar a minha filha, que aos dois anos foi viver para a Turquia e quando passava pela florista perto de casa ofereciam-lhe sempre uma flor.
A minha neta, felizmente, come de tudo muito bem e somos nós que lhe damos a comida com a colher. Sei que há a tendência, hoje em dia, em alguns pais para deixar as crianças provar a comida com as mãos, para sentirem a textura dos alimentos… outra modernice…
O que diria a tia-avó do meu marido, que ao falar da sua infância mencionava sempre a Fraulein? A primeira vez que a ouvi falar dela e mais tarde das criadas perguntei se não tinha mãe. É porque eu tive uma infância muito feliz. Fiquei em casa com a mãe e a avó, até ir para a primária. Fazia comida para as bonecas, como na
minha história predilecta, com terra do jardim e ervas… muita liberdade… como os frangos do campo …
Mas já sei onde ir buscar a carne para a minha neta se ela regressar à Roménia…
Em Viscri, os animais passeiam pelo centro histórico da aldeia e até pensam cortar o trânsito para o poderem fazer em total liberdade. Haverá animais mais felizes do que estes?