A fábrica de cerâmica da Vista Alegre nasceu em 1824 por iniciativa de José Ferreira Pinto Basto (1774-1839) e assumiu desde o início uma estratégia inovadora de organização fabril.
José Ferreira Pinto Basto, oriundo de uma família de grandes empresários, foi construtor naval e armador de navios, que mantinham ligações com o Brasil, Índia e Macau. Teve o monopólio lucrativo dos tabacos e sabões. A sua vasta experiência nos negócios foi importante na implantação da primeira fábrica de porcelana em Portugal. O investimento e capital foi todo seu, não dependendo do patrocínio e vontade da coroa, como acontecia muitas vezes na época.
Participou ativamente nas convulsões politicas e militares, que conduziram ao triunfo da monarquia constitucional em Portugal (as duas primeiras décadas do século XIX foram marcadas pelas invasões francesas e pela prolongada estadia da família real no Brasil).
Grande prato com retrato do fundador da fábrica e dos seus descendentes (1974). Pintura de Armando Pimentel
Dois anos após a entrada em funcionamento, foi agraciada com o título Real Fábrica, um reconhecimento pelo seu sucesso industrial.
Retrato de D. Maria Pia e os seus filhos D. Carlos e D. Afonso ( 1878)
O primeiro museu data de 1947 e foi instalado no palácio, junto da capela. Em 1964 foi ampliado e aberto ao público, mudando para os edifícios antigos da fábrica. Estas instalações foram renovadas em 2001. Em 2016 o novo museu pretende mostrar a história da fábrica, a sua evolução estética e importância para a sociedade portuguesa dos séculos XIX e XX, através de um espólio que conta com mais de trinta mil peças.
O aglomerado fabril da Vista Alegre integra, para além da fábrica, casas construídas para os funcionários, um colégio, creche, teatro e infraestruturas desportivas. Fez-me lembrar a visita, que fiz o ano passado, a New Lanark, onde foram introduzidas as ideias de Robert Owen.
A capela de Nossa Senhora da Penha de França, situada no complexo industrial da Vista Alegre está classificada como monumento nacional.
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Fruteiro 1830-1846 |
Depois de uma primeira fase caracterizada pela produção de vidro e cristais, em 1832 saíram dos fornos as primeiras porcelanas.
Com origem na China, os segredos do fabrico da porcelana só foram descobertos na Europa em 1709.
A porcelana é uma louça fina feita de caulino e feldspato, que coze à temperatura de 1350ºC.
Este forno trabalhou até finais de 1980.
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Soldado de Infantaria de Peniche (1943) |
Até finais do século XIX a fábrica conheceu o seu período áureo, destacando-se a introdução de decorações a ouro, a participação em exposições internacionais e o contributo do desenhador francês Victor C. Rousseau, importante sobretudo para a criação de uma escola de pintura ainda hoje famosa.
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Serviço de mesa Fronteireira. Raul Lino, 1924 |
A louça de porcelana brasonada constitui até aos dias de hoje uma marca pessoal, sinónimo de distinção. Foram os portugueses que primeiro associaram a nobreza da porcelana aos símbolos de linhagem de família. Assim, a VA elaborou serviços de mesa de aparato para a alta sociedade nacional e internacional.
A técnica da litofania (imagem gravada em porcelana translúcida) foi introduzida em Portugal pela Vista Alegre entre 1860 e 1869. Foi uma novidade na época da invenção da fotografia.
Todas as minhas amigas sabem desta minha paixão por porcelana e da marca Vista Alegre, de grande prestigio internacional.
Finalmente no dia 14 de setembro tive oportunidade de ir a Ílhavo visitar o museu, que recomendo.