Nelson Rolihlahla Mandela nasceu na aldeia de Mvezo, na região do Transkei, em 18 de julho de 1918. Rolihlahla era o nome próprio de Mandela, que significava em zulu “aquele que ergue o ramo de uma árvore”, embora para os colonos significasse “agitador”. É costume chamarem-lhe Madiba, o seu nome de clã, que significa “grande respeito”.
Em 1925, ingressou na escola metodista de Qunu, onde teve uma educação, na qual o pensamento, a cultura e as instituições britânicas eram considerados superiores. Aqui, recebeu o nome de Nelson, em homenagem ao Almirante inglês, herói da guerra napoleónica (naquela época, era costume as crianças receberem nomes ingleses).
Em 1927, morreu o seu pai e o jovem Mandela ficou aos cuidados do regente do povo Thembu. Frequentou o internato Clarkebury Boarding Institute, exclusivo para a elite negra.
Em 1939, inscreveu-se na Universidade de Fort Hare, então o único estabelecimento de ensino superior para os africanos na África do Sul. Foi eleito para a Comissão de Estudantes. Ao protestar contra a falta de qualidade das cantinas teve de enfrentar a direção da universidade, que lhe deu a escolher dois caminhos: desistir ou ser expulso. Mandela fugiu para Joanesburgo. Tinha 23 anos.
Em 1942, formou-se como advogado e adquiriu a reputação de excelente orador e de astuto estratega, o que lhe fazia merecer o respeito da parte de juízes e dos outros colegas. No final de 1952, abriu um gabinete de advocacia com Oliver Tambo, a primeira sociedade de advogados negros na África do Sul. Em 1944, ano do seu primeiro casamento com Evelyn Mase e com a qual teve 4 filhos, Mandela entrou na política ativa e fundara a Liga da Juventude do ANC (African National Congress).
Distinguiu-se como jornalista político, escrevendo para a revista intelectual de esquerda “Liberation- A journal of democratic discussion", revelando tendências marxistas. Apesar da vida e obra de
Mahatma Gandhi (1869-1948) na África do Sul e as suas formas de resistência pacífica terem suscitado debates internos no ANC, Nelson Mandela, após a intensificação de legislação do apartheid em 1948, optou pela utilização da força contra o governo e fundou, em 1961, o movimento Umkhonto we Siswe ( Lança do Povo), o braço armado do ANC.
Em 31 de maio de 1961, foi proclamada a independência da África do Sul e o domínio britânico formalmente abolido.
Mandela fala fluentemente afrikaans, uma variante do neerlandês, um idioma que os colonos, sobretudo originários dos atuais Países Baixos desenvolveram ao longo dos tempos, em contacto com as comunidades da região. Para os brancos era uma prova de emancipação nacionalista contra os ingleses, mas para a população negra tornou-se na língua “oficial” do apartheid.
Após um período de prisões e vida na clandestinidade, Mandela ainda conseguiu ter uma vida familiar com a sua nova mulher, Winnie Madikizela, com quem se tinha casado em 1958 e com a qual teve duas filhas.
Em 12 de junho de 1964, foi julgado no chamado Processo de Rivonia ( um subúrbio a norte de Joanesburgo) e condenado a prisão perpétua em Robben Island ( assim chamada devido às inúmeras focas- robben em holandês- que faziam daquela ilha o seu habitat). Foi acusado de recrutar elementos para receberem treino de combate de guerrilha, preparação e uso de materiais explosivos, assim como de pedir e receber fundos estrangeiros para alcançar esses objetivos e ainda de promoção do comunismo. (Hagemann 71)
Nos primeiros anos de cativeiro teve poucos privilégios: no espaço de seis meses só podia ter uma visita (limitada aos familiares diretos), escrever uma carta e receber outra. Com o passar do tempo conseguiu melhorias no seu estatuto. No entanto, em 1968, por ocasião da morte da mãe e, em 1969, quando um filho teve um acidente fatal, as autoridades prisionais e governamentais sul-africanas recusaram-lhe as autorizações para assistir aos funerais.
Com a eleição do presidente F. W. de Klerk, em 1989, criaram-se as condições para a libertação de Mandela, o que ocorreu em 11 de fevereiro de 1990, após 27 anos de prisão. O ANC foi legalizado e as leis do apartheid foram revogadas. Em 1993, o presidente Klerk e Nelson Mandela receberam, em conjunto, o prémio Nobel da Paz.
“ As I finally walked through those gates to enter a car on the other side, I felt-even at the age of seventy-one-that my life was beginning anew.”
Nelson Mandela. Long Walk to Freedom. Back Bay Books. New York, 2008 page 772
Em 1994, Nelson Mandela tornou-se o primeiro presidente negro da África do Sul, após uma estrondosa vitória eleitoral do ANC, que se tem mantido no poder desde então. Mandela teve como principal objetivo da sua presidência, que durou cinco anos, a reconciliação nacional num período de transição do apartheid para um governo de democracia multicultural.
No contexto desse objectivo político fundamental e conciliador, tornou-se símbolo o seu apadrinhamento da seleção nacional sul-africana de râguebi, o desporto dos colonos brancos, cujo tema foi abordado no excelente filme de Clint Eastwood, Invictus, com Morgan Freeman no papel de Mandela.
Lembro-me que durante o seu mandato, o embaixador de Portugal em Pretória, Vasco Valente (1995 a 1997) ter sido considerado persona non grata, cujo significado literal é "pessoa não bem-vinda"- uma forma de "punir" membros do corpo diplomático acreditado em determinado país, o qual (naquele caso tratou-se da África do Sul) considera terem cometido infracções ou adotado comportamentos considerados inadequados. Em Portugal era presidente Jorge Sampaio, que não usou da prerrogativa de usar o mesmo direito de retaliar, como acontece na maioria dos casos conhecidos e tratados nos meios de informação. O assunto nunca ficou muito bem esclarecido.
Voltando a Nelson Mandela…
Em 1996, divorciou-se de Winnie e, dois anos mais tarde, casou-se com Graça Machel, a viúva do presidente moçambicano Samora Machel.
No Mundial de Futebol de 2010 na África do Sul, o capitão da selecção nacional portuguesa, Cristiano Ronaldo, visitou o presidente Mandela e ofereceu-lhe a camisola da equipa com o número 91, então a idade de Nelson Mandela.
Referência
Hagemann, A. Nelson Mandela. Expresso, 2011